Diretor e Criação, duas palavras que se conjugam com dificuldade

Assim como o melhor dos jogadores não dá um bom técnico, o melhor dos técnicos nem sempre cria o melhor dos dirigentes. No entanto, embora a afirmação futebolística pareça óbvia, a constatação é menos evidente em outras paragens.

A ordem natural das coisas nas agências de propaganda é virar diretor, mas a natureza do negócio é cheia de caprichos.

Galgar as escadarias do Olimpo publicitário contraria o senso comum: ser bom tecnicamente (mesmo que a técnica seja a criatividade) é pouco ou nada.

As agências, mesmo as que se orgulham de um processo artesanal ou aquelas que se outorgam excelência gerencial, são organismos capitalistas primitivos. Ainda parece fazer sentido promover o bom criativo a diretor de criação e qualquer bom operário a chefe.

O sentido dessa lógica ainda está baseada na presunção de julgamento: quem é bom naquilo que faz (ou fez), deve saber julgar adequadamente o que os outros fazem. O bom diretor sabe separar o que presta do que não presta.

Certo? Errado porque é esquecer das duas principais molas motivadoras do negócio publicitário: o frescor e a vaidade.

Quanto mais se sobe na hierarquia, mais distante se fica da prática. Em um negócio tão dinâmico, tão suscetível a tendências, tão superficialmente maleável, a falta de prática enferruja e caduca o mais brilhante dos cérebros.

Por outro lado, a vaidade é um energético quando se pratica mas um purgante quando se julga. É um tour de force psicológico conseguir avaliar com generosidade quando já se esteve no lugar do avaliado. É uma violência para a autoestima depois de anos de elogios e louros acumulados.

Pois o bom diretor não é necessariamente o melhor dos técnicos. Precisa de outras qualidade que não foram necessariamente treinadas e aprendidas.

Dirigir significa treinar e incentivar, antes de julgar.

É estimular a colaboração e inspirar antes de sentar na cadeira de Salomão.

É principalmente lutar contra a tentação de transformar em seu aquilo que é do outro.

6 thoughts on “Diretor e Criação, duas palavras que se conjugam com dificuldade

  1. Pingback: DIREÇÃO : AMO
  2. rsrs… realmente, avaliar o trabalho alheio é complicado, (claro, se quiser fazer uma avaliação minimamente lúcida) pois são tantas variáveis dentro do processo que qualquer sugestão pode ser superficial.

  3. Um programa de treinamento da própria agência para os futuros diretores de criação seria uma saída viável. Há várias empresas especializadas em treinar gestores. Com um treinamento adaptado ao mundo criativo-publicitário, vejo benefícios para todos os envolvidos.

  4. Concordo plenamente.
    Criticar e apontar os defeitos e falhas alheias é muito fácil…
    Difícil mesmo é saber instigar bons resultados, desenvolver novas técnicas e aprimorar o conhecimento da equipe!
    Um programa de treinamento para criativos realmente seria de extrema valia…

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