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O mundo é dos Nanos

Houve um tempo em que acreditávamos que os humanos formavam uma manada que pastava entre cercas, ruminava sem saltos de humores e até consideramos que a estação de monta era sincronizada e que a procriação era uma variação estatística.

Naquela época, o sucesso era medido matematicamente: é tanto de audiência, de participação de mercado, de penetração (a outra). Como as pessoas eram segregadas em lotes com comportamentos similares, o único objetivo das atividades econômicas era crescer, crescer, crescer.

Assim nasceram os Schumacher e os Bolts, os Guiness Books e também as metas mercadológicas. O dogma do século XX é de que “uma parte sempre pode crescer mais do que o todo”. O único fator de sucesso decente era aumentar o tamanho do naco. Por isso inventou-se o anabolizante de porcentagem que manda nas nossas vidas.

Mas, para a sorte da contabilidade histórica, estamos no século XXI e para a nossa sorte, as coisas mudaram.

Alguns críticos acreditam que Dickens criou cerca de 13 mil personagens em seus romances. Só em David Copperfield, devem ter algumas centenas e, embora seja impossível lembrar-se – e por vezes entender – a intricada rede de relacionamentos que se cruzam, alguns deles são mega-celebridades por poucos parágrafos.

Acho que a digressão foi excessiva até agora já que prometi nunca ultrapassar duas laudas (laudas? Porque será que ainda se contam textos em laudas no Word?).

No século XXI, a fragmentação é tamanha que você pode ter poucos milhares de consumidores e seu market-share centesimal, mas ser melhor sucedido do que esse monte de executivos que se descabelam para atender aos fatores de sucesso do século passado.

Em pelo menos metade de todas as conversas que tenho com a geração do milênio, eu bóio à deriva: “Não, eu não conheço esse site que é um sucesso, nem esse aplicativo incrível, nem essa pessoa famosérrima, nem esse produto blockbuster, nem essa marca que TODO mundo está usando”.

Embora eu tenha vocação para a rabugice, acredito piamente nos nano-sucessos, nas nano-celebridades e nas nano-economias.

Por instinto de sobrevivência, vamos desistir de aumentar nosso pedaço de pizza porque tem outros iguais a nós, do outro lado da mesa, fingindo a mesma coisa. Os tempos hiper-modernos nos salvarão da hipocrisia.