No recente relatório da Advertising Age sobre macrotendências do consumo de mídia, uma delas chama a atenção: “Apesar da Internet, estamos assistindo mais e não menos TV”.
Em média, um ser humano assiste 3 horas e 12 minutos de TV por dia (crescimento de 3 minutos nos Estados Unidos só em 2009).
São várias as inferências possíveis a partir da afirmação, mas a mais óbvia é o movimento que as próprias emissoras e produtoras fazem, em todos os países, para melhorar a sua programação, oferecendo as mais variadas grades, para maiores públicos e com um esforço qualitativo notável.
A televisão permanece com uma combinação de trunfos imbatíveis.
O primeiro deles é a qualidade das transmissões. Embora esse diferencial tenda a perder importância em função do progresso tecnológico, quando se fala de qualidade não é apenas “qualidade de imagem” mas qualidade de curadoria, de escolha de programação. Espera-se que uma televisão faça um filtro editorial no seu conteúdo. Na Internet ainda prevalece a regra do “deixa que acho” e o lixo que parasita em volta, caudatário das equações de busca, pode causar muita frustração e afastamento.
O segundo trunfo – que quando combinado com o da qualidade – ainda é, de longe, o mais poderoso, capaz de atrair cada vez mais audiências: o “ao vivo”. A Internet é tosca, confusa e muito lenta – porque exageradamente variada – para a transmissão ao vivo de qualidade. Não é à toa que os programas ao vivo são recordistas de audiência: programas esportivos (Copa do Mundo ou Super Bowl) ou jornalismo (guerra na favela, eleição ou queda de avião). A própria dramaturgia também caminha para ser cada vez mais “ao vivo”, como é o caso do American Idol ou o Big Brother no Brasil.
Vivemos na era da instantaneidade, característica que tanto beneficia a Internet na sua capacidade de atrair populações incontinentes, mas o fenômeno também contagia a televisão que surpreende as profecias mais negativas, fazendo valer-se de sua ainda extraordinária capacidade de oferecer conteúdos de qualidade ao vivo.
Salvo nichos de consumo, a televisão como meio de massa tem de ser a televisão da sua própria pré-história: sem edição, em moto contínuo de transmissão, no pulso da rua e da vida das pessoas.