Outro dia, criticaram dizendo que a propaganda, por ser um reflexo comercial da cultura popular, deveria empregar a língua falada e não “complicar” com construções e palavras “difíceis”. A propaganda, assim como outras formas de comunicação, não poderia referenciar-se na literatura mas sim na rua, na feira, na cadeia.
Tudo vale para justificar essa tese, a começar pelo maior dos lugares comuns: a língua é viva. Ou por detrás do argumento: o capricho do vernáculo é coisa de velho.
Mas parece um grande disfarce.
Por que só haveria vida na rua? Bibliotecas são cemitérios onde vagam espectros arrependidos?
Olho pela janela e vejo mortos se arrastando nas calçadas, zumbis com as costas arqueadas sob o peso da mediocridade. Mas Julien Sorel ou Diadorim ou a cachorra Baleia ou Ahab pulsam na memória. Imortais.
Se não somos mais um país de sub-letrados, permanecemos um povo de sub-literatos. A língua escrita assusta porque é desconhecida.
E lá vem o argumento: a propaganda tem que ser popular, portanto entendida pelo mais ignorante dos consumidores. Mas não é só por isso que a propaganda usa a língua do Faustão, da Veja, da presidenta. Também porque quem faz a propaganda é quase tão “sub” quanto a quem ela se dirige.
A distância entre língua falada e língua escrita só é enorme porque é enorme a ignorância.
“A distância entre língua falada e língua escrita só é enorme porque é enorme a ignorância.” http://t.co/Mz3uz3z9D7
Belíssimo! Apoiado! Se é pra propaganda ser como a vida, ela tem que contemplar os vários tipos de linguagem que existem na vida, do mais sofisticado ao mais simples (não confundir com primário). Também acho risível o camarada (ou a agência dele) achar que quem compra o produto em questão é um brucutu ignorante…
Fernand Alphen, por nocaute, no primeiro round.
Popular ou ignorante http://t.co/Xgk6eqWzu8