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A favela não é chique

Os Estados Unidos são o maior importador de vinho francês do mundo. Mas de que adianta, disse-me meu cunhado enólogo, o vinho viaja tanto que, quando chega, é a mesma porcaria que eles cultivam lá na Califórnia. O mesmo podemos dizer daquela água de coco de caixinha, em voga atualmente nas bacanezas da Côte d’Azur: tem gosto de água salobre.

E o mundo voga em fluxos e contrafluxos civilizatórios.

Recebi, certa vez em São Paulo, uma turma de modernos empresários. Eles estavam desbravando a Internet. Figuras quase obrigatórias em todas as listas hype de Nova York a Amsterdã, queriam investir na Pindorama. Mas era preciso impressionar os gringos. Nossa terra tem palmeiras e muita chiqueza. Fui buscar os caras no hotel, que não envergonharia Philippe Starck, e lá fomos nós pro restaurante de calar o Jacques Garcia. Lá pelas tantas, depois de muito goles, o Mark me chamou para fumar na rua (ele era americano, portanto, muito civilizado, respeitador dos pulmões alheios, disciplinado como um G.I. Joe). “Não tem um barzinho por aí mais à vontade pra gente conversar? Isso aqui parece o Titanic ancorado em Coral Gables”.  Fomos para uma calçada e  fumamos e bebemos até de madrugada. Meu patrão foi dormir feliz de ter abalado Bangu com tanta sofisticação tupiniquim. Sentir-se bem é o verdadeiro luxo. O resto é complexo de inferioridade.

É tão esquisito ver um alemão de sandália e meia em Ipanema quanto ver um brasileiro de tênis no Café de La Paix. Muito mais esquisito seria ver o branquelo descalço, ou o tupinambá calçando um sapato que não vê uma graxinha desde que saiu da loja. Mas na sua Birk, o gringo está tão confortável quanto o brasileiro de Nike Shox. O conforto é o verdadeiro luxo. O resto é cafonice exótica.