Como é difícil e principalmente demorado dar a luz a qualquer realização humana digna.
Das singelas linhas de um cartão postal a uma correspondência formal, de um instantâneo que capta a essência de um olhar a um mural evocativo de fantasmagórica cena, de um castelo de areia a um de açúcar ou pedra, de uma canção monódica a uma construção polifônica, do mais singelo haiku às Mil e Uma Noites, de um título de oito palavras a uma saga cinematográfica de oito horas, a qualidade é dependente e tributária do tempo, da maturação, do descanso de que a obra precisa para exprimir-se e da indispensável contemplação do autor.
Mas este mundo atribulado e nosso sistema histérico transformam uma sensação abstrata – o tempo – em unidade real. Essa compressão, artificial, pasteurizada, matemática e enlatada sequestrou, em sua contagem opressora, o valor das coisas e das pessoas.
Assim, a qualidade vira sinônimo de pressa e o trabalho de frações cronológicas. Fazer no prazo é mais importante do que bem fazer.
Não extraímos mais o melhor mas o que de melhor foi permitido. Aos poucos – e mesmo nas mais elevadas manifestações artísticas – insidiosamente, a mediocridade infiltra-se e transcende. Aos poucos – e antes nas atividades comerciais – embrutecem-se as mentes.
Devolvam-nos o tempo perdido nas contabilidades vulgares. Devolvam-nos o tempo perdido!