A propaganda se come-se

Então, o futuro será assim. Chafurda-se em trilhões de dados e desse emaranhado abstrato, cospem-se iscas. Sincronismo absoluto entre oferta e desejo. Ninguém precisa de uma agência de propaganda em Amsterdam para fazer propaganda de água no deserto. Se o cara está com sede, então, a mensagem mais eficiente é “água aqui” e não qualquer delírio emocional.

Então, o futuro da propaganda é assim. Agências do mundo inteiro, apavoradas com os misteriosos e inteligentíssimos corredores do Vale do Silício, clamam, sem pudor, pela própria morte. Dessa apocalíptica visão, todas as reuniões das altas cúpulas publicitárias terminam do mesmo jeito: “aux armes citoyens, vamos digitalizar, se joga no big data, galera!”

Então, o futuro das agências está decidido. Que venham especialistas, e analistas autistas, criando algoritmos para servir, segundo a segundo, mensagens anódinas mas certeiras. E, porque o cobertor é curto, incha-se de um lado em detrimento do outro. Mais matemáticos, menos criativo. Quanto ao resto, o mídia, o estrategista, o atendimento, o gerente de projeto, esses então, coitados, só lhes resta vender anúncio, de porta em porta, na cauda longa do Google e do Facebook.

Mas um dia, porque sempre terá um dia, descobre-se, provavelmente no subterrâneo do Vale Diabólico, um algoritmo que cria algoritmos. Não precisamos mais de agência de propaganda nenhuma. A propaganda se auto-cria, auto-programa, auto-resolve.

E acabou-se o que era doce.

 

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