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Seleção das espécies empresariais

–       Qual é sua formação?
–       Tenho doutorado em cibernética aplicada à física quantica dos elementos cósmicos.
–       Você tem algum hobby?
–       Sou regente de uma orquestra filarmônica jovem de periferia, jogo pólo, golf e badmington, já fiz cinco exposições de minhas instalações holográficas, participei de 2 bienais internacionais e estou escrevendo meu segundo ensaio, desta vez sobre o papel do riso na história da literatura medieval do ocidente.
–       Já exerceu algum cargo de liderança? Sim, fui chefe do laboratório de uma empresa de nano-tecnologia, fui diretor de operações de 3 empresas que estão no ranking das 10 maiores empregadoras do país.
–       Você tem que idade?
–       Faço 30 anos no mês que vem.
–       Qual é seu maior sonho?
–       Gostaria que nos amassemos uns aos outros. Darwin na Origem das Espécies, escreveu que, na natureza, vence o mais forte. Mas ele só disse isso 2 vezes. No entanto, ele escreveu 98 vezes a palavra amor. O homem se tornou o animal mais poderoso da natureza porque é capaz de colaborar com seus próximos. Não foi porque é mais forte. Sonho com isso.
–       Você fala inglês?
–       Espanhol, italiano, francês, húngaro e mandarim. Inglês não.
–       Ai, que pena. Precisamos de alguém fluente em inglês. Sabe como é, né?
–       Posso lhe indicar o bell captain do meu hotel. Deve servir.

Falamos (inglês) antes de pensar (em português)

Nosso big mac é igual ao big mac dos outros, nossa bolsa Kelly é igual às bolsas Kelly das outras, nossas campanhas publicitárias são de nível internacional.

Tem um lado bom contar com as mesmas referências dos gringos, nem que seja para aprender com suas derrapadas ou copiar sem vergonha.

Mas desde que o consumo virou o maior (e único) embaixador cultural do mundo, a Paris Hilton é nossa referência inconfessável.

A indústria “cultural” de massa carrega valores de mínimo denominador comum quando exportada. É seu jeito: simplificar para reinar. E cá estamos: são os valores do strip mall Americano que consumimos com sofreguidão. Não é a New Yorker que nos pauta, é a Fox News.

Disseram-nos que o inglês é a língua do futuro. Disseram-nos isso quando mal falávamos português. Quando mal sabíamos pensar. Quando mal sabíamos que referência não é espelho, é inspiração.