Tag Archives: Creative Commons

Creative commons: uma espécie de fermento criativo

Se a criação é um bem de consumo, portanto, não há tempo para degustar, contemplar, refletir, analisar. Consome-se como se lê, vê ou ouve, digere-se como se pode, e regurgita-se como se quer.

Em tempos de conteúdo colaborativo, de livre expressão, de canais abertos, de democratização criativa, de contágio viral, em tempos de acesso irrestrito aos megafones das mídias freeware, o autor que se cuide. Principalmente se ele tem a veleidade de preservar sua autoria em prol da biografia, da vaidade, da contribuição intelectual desinteressada ou não.

Enquanto a interpretação dos conteúdos ou das obras era individual, as autorias sofriam poucos ou nenhum risco. O “criador” produzia e a audiência qualificava sem conseqüências. Mas a partir do momento em que a audiência torna-se também mídia espontânea e formadora de opinião, as conseqüências significam, para além da permeabilidade das idéias, a desintegração da própria noção de autoria.

E dessa desintegração nascem certos perigos e muitas virtudes.

Perigos da difusão equivocada de conteúdos e análises, por exemplo. Perigos de comprometer reputações. Perigos inerentes a tudo aquilo que é novo e como tal, desconhecido.

Mas muitas virtudes também. As virtudes de questionar as vaidades e o egoísmo autoral. Virtudes do exercício democratizado da interpretação. E principalmente as virtudes próprias de uma espécie de fermento criativo.

Nesses nossos tempos, em que todos nos tornamos ao mesmo tempo autores e veículos, não existe mais autoria individual mas autorias coletivas.

Não importa mais a minha idéia, mas sim a capacidade que ela teve de gerar outras, complementares ou detratoras. E essa multiplicação é sempre fértil.

É esse o princípio que está por detrás de todas as iniciativas colaborativas que se assumem creative commons ou que ainda não têm toda essa coragem.

É porque acreditamos que quanto mais colaborativa for a criação, mais criativa ela é, que o direito de autor é um conceito mesquinho e ultrapassado.

É porque acreditamos que quaisquer formas de democratização da autoria – restritas ou irrestritas – quando formalizadas, preservam até as autorias originais, que o direito de autor, tal como existe, é um princípio doente e moribundo.