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Email e a bunda mole

Na imigração, entrando nos Estados Unidos:

–       O Senhor trabalha com quê?
–       Propaganda.
–       Mas o Senhor acabou de vir fazem poucos dias.
–       É para uma reunião.
–       Eles não acreditam em email, na propaganda?

Também não acredito. Nem em muitas outras formas de comunicação presumidamente contemporâneas.

Já repararam no estrago que um email pode fazer, principalmente com aquela fila interminável de copiados? Aqueles que devem tomar uma providência, aqueles que devem ficar sabendo, aqueles que devem aprovar, aqueles que podem ter uma ideia, aqueles que não tem nada a ver mas é de bom tom que sejam copiados, aqueles para quem devemos demonstrar empenho, aqueles que devemos integrar. Os que devem tomar providencias aguardam a aprovação de quem aprova, mas os que devem ficar sabendo aprovam o que não devem, aqueles que copiamos por educação tomam providencias, aqueles que devemos impressionar respondem e quase sempre os que devem ser integrados apavoram com ideais do além.

E depois da confusão, aparece um bunda mole para dizer “não falei?!”

A modernidade não faz milagres: para melhorar tem que simplificar. E vivemos numa era em que todas as melhoras convergem para uma única obsessão: encurralar o tempo numa jaula. Agilizar, estreitar, encortar. E encurtar vem de cortar.

Tudo seria tão mais simples se levantassemos a bunda da cadeira com mais frequência.

Cala a boca Mané

Temos hoje infinitas formas de nos comunicar. A cada dia, surge uma nova e excitante ferramenta. Como é que o mundo funcionava quando nossas bisavós precisavam mandar o filho com um recadinho para a parteira vir socorre-la? Hoje ela mandaria um viber para cinco médicos diferentes, a família e os padrinhos. Ou, mais simples, faria um parto monitorado remotamente com uma junta médica internacional pelo Skype.

Mas ao mesmo tempo que ganhamos tempo e qualidade, perdemos objetividade. O moleque, a menos que resolvesse dar um mergulho no rio e roubar uma manga da vizinha, era o único mensageiro. Hoje, tudo é compartilhado, pedimos a opinião de Deus e o mundo, e as mensagens se esfacelam na velocidade da luz.

O email é o exemplo mais gritante de inoperância.

Alguém manda uma solicitação por email para os envolvidos diretamente e para uma penca de outros que precisam participar da decisão “vai-quê!” (também conhecidos como fyi). Todos respondem para todos, inclusive os “vai-quê!”. O que era uma distribuição de tarefas vira um sufrágio de opiniões. O que era um recado, vira uma assunto, o que era um assunto, vira um colóquio, o que era um colóquio vira uma eleição, o que era uma eleição vira uma Babel.

Por isso, todo email, além de CC e BCC deveria ter um CBM (Cala a Boca Mané) e um QMA (Quem Manda Aqui).

Os cartões da Unicef ainda existem?

Se o mundo virtual facilitou muito a nossa vida, também virou a ferramenta dos preguiçosos sem vergonha e intrometidos.

Existe alguma coisa mais vagabunda do que receber um cartão de natal por email? Quem diabos vai ler ou responder a essa porcaria? Do tempo do cartão impresso, já nem se lia mais aquele monte de clichê e muito menos os arroubos criativos de alguns. Mas pelo menos enfeitava a árvore de natal das repartições. Nem pra isso servem esses spams do papai Noel.

Existe alguma coisa mais sem graça do que essas árvores de Natal com mensagens enviadas pelos “internautas” e twitteiros? Ou cartões virtuais com musiquinhas, frasezinhas, fotinhas, ilustraçãozinhas que você monta sozinho e fica uma merdinha?

É o mau humor de final de ano, talvez. Mas enfeites coloridos, luzes azuis, papais noéis chacoalhando ou árvores de natal cantantes são um tributo à cafonice colonizada. É horroroso à noite e pavoroso de dia. Sem falar das despedidas de consagração, amigos secretos e alegrias com hora marcada.

Esforço derradeiro de tolerância, vamos lá.

Quando a gente acredita nesse tohu bohu de símbolos natalinos, nesse panteão alegre, nos rituais e no menino Jesus, que nossos votos de felicidade não sejam um preguiçoso copy-paste virtual.