O país na bolha

A frustração é um sentimento que decorre da relação entre expectativa gerada e possibilidade de realização.

É como custo X benefício: para melhorar a relação, você pode reduzir o custo com o mesmo benefício, aumentar o benefício com o mesmo custo ou simultaneamente reduzir o custo e aumentar o benefício.

Para reduzir a frustração, você pode diminuir sua expectativa, aumentar a possibilidade de realização ou ambas as coisas.

Exemplificando.

No Brasil, vivemos numa bolha de expectativas eternas. Queremos andar de bicicleta nas cidades, consumir produtos orgânicos, ter uma vida mais sustentável. Queremos também consumir marcas internacionais e conhecer o mundo. Queremos probidade pública e transparência.

Mas no Brasil, as vias públicas são esburacadas, ainda temos gente que não come direito e estamos azulejando a Amazônia. Compramos Goyard em 20 prestações e nossos aeroportos são à imagem e semelhança do site da TAM. Nossa democracia eternamente em construção balança dialeticamente entre a prepotência de uma direita com veleidades sociais e uma esquerda populista regada à estímulos desenvolvimentistas ultrapassados.

Em suma, nossas expectativas são altas e nossas possibilidades de realização atravancadas.

Só existe um jeito de ser feliz e não sonhar com o impossível idílio de picar a mula: baixar as nossas expectativas. Ou pelo menos, calibrá-las às nossas – brasileiras – reais capacidades de realização.

Furar a bolha.

Graciliano Ramos foi um dos maiores escritores de sua época. Morreu mais pobre do que nasceu. Em sua única viagem internacional, foi à antiga União Soviética e aproveitou para conhecer algumas capitais europeias. Ficou maravilhado com tudo que viu mas disse que nada daquilo era para ele, que ainda preferia o Brasil, apesar do atraso, porque aqui tem calor em todas as declinações possíveis.

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