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Global warning (com N mesmo)

“A Amazônia tísica”, “O buraco chupador da camada do ozônio”, “Degolaram uma foca”, “Socorro, as baleias sumiram”, “O lixo de Chernobyl vai feder”.

Nos últimos anos, somos bombardeados diariamente por esse tipo de notícia. Todo dia é epitáfio dos dinossauros, Armagedon e ataque de marcianos.  Chama o Noé, que a coisa está feia.

E nós, aqui, vermes insignificantes, metendo a mão no lixo para separar o orgânico, xingando o plástico, parando de usar sabonete que faz espuma e pedalando no meio dos carros para salvar o planeta.

A Amazônia existe mesmo? Que diabo é ozônio? É verdade que foca fede? Como é que uma baleia some? E muitas baleias? Alguém avisou os russos do lixo atômico?

Sempre que encaramos essas bombásticas notícias, alternamos uma sensação de impotência com indiferença. Quanto maior e mais distante é a notícia, maior a impotência e seu corolário natural, “tô nem aí!”.

Que tal se a gente se desplugasse dessas hecatombes sensacionalistas? Será que, se pensássemos pequeno, no nosso quintal, não nos envolveríamos mais com essas causas que certamente são verdadeiras e dramáticas?

Se parássemos de fumar porque as roupas ficam com cheiro? Se usássemos detergente ambientalmente correto porque não tem aquele cheiro artificial que deteriora o gosto dos pratos? Se andássemos mais a pé por causa da barriguinha? Se escolhêssemos comida orgânica porque ela é mais saborosa? Se substituíssemos os copinhos de plásticos pelos de cerâmica porque é mais elegante? Se comprássemos menos porcaria porque não tem onde enfiar tanta bugiganga em casa? Se não jogássemos lixo na rua porque depois entope os bueiros?

E se a gente fosse só ambientalmente responsável porque a gente gosta de árvores e passarinho? E se a gente fosse socialmente responsável porque a gente gosta de gente e criança?

Se parássemos de olhar esses números que ninguém sabe calcular?  Se deixássemos de pensar nas consequências das consequências das consequências das consequências das consequências das consequências que vão, no final de infindável lista de conseqüências, acabar com a vida inconsequente dos terráqueos?

Projetos de sustentabilidade pessoais, ao invés de globais. Nanoprojetos individuais, ao invés da causa globais.

Podem até nos acusar de hipócritas egoístas, de alienados provincianos, mas o perigo global é que, justamente pelo fato de ser global – portanto, de todos –, torna-se distante e difícil.

E o aquecimento global? Quem liga? Os pingüins.

Outro dia, uma instalação efêmera ocupou o parque do Ibirapuera em São Paulo. Centenas de pingüins de gelo, por algumas horas derreteram sob o sol inclemente. Seu choro tinha uma mensagem singela: e aí, e o aquecimento global? Quem tá ligando?

A autoria ainda é mais insólita: um site www.50graus.com.br. Além dos vídeos (veja no Youtube http://www.youtube.com/watch?v=y1DhylYVbZU) alguns adesivos de animais derretendo.

Entrei em contato com o site e recebi a mais inusitada e calorosa das respostas: “somos um grupo de inconformados anônimos”.

E mais adiante: “não somos ativistas, nem políticos, nem ecologistas, nem doutores, nem coisa nenhuma.”

A 50 graus é uma espécie de desorganização, portanto sem dono, sem autor.

Uma iniciativa livre – de direitos inclusive – sem expectativas, policiamentos, discursos ideológicos, compromissos institucionais, sem vaidades, sem mística.

Não tem nem a bandidagem guerrilheira do Bansky http://www.banksy.co.uk/, nem as invasões dos space invaders http://www.space-invaders.com nem qualquer manifestação do chamado “marketing de guerrilha” http://www.marketing-alternatif.com/index.php?paged=1.

Só gente como todo mundo afim de se manifestar. Longe dos discursos clichês e inócuos dos governos e instituições políticas, longe das iniciativas pseudo do bem das empresas “com responsabilidade social”, longe das caridades, longe das organizações não governamentais. Longe de tudo que é primeira, segunda e terceira via. Como uma espécie de quarta via. A via das pessoas, cada um na sua, mas com um inconformismo em comum.