Milhares de americanos já morreram porque se enganaram lendo a receita do médico. Ao invés de mandar todos os médicos para um supletivo do Mobral, 45 estados americanos decidiram que o estudo da caligrafia será opcional nas escolas a partir do ano que vem. Opcional como o estudo do grego, a prática da esgrima, o tricô.
Seja por causa dos médicos preguiçosos, seja porque escrever à mão dá uma trabalheira danada, o fato é verídico.
Difícil julgar se a medida é boa ou ruim, mas a sensação de acentuada dependência de próteses tecnológicas aumenta ainda mais. Como se estivéssemos transferindo nossas fraquezas para soluções externas a nós, ao invés de procurar resolvê-las com o que temos. Como se estivéssemos paulatinamente atrofiando a suprema qualidade que tivemos, como animais em evolução, de, precisamente, evoluir. Como se a tecnologia fosse um remédio para o cansaço. Um entorpecente do drama da existência.
Não andamos mais, não caçamos mais, não colhemos mais, falamos cada vez menos e, em breve, não escrevermos mais.
Quem não experimentou o torpor físico depois de uma caminhada, o fôlego desatado de uma perseguição na floresta, o frio na barriga de trepar na árvore para catar jabuticaba, quem nunca rabiscou, rasurou, amassou, rasgou uma carta, duas cartas, três cartas de amor, mil cartas de amor comeu a vida e nem mastigou.
E, não tendo mastigado, engoliu sem sentir o sabor.
li o seu post e esse relato imediatamente veio à cabeça:
http://www.theverge.com/2013/5/1/4279674/im-still-here-back-online-after-a-year-without-the-internet
tem a ver meio que não tendo, enfim, é complementar.
Clarice
Clarice! Que legal saber que você me leu! Tem tudo a ver sim, aliás. esse assunto é mais importante do que o meu, sem dúvida!
eu sempre leio Fernand! beijos