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Agência, Agência digital e Agência pós digital

O que seria uma agência digital?

Uma agência que só existe na Internet, que não tem endereço físico, nem pessoas de carne e osso, em que tudo se resolve através de inteligências artificiais, fórmulas prontas, colagens, colaboração nas redes sociais engajadas que planejam, criam, veiculam no piscar de um clique? Ah não, não é nada disso não: uma agência digital é uma agência que só faz propaganda (e seus eufemismos) na Internet. Ou seja, uma agência de propaganda especializada. Assim como existem agências especializadas em outdoor ou agências especializadas em espera telefônica, agências especializadas em senhoras aposentadas e agências especializadas em futebol, acarajé e cubo mágico.

E uma agência pós digital?

Seria uma agência que tem muita gente de carne e osso, que tem muitos endereços, e salas de reunião de verdade, e promove almoços, vernissages, festas, cabarés, bordéis? Ou seria uma agência que reinterpreta,  que transcende a razão, questionando as narrativas totalizantes? Ou pós digital é uma coisa assim mais transversal, diagonal, centrífugo, holístico? Uma coisa, assim, meio Hélio Oiticica? Ou pós digital pode ser uma agência do além, do éter, habitada por espectros desencarnados, uma agência pós mortem?

Se uma agência digital é prestidigitação semântica, uma  pós digital é a mais louca das parábolas.

Nome na porta e pé na cova

Era um dia normal: atendimentos descabelando-se, criativos choramingando, planejadores arrotando e mídias atolados.

Caiu como uma bomba: Jailson estava de saída, recebera uma proposta nababesca. Há anos segurava o pulso do cliente, sobrevivera às trocas, às dissecações, aos esquartejamentos, a todas as crises e todas as vitórias, fugazes como todas.

Jaílson, Fênix, esteio, panteão da sabedoria, colecionador de piadas, intérprete das fofocas e léxico das intricadas relações interpessoais, passadas, presentes e projetivas que mantinham a conta na casa.

Jaílson, imiscuído nas intimidades de tal e qual funcionária chave, fizera malabares com as informações de toucador, e ainda alimentava paixões desassossegadas entre os altos escalões.

Jaílson ia-se cacarejar alhures, carregando consigo rugas políticas e uma extensa rede de favores à espera de compensação proveitosa.

Jaílson desertara. Jaílson, o criativo de todas as mágicas, o atendimento de todos as gingas, o planejador de todas as parábolas, o mídia de tantos Xis da questão.

Teríamos chororô, caça às bruxas, jogos de guerra, forças tarefas, almoços, jantares, planos mirabolantes para recuperar a estima do cliente e a autoestima dos encostados.

E se a conta entra em concorrência? E se contratarmos o fulano, o sicrano, o beltrano? Precisamos de um nome, um sobrenome, um pedigree de alta patente. Outro Bulldozer tarimbado. Uma tête d’affiche.

O tempo passou. A lembrança de Jaílson dissipou-se e não aconteceu absolutamente nada. Nem de bom, nem de ruim.

Não tem nada mais antigo do que cowboy que dá 100 tiros de uma vez. Não tem nada mais antigo do que agências com o sobrenome na porta.

Jaílson jazem.