Contra a violência, só o desabafo?

Hoje no trânsito, um casal foi assaltado na entrada de um túnel. Tudo muito rápido, difícil de entender, impossível de ensaiar reação. A mão armada é poder para os covardes e impotência para as vítimas.

Mas choca e a gente quer contar, como uma catarse ou um gesto – covarde também – de contra-ataque. Conversa mais banal impossível. Todo mundo tem a sua própria história e geralmente pior. Então a gente baixa os braços, engole o choro e enfia a cena na gavetinha dos assuntos para conversas aleatórias.

Se fosse nos Estados Unidos, pessoas teriam sacado suas armas automáticas do porta-luvas em nome da “liberdade contra a tirania”. E a vítima teria ido chorar as mágoas no clube de tiro ou numa escola primária.

Se fosse no Pará, a gente mandava uns matadores atrás dos safados que roubaram a bolsa e o celular. E seriamos vingados sem consequência nenhuma.

Quando a justiça hierarquiza os crimes, se existem os “crimes comuns”, então, o crime pode ser banal, corriqueiro, natural.

No dia 3 de abril, começa o julgamento dos assassinos do José Claudio Ribeiro da Silva e da Maria do Espírito Santo Silva em Marabá, extrativistas defensores da floresta, mortos em 2011. Duas pessoas comuns, como são também comuns outras dez pessoas eliminadas em Rondônia em 2012.

Da violência contra pessoas comuns, a mídia faz como fiz, hoje de manhã, no trânsito: dá de ombros. O Papa vende mais. Para a justiça, também é comum. O mensalão dá mais fama para os juízes.

Enquanto isso, nós todos, brasileiros comuns, não passamos de vítimas silenciosas e conformadas do silêncio da mídia e da justiça.

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