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Cannes e os anônimos-famosos

Faz tempo que os festivais de publicidade celebram as marcas nanicas e suas proezas criativas que ninguém viu mas todo mundo adora.

Ninguém mais acredita na inocência dos jurados. Eles têm total consciência de que aquilo que estão premiando praticamente inexiste. Um restaurante, uma banda de música, uma escola de linguas são negócios pequenos em qualquer lugar do mundo. Não é esse tipo de marca que movimenta a indústria da propaganda.

A primeira explicação para esse fenômeno é poética. Como no cinema, boa arte não significaria sucesso de bilheteria.

Mas a indústria da propaganda é menos hipócrita, menos inocente também. Afinal de contas, fazer propaganda e vender são quase sinônimos. Não existe criação pela criação.

Então por que tantos cases nanicos entronizados?

Uma espécie de compensação? O gosto do pódium pelo pódium, da medalha pela medalha? Vaidade de rei nu?

A indústria da propaganda é mais séria, mais profissional também. Afinal de contas, não são só nossos irmãos de armas, publicitários, que babam com as grandes-minúsculas ideias. Os clientes também aplaudem.

Mas existe uma mensagem escandarada na celebração pública do nanismo. Quanto maior a marca, maior o risco. Quanto maior o risco, mais firme o cabresto. E quanto mais firme o cabresto, mais chata a propaganda.

Em tempo: espero que tenha ficado claro que a crítica não foi dirigida aos publicitários, desta vez.

Os novos fantasmas da propaganda

Muitos anos atrás, a Internet era uma curiosidade intelectual, como o hermafroditismo dos cavalos marinhos ou o matriarcado das sociedades celtas primitivas. Como é da natureza de todas as idéias divergentes, com o tempo, o assunto tornou-se alvo de ideários inflamados, com argumentos simplórios, como as boutades conservadoras do premier israelense ou de algum ditador africano.

Mas já há alguns anos, a Internet tornou-se uma coceira agradável no discurso de muitos profissionais de comunicação. Uma feridinha que a gente acalenta com prazer, um pecadinho, íntimo, gostoso.

É que na Internet, muitas frustrações se acobertam e o ambiente sorri de volta a ambições fora de moda.

Se a mídia tradicional fechou suas portas para experimentações e ousadias desconexas, temos a Internet para veicular nossas quimeras no Youtube. Se a mídia tradicional encafifou com a forcinha espontânea que sempre deu a idéias originais, sempre haverá um blog “muito influente” afim de dar cobertura gratuita.

Então vemos surgir defesas mirabolantes para investimentos eufemisticamente corajosos: “põe na Internet que a coisa se espalha!” ou “vai dar mídia espontânea”. O intangível e incontrolável justifica.

É assim que nascem os cases de vaudeville que se empilham nos festivais de propaganda.