Brief: primeiro era o verbo

Quando um escritor, um músico, um chefe de cozinha, inicia um trabalho, qual pulso o move a ultrapassar as fronteiras do fazer por obrigação, por dinheiro, por hábito?

Alguns dirão que toda e qualquer produção criativa transcendente é uma filosofal reação química, mágica, mística. O autor é emissário e tradutor de uma pulsão e conexão que sensibiliza uma religação. Religar religioso.

Mas para além da inefável mecha iniciadora, o que conduz a termo a mágica manifesta, a criação do poema, da canção, do regalo, da campanha publicitária?

É esse fio de Ariadne que poderíamos chamar de brief, no sentido bíblico da palavra. Brief é a quintessência da matéria, sua redução primal, explosiva e durável. Brief é portanto o que vem antes. O verbo.

Brief não é nem especulação nem tradução, muito menos o superficial e modorrento relato de um objetivo vulgar. Ao contrário, um brief deve insuflar e excitar, deve ser o derradeiro e único folego da jornada criativa.

Então um brief deve ter:

  • Uma missão clara e desafiadora. Quem e o que devemos desvendar, matar, capturar. Qual é a missão da empreitada?
  • Uma ambição que sintetize onde queremos chegar com a missão desempenhada a contento. Ambição é desenhar cenários.
  • Uma paixão, a alma do processo: qual fogo iremos insuflar no produto ou na obra final capaz de apaixonar muito além da razão.
  • Uma vontade que explicita a quantidade e qualidade do esforço que iremos dedicar à missão.
  • Um caminho original, que suscite curiosidade, um primeiro passo, uma isca, um canto de sereia.

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