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A Internet é a nova mandioca

O que seria do homem sem a mandioca, a roda, a foice, a pólvora, sem o macarrão, o tear, a levedura, o liquidificador, a escada rolante, o telégrafo, o dinheiro, o cotonete, o minecraft e o Google? Esnobismo é delas prescindir voluntária e estoicamente como se a Criação fosse vulgarizada pela meia calça, pelo sapato, shampoo, rímel, silicone, rivotril e Facebook e qualquer síntese artificial despertasse os demônios da auto-destruição.

Tudo nem sempre pode piorar. Os efeitos colaterais do progresso nem sempre são tóxicos.

Existe algo mais charmoso e elevado do que o Facebook e o Google, e mais prodigiosamente transformador também: é a chamada economia colaborativa que só a Internet tornou possível. Por detrás do compartilhamento online da ociosidade, da sobra, do descarte e da sucata, existe uma redenção ultraliberal que dribla as estruturas calcificadas do poder, a burocracia paralisante e a selvageria dos oligopólios, cartéis e lobbys que nos oprimem.

Todas as vezes que opera-se, através das centenas de plataformas peer to peer existentes, o milagre da colaboração, sem intermediário nem burocracia, sem certidões nem firma reconhecida, o mundo fica mais leve e o homo e a “mulher sapiens” mais humanos.

Escambo.net

– Meu Deus, os caseiros levaram de novo a batedeira! Vou lá… Bom dia Seu Francisco.
– Salve patrão.
– Por acaso a batedeira lá de cima está aqui?
– Está sim Senhor.
– Sabe, Seu Francisco, eu acho bonito esse jeito do Senhor.
– Qual jeito, patrão?
– Esse jeito “o que é meu é seu, o que é seu é meu”.
– Obrigado, patrão.
– Mas sabe qual é o problema: o Senhor não tem nada, então sempre me dou mau.

O Estado – e o nosso mais do que muitos – é um monstro de muitas cabeças egoistas. O Brasil do século XXI é um país submisso a um poder exacerbado, centralizador e burocrático. Nem o nosso jeitinho tão criativo consegue mais driblar os tentáculos públicos. Eles estão nas leis, nos tributos, nos financiamentos, nos programas sociais, em todas as obras de infraestrutura e interferem na atividade comercial e empreendedora.

O Estado brasileiro é uma colônia de carrapatos.

Isso não significa, é claro, que do outro lado, no privado, existam santos oprimidos. Ninguém é mártir nesse jogo e os vasos são promiscuamente comunicantes.

Para o cidadão comum, só lhe resta duas alternativas: sofrer ou parasitar.

Mas existe uma terceira via. Sem jeitinho nem cambalacho. Sem masoquismo nem paralisia.

Quando uma pessoa vende ou aluga um bem seu para uma outra pessoa – uma casa, uma geladeira, um carro, um passeio de cachorro, uma jardinada – o Estado não existe. Não existe imposto, nem burocracia, nem jogos de poder, nem corrupção.

É o peer to peer, que faz bem para as pessoas porque descolam um dinheiro, faz bem para o planeta controlando o desperdicio, faz bem para a alma porque dá o troco no Estado e nos seus financiadores privados ao mesmo tempo.