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Não gostamos. Copiamos

A formação do gosto é história de uma vida e fator de referências e digestão.

O brasileiro é uma esponja de influências. Conectados e multitarefa, travestimo-nos de novidades com naturalidade e até um certo penacho. E põe penacho, adereço e brilho nisso.

Qualquer pessoa é capaz de recitar, sem gaguejar, uma penca de marcas com suas devidas apreciações qualificadoras. Qualquer micro tendência vem com tudo (e desaparece como nada) num piscar de olhos. É só pintar na referência do momento (na revista, na televisão, no jantar, no braço do ídolo) que já dá comichão no bolso e estimula malabarismos financeiros para possuir o ícone.

Culpávamos a mídia pelo bombardeio e pela incontinência, mas basta levantar a orelha para perceber que o futebol não é o esporte favorito do brasileiro, mas a cópia, o pastiche, sem vergonha nenhuma.

9 em cada 10 pretensos arquitetos ganham a vida como decoradores e transformam as casas dos brasileiros em album de figurinha. 9 em cada 10 pretensos estilistas ganham a vida inspirando-se profundamente nas referências que “descobrem” e transformam as pessoas em vitrines decoradas. 9 em cada 10 pretensos jornalistas são clipadores que escrevem jornais com o charme de um painel de aeroporto. 9 em cada 10 pretensos publicitários (talvez 10 em 10) são mata borrões e transformam nossa paisagem comercial num tabloide de varejo popular. Isso para ficar em alguns exemplo.

E porque temos pressa, nosso sistema digestivo desemboca, célere, numa cloaca.

E o gosto fica assim como é o nosso: igual que nem que tudo. Um gosto de soldado de chumbo, de palito de fósforo, de big brother.