IAs e Avestruzes

Todo mundo tem um plano, até o dia que se recebe um direto no meio da cara. E se o direto é o Mike Tyson, autor da frase, melhor se preparar.

Diante da aceleração reacionária de um mundo pós humano, melhor se preparar: 2025 não é 2016 reborn.

Existe uma revolução em curso e a história nos ensinou que revoluções não são necessariamente boas para todos: a francesa entronizou a burguesia, a russa, os oligarcas, a atual, os tecno-geeks estudados, inteligentes, ricos e movidos a uma energia fabulosa que emana do salão oval em Washington.

Pulemos o debate ideológico. Ele é fascinante e necessário, mas para ser útil, precisa ser levado por melhores pensadores.

Vamos nos ater aos aspectos mais pragmáticos da virada de mesa que está desafiando todos os modelos, sociais, econômicos, profissionais, políticos.

A bomba atômica se chama inteligência artificial e podemos chorar em desatino para a turma dos burocratas adiposos, mal vestidos, que do alto de suas cabeleiras pintadas e procedimentos cirúrgicos, levantam uma mão reguladora. Uma mão reguladora e outra ordenhando uma máquina já exangue.

Melhor se preparar do que chorar. Melhor se preparar do que invocar o saudoso século das luzes.

A história a seguir é apócrifa, mas muito sensacional para não ser verdadeira.

Nikita Khrushchev, primeiro secretário do partido comunista da União Soviética na década de 50, teria dito a Richard Nixon, então vice-presidente americano: se o povo pensa que em algum lugar existe um rio e que esse rio é imaginário, não se deve dizer que o rio não existe. Ao contrário, deve-se dizer ao povo que é necessário construir uma ponte imaginária para cruzar o rio imaginário.

O pragmatismo de Nikita era de não lutar contra os rios imaginários, não se aventurar em intermináveis comprovações. Perda de tempo. É muito difícil ou quase impossível vencer uma crença. Para Khrushchev, era mais útil contorná-la e construir outras crenças, por sobre aquelas.

É assim que pensam os novos ideólogos da revolução em curso. Os René Girard, Peter Thiele, Curtis Yarvin e outros Sam Altman acreditam no que acreditam, que os seres humanos não são iguais e que a inovação e o progresso científico-tecnológico é contrario ao progresso social. E porque acreditam, constroem pontes imaginárias sobre rios imaginários.

 

É necessário entender essa turma e ler o que leem e o que escrevem.

Não para construir outras pontes imaginárias sobre suas pontes imaginárias, coisa que outra turma contra revolucionária tenta, sem nunca ter tentado entender o que dizem, o que pregam, o que fazem.

É necessário entender porque o rio imaginário existe. Entender porque esse povo, que acredita que esses rios existem, está com sede.

Não adianta treinar o drible quando o golpe é do Mike Tyson. Não adianta também fingir, ou rezar pra morrer antes do golpe. É preciso entender poque a Inteligência Artificial está substituindo cérebros, empregos e negócios.

Ser desafiado por máquinas deveria ser o mais fabuloso dos desafios que a nossa vida vai enfrentar.

Menos para uma avestruz.

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