Ócio e ofício

Esse post gostaria de ser um rascunho de auto-ajuda mas corre o risco de ser um alívio na consciência. Afinal, quais são as dicas objetivas que se pode dar a um iniciante na carreira de publicitário? Não falo daquelas filosóficas, retóricas qual sabedoria de biscoito da sorte. Aí vai.

Estudos

Diploma é um pedaço de papel num canudo. Faculdade é onde se toma cerveja e se faz amigos. Professor é referência teórica. Livro é estudo paleontológico.

Mas assim mesmo, tem que fazer. E uma boa. A melhor de preferência. Dure o que durar para entrar. Escolha a mais difícil que muito provavelmente será a mais barata. Na pior das hipóteses, você não sairá achando que te extorquiram. Na melhor das hipóteses, você vai saber o que dizer para quem vai te empregar como estagiário. E na média, você vai estar ocupado.

Se sua escolha não for essa, então trate de gostar de alguma coisa por conta própria e investir-se nela. Serve qualquer coisa mas tire dessa curtição algo original, que só você reparou.

Estágio

É lá que você vai aprender e padecer de verdade. Onde há luz, há sombra, já dizia o mestre. Um dia de estágio vale mais do que um ano de faculdade. Um ano de estágio vale mais do que toda a grana que você gastou pagando os estudos. Dois anos de estágio vale mais do que todas as garotas ou garotos que você pegou na faculdade.

Mas é difícil, muito, encontrar um bom lugar. Você vai ser desprezado, vai mandar currículo como uma metralhadora, vai esperar na recepção horas, vai ser entrevistado por um cara sem paciência, que olha mais para o celular do que para a camisa que você demorou horas para escolher.

Mas insista e uma hora você engrena. Alguém vai curtir sua timidez, sua frase de efeito, seu sorriso, seu performance atlética no Angry Bird, seu comentário envergonhado e sensível sobre o filme que você viu, o livro que você leu ou a campanha que te despertou.

Cursos, viagens, palestras, prêmios

O extracurricular funciona para mobiliar seu tempo ocioso, porque no fundo, só sofrendo a gente aprende. É ralando que a gente acaba gostando.

Fazer curso da última modernidade é investimento de alto risco mas comprar tênis ou bolsa nova, ainda mais.

Ir a palestras de gurus ou profissionais ajuda a ficar focado. E também te faz relaxar um pouco. É também ali que você pode azarar como no tempo da faculdade, uma garota, um garoto ou seu próximo empregador.

Finalmente, se arriscar em premiações – mesmo aquelas para dente de leite – ensina a saber perder. Faz também você desenvolver um ódio muito estimulante pelos babacas que te julgaram, os regulamentos estúpidos e as panelinhas que você não frequenta.

Dica final

Importa menos o que você vai decidir fazer do que a perseverança em fazê-lo. Importa menos a escolha e mais a disciplina. Importa mais a vontade e menos o talento. Importa menos a grana e mais o prazer, que aliás só vem com perseverança, disciplina e vontade.

2 thoughts on “Ócio e ofício

  1. Bem… com este texto coalhado de exorcismos esclarecedores e sugestões valiosas, tenho grandes identificações pessoais e enfáticas discordâncias profissionais (sim, eu sou pretensioso assim…). Mas tão sincero e sentido é o texto que vou me ater a comentar só uma coisa: vontade e talento importam, no mínimo, na mesma medida.

  2. Muito inspirada essa sua ajuda pra garotada hein Fernand?
    Me fez lembrar uma letra do Chico, ainda menino mas já tão maduro. Mais ou menos assim…
    Tem mais samba no encontro que na espera
    Mais samba a maldade que a ferida
    Mais samba no porto que na vela
    Mais samba o perdão que a despedida
    Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
    Tem mais samba no chão do que na lua
    Tem mais samba no homem que trabalha
    tem mais samba no som que vem da rua
    Tem mais samba no peito de quem chora
    Mais samba no pranto de quem vê
    Que o bom samba não tem lugar nem hora
    Coração de fora samba sem querer
    beijos

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