Uma questão de pescoço

Se baixar o sarrafo na televisão, leva pito da Corte, se criticar a propaganda na Internet chateia os bannersdependentes, se opinar sobre a gestão estratégicas das agências, magoa os amigos.

Mas, relativizar a opinião é polêmica reversa: a televisão não está em estado avançado de putrefação nos lares de milhões de brasileiros (Revista About – março de 1996) nem a mídia, na Internet, continua,  melancolicamente, bannerdepentente (BlueBus – Agosto de 2001), tampouco as agências charfurdam em pântanos jurássicos (Meio e Mensagem – Maio de 2016). Mas muita coisa degenerou de lá pra cá: as audiências, os sites, as margens.

A única verdade é que a prosperidade atrofia até o dia da degringolada fatal.

A televisão enquanto encarar seu negócio como venda de espaço publicitário espremido entre conteúdos, degringola porque vê-se como mídia antes de conteúdo. A Internet enquanto foi construída como um filho pródigo da mídia impressa, degringola porque não percebe-se como ferramenta antes de ser mídia. E as agências degringolam quando balançam entre umas coisas e outras.

Muitos vão dizer que esta é uma questão retórica e que, no fundo, é tudo la même chose. Que a televisão é mídia e conteúdo, que a internet é mídia e ferramenta e que as agências servem essas coisas todas.

Mentira porque a televisão de antigamente vendia audiência ao invés de entretenimento e informação.

Miopia porque a Internet de antigamente vendia exposição ao invés de dados.

Quanto às agências – dependente das evoluções e paralisias de seus clientes – elas dançam ao sabor das visões de seus líderes, aqueles dragões enormes que comandam seus répteis com processos (sic) pioneiros.

Quem são os dinossauros?

Já reparou que o tamanho do pescoço de um dinossauro é inversamente proporcional à sua posição na cadeia alimentar? Quanto mais próxima a cabeça do corpo, mais ágil e esperto o bicho, mesmo quando ele pesa milhares de toneladas. Quanto mais distante do corpo, mais lento e mais suscetível de ser comido.

Existem dinossauros com variados tamanhos de pescoço em todas as categorias econômicas. Inclusive, claro, no mercado de comunicação.

As agências de propaganda, independentemente de serem calejadas ou adolescentes, enormes ou saradinhas, cheias de salamaleques ou broderzinhas, com móveis design ou tatuagens místicas, são Barbapapas: devem aprender a se moldar ao contextos de forma rápida e inteligente.

Isso é uma questão de pescoço. Quanto mais distante a cabeça do corpo, mais lento, e quanto maior o pescoço, menor a cabeça do bicho também.

E de pouco adiantam dietas prolongadas e ginásticas radicais. Elas são o princípio do fim.

Quantos meteoros ainda?

Existem várias teorias sobre o fim dos dinossauros. Uma delas dá conta que um doido de um meteoro caiu e matou todo mundo. Mas acho que não foi nada disso. Os dinos – os de paletó de linho e os camisa de cânhamo – sumiram porque não viram os meteoros caírem.

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