Vamos ser honestos: se as Inteligências Artificiais forem capazes – como parecem ser – de substituir e desmascarar os imbecis, os incompetentes e principalmente, todos aqueles que usam as IA’s para parecer menos imbecil e menos incompetente, por que não ficaríamos felizes?
Platão dizia que Sócrates tinha um medo enorme de que, no dia que eles começassem a escrever, a memória dos humanos acabaria. Desde aquela época, a tese de que a externalização de nosso cérebro nos tornaria menos inteligentes, existe. É óbvio que não é verdade. O que essas externalizações fazem é acelerar aquilo que nós faríamos de forma mais lenta, ou mais deficiente. Assim como um binóculo nos permite ver aquilo que não podemos ver a olho nu, as Inteligências Artificiais, por enquanto pelo menos, nos permitem acelerar trabalhos que levariam mais tempo. Como não achar isso libertador?
E o medo visceral de que essas ferramentas substituam as ocupações menos qualificadas e que hordas de desempregados vaguem desesperados? Pois, por que não imaginar que é o contrário? Ferramentas como as Inteligências Artificiais são criadas para melhor executar algumas tarefas. Mas por que investir bilhões de dólares para substituir os menos qualificados? Depois de calar os imbecis e incompetentes, as IA estão mais focadas em substituir aqueles que se outorgam poder e dinheiro por saberem mais. Faz mais sentido substituir médicos, advogados, engenheiros com Inteligência Artificial do que pintores, músicos, carteiros, pedreiros, jardineiros. Ou, corrigindo o tiro, substituir aqueles médicos, advogados e engenheiros que atribuem sua importância àquilo que sabem e não aquilo que criam. Que atribuem seu poder àquilo que aprenderam e não à interação, à compaixão, ao dom de si. Como não ver nisso uma redenção?
Nenhuma inovação é ganha-ganha. Sócrates tinha razão: ninguém sabe recitar as armas e os barões assinalados nem batatinha quando nasce. Perdemos memória, mas ganhamos diversidade, agilidade, universalidade. Ninguém mais vai saber a idade, o telefone, o aniversário, o nome e a genealogia de ninguém. Ninguém mais vai tremer com um diagnóstico, se descabelar com um data-vênia, se acidentar por um erro de cálculo. Não é nem bom nem ruim. Assim será.
Mas quem sabe também, talvez, quando a gente se libertar dos imbecis aparentes e disfarçados, todo mundo vire artista ou jardineiro e a gente salve a humanidade e o planeta. Se der tempo.