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Nova York, Nashville e Charleston

Um outoor enorme acolhia as pessoas que entravam em Nova York: “bem-vindo a Nova York, a única cidade em que você pode declarar abertamente ser gay mas tem vergonha de ser republicano”. É assim que a América recebia os emigrantes com o sorriso pétreo da estátua da liberdade.  Uma terra onde tudo é possível, tolerado e incentivado.

Nashville, miolão mais pro Sul dos Estados Unidos, e suas duas quadras que se auto-intitulam a Mecca da música country. Grand Ole Opry, o templo dessa Mecca e seu hall da fama de chapéu de cowboy. O show é Country Classic, cover da Patsy Cline e tudo. A plateia é branca, mais velha e comedida. O apresentador do show transmitido ao vivo para uma radio que intercala as bandas com spots da loja de equipamentos de pesca e do salão de cabeleireiros, tem intimidade com o panteão que por ali desfilou. O Grand é uma espécie de Canecão, um Carnegie Hall, uma Ópera de Milão.

Eis que, para galvanizar a platéia, o mestre de cerimônia resolve sentir a temperatura da sala: “pessoal, essa semana, matamos Bin Laden!”. Os minutos que se seguiram foram de extase coletivo. De pé, as pessoas gritavam “Yeahhh, estamos ganhando de novo!”.

Sim, não é a turma hip de Nova York que manda seus garotos para as guerras. Sim, a América, sempre mobilizada, é diversa e dessa diversidade nasceu sua força.

Mas como acreditar que esses mesmos que inflamaram-se, sangue nos olhos com a morte do assassino, podem desabrochar o coração, despir-se dos preconceitos, e abrir-se para uma cultura mestiça, bastarda, sangue ruim, como a nossa? Sei não.

Sei não, mas quem sabe, um dia, veremos aqueles executivos de terno mal cortado, arrastando uma maleta de rodinha, num hotel cenográfico em Charleston West Virginia, sede de alguma multinacional, e se enternecer. Quem sabe entederemos, um dia, que o poder é o alibi da mediocridade.