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A liberdade de matar 27 pessoas

O choque, a dor e principalmente a dúvida: por quê? Por que um garoto de 20 anos mata 27 pessoas numa escola? Essa dúvida atormenta tanto quanto a perda porque ela expõe a ferida da condição humana: a imprevisibilidade dos nossos reflexos. Este descontrole é a antítese da vida em sociedade. Por isso existem as leis, os costumes e até os tabus: colocar limites na imprevisibilidade da condição humana.

Controle, para muitos no país do massacre, além e aqui embaixo, significa tolher a liberdade.

Conservadores falando de liberdade e progressistas falando de controle. É nesse ponto que chegamos.

Mas a liberdade é um conceito utópico. A liberdade é uma moeda de negociação necessária para a vida em sociedade: Quanto liberdade devemos tolher? Quanta liberdade devemos tolerar? Qual é a liberdade que nossos valores aceitam ou defendem?

Mas como a liberdade é um conceito elástico, ela virou chantagem retórica, cortina de fumaça, desvio de foco. É irreconciliável procurar “porquês” partindo de um terreno tão pantanoso.

E os porquês passam para o campo do absurdo. Já ouve-se que a posse de armas é um alicerce da democracia, que a posse de armas sustenta o combate à tirania, que há loucos soltos. Ouve-se até que a solução dos massacres está na mega-church.

Afirmar que a democracia americana se formou sobre a liberdade de possuir armas é confundir História com Sabedoria. O passado é sangrento demais para servir de modelo.
Falar de armas para combater a tirania é defender a lei do mais forte. Tirania para esses paladinos da liberdade é tudo aquilo que é diferente. A diferença tem que ser combatida e aniquilada com todas as armas. É por isso que esses super-heróis maniqueístas acham que o massacre foi perpetrado por um diferente, um louco. E que esses diferentes da média rastejante são culpados, que precisamos de armas para nos defender dos loucos, dos diferentes.

E claro, nessa hora, a bíblia não pode faltar. A bíblia é um arsenal de defesas: olho por olho. É a palavra de Deus. Nas palavras de reverendos-business-men, a matilha de conservadores acha o que procura: God bless the National Rifle Association.

O problema é complexo – e qualquer simplificação estatística está na sua origem – mas enquanto não resolvemos o drama de nossa condição humana, bom senso e lógica: uma faca mata menos.

Afirmar que possuir armas é liberdade é o mesmo que defender a liberdade de matar 27 pessoas.