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Coxinha e circo (por Marcelo Nogueira)

Ontem, fui a uma pesquisa. Quali, de animatic, para dar nome e sobrenome, dessas em que a gente testa comerciais antes que eles sejam produzidos. Como criativo, é claro que tenho restrições em relação à pesquisa de animatic, assim como à chuva em feriado e ao gene da calvície, mas são realidades com as quais tenho que aprender a conviver do melhor jeito possível.

Há dois pesos e duas medidas numa pesquisa como a que eu presenciei ontem. De um lado, todas as limitações e distorções de se apresentar uma peça de comunicação inacabada (na verdade, um rascunho) num ambiente extraterrestre e inadequado, e do outro, a pretensão de se reproduzir as condições do mundo real.

Como não contamos com a qualidade técnica de um comercial filmado, mostramos um desenho (mal) animado e pedimos que os pesquisados criem mentalmente um filme, com os atores de sua preferência. Como não podemos reproduzir a naturalidade e o conforto de se assistir um comercial no sofá de casa, batemos um papo com o consumidor na sala de pesquisa, servimos coxinha e contamos piadinhas para ele relaxar. Fazemos o que podemos, mas o fato é que nem estamos mostrando um comercial de verdade e nem o consumidor está no sofá de casa. Sabemos disso, nos conformamos com isso.
Acontece que a forma com que apresentamos este comercial de mentira, para pessoas sentadas em sofás-de-casa de mentira foi bem realista. Elas assistiram uma única vez, em trinta segundos, trinta e pouquinhos, para não ser injusto. Em seguida, pedimos seus vereditos.

Se assistir um desenho animado e tranformá-lo mentalmente num comercial de verdade já é tarefa dificílima, fazer isso em trinta e pouquinhos segundos é para gênios. E quanto mais diferente e criativa a idéia, pior, e quanto mais simples e lugar-comum, melhor, afinal, o filme está sendo montado instantaneamente com o banco-de-imagens-conhecidas das mentes das pessoas.

O resultado é que muita gente ali analisou profundamente algo que não entendeu. Falem o que quiserem, é fato. (Por favor, não evoque a lenda da moderadora-que-sabe-ponderar-tudo-isso).

Essa pesquisa foi assim, outras são de outros jeitos, já acompanhei muitas e não sou um especialista no assunto, mas a minha impressão é que uma coisa se repete com frequência: importamos perfeitamente do mundo real apenas a parte ruim, que sem a compensação da parte boa, passa a ser incrivelmente destrutiva.

E se a gente assumisse que não dá para reproduzir o mundo real numa sala de pesquisa e tentasse apenas extrair a opinião de pessoas sobre idéias expostas de um jeito que elas sejam capazes de entender?

Já que não podemos acabar com chuvas em feriado, genes de calvície e pesquisas de animatic, que pelo menos tenhamos guarda-chuva, máquina zero e um pouco mais de bom senso.

Marcelo Nogueira

Nossas pesquisas são bengalas de cego que não quer ver

Tem uma técnica infalível para encontrar a chave, a carteira, o celular perdidos: concentre-se longamente no objeto, observe-o em todos os detalhes na sua cabeça e depois vá fazer outra coisa bem diferente. Quando você menos esperar – talvez tarde demais – o troço aparece. Só tem duas condições pra essa bruxaria funcionar: a sua capacidade de materializar mentalmente e esquecer logo em seguida. Parece tão simples que nem dá pra acreditar.

Já repararam como a gente – da propaganda – faz pesquisa, estudos, inventa moda? É tanta novidade que às vezes, a gente se diverte mais com isso do que com o produto final.

Ou então – e quase sempre – estamos tão perdidos que saímos tateando como um cego na feira. Nossas bengalas, nossas mãos, são essas pesquisas. Raramente elas nos devolvem a visão mas nos confortam com uma ilusão salvadora.

O problema talvez não esteja nas bengalas (claro que a maioria delas é estúpida, careta, mal conduzida e manipulada, mas disso já deu até preguiça falar) mas no cego.

A gente confia tão pouco na nossa visão (na nossa opinião, na nossa intuição, na nossa vivência, nos nossos reflexos) e acredita tanto no método científico que partimos para os estudos sem saber o que queremos descobrir, confirmar, refutar. Sem hipótese.

O resultado das pesquisas é que formulam as hipóteses, e vamos trabalhar, criar, produzir tão cegos quanto antes, só que auto-iludidos.

Mas quando a gente se pergunta antes “o que diabos quero descobrir?”, começamos cheios de certezas. E isso é bom. Como na técnica da chave perdida: quanto mais detalhada a nossa visão mental, melhor.

O segundo passo é ir a campo e observar (não interrogar para não cair na tentação de orientar nossa presunção hipotética). Observar e esperar uma revelação. Como na técnica: quanto mais esquecermos o que diabos estamos fazendo aqui, melhor. Se não pintar nada na pesquisa – acontece – relaxa, use as certezas iniciais no briefing (as hipóteses). A revelação vem depois – talvez tarde demais – mas vem.

Mais cego que cego é cego que não quer ver.

Pesquisa qualitativa é espiritismo

Quando era adolescente, apesar dos alertas místicos da minha mãe, eu adorava fazer a brincadeira espírita. Em volta do copo emborcado, cercado pelas letras do alfabeto, entoávamos, concentrados, “Esprit, es tu lá?” e a entidade rangia respondendo a nossas perguntas.

Certa vez, manifestou-se o avô de um amigo, jazzista famoso, que pediu ao neto para sentar ao piano. O copo bailou em infinitos círculos sobre a mesa. Outra: baixou o espírito do meu tio-avô, em cuja homenagem carrego meu nome. Ele revelou não ter morrido limpando a espingarda, mas suicidando-se em nome de um amor proibido.

Pesquisas qualitativas são sessões espíritas onde a moderadora é o copo, e o espírito esconde-se atrás do espelho.

Se é verdade que esses exercícios são tão previsíveis quanto deseja-se antecipadamente, os consumidores são mentirosos contumazes. Charlatões diplomados, eles vituperam opiniões, concentrados nas coxinhas e na gratificação.

Se as pesquisas qualitativas são um PowerPoint de revelações, elas são um tributo à obviedade, uma demonstração de fé de charlatão, um maldito instrumento de poder e um analgésico da pressão gerencial.

Meu amigo tinha acabado de perder o avô que nunca soube que ele tocava tão bem. Premido pela inocente paixão, eu perguntava-me se a morte era legítima demonstração de amor.

A inocência é filha bastarda da manipulação.

Não brincávamos com o copo para reconciliar-nos com a fé. Antes queríamos a manifestação de nossa vontade reprimida.

Não devemos brincar de pesquisa qualitativa para ver o espírito da verdade apontar o caminho. Antes devemos vê-la como o necessário alívio da nossa intuição.

Pesquisas terráqueas

B55 acabou de cair na Terra, depois de uma meteórica viagem oriunda de Wig, um asteróide muito além da Via Láctea.

O espaço em que aterrissou era reduzido, escuro e desconfortável. Muitos pés balançavam de um lado para o outro embaixo da mesa de reunião, e B55 se desviava penosamente dos chutes.

Quando finalmente encontrou um lugar mais seguro, ele acocorou-se atento às movimentações e às falas.

Lá pelas tantas, B55 sentiu sono e deu uma longa cochilada que só terminou quando Marília agachou-se para apanhar sua bolsa. A reunião tinha terminado.

– Ei, o que é você?
– Eu não sou uma coisa.
– Não? Então quem é você?
– B55, de Wig
– O que faz aqui?
– Vim pesquisar
– Eu sou de pesquisa também.
– Coincidência. E o que você pesquisa?
– Pesquiso os hábitos dos consumidores
– Consumidores?
– Sim, pessoas em geral que potencialmente podem ser nossos clientes
– Entendo. Mas por que você quer saber os seus hábitos?
– Ué, primeiro para encontrá-los.
– Eles se escondem?
– Às vezes, mas nossas ferramentas permitem desentocá-los através de técnicas de sedução.
– Você seduz as pessoas?
– Claro! Com mensagens adequadamente “adressadas”, é possível “clarificar” com muita “sutilidade” e “atenciosidade” os impulsos mais profundos dos nossos targets.
– Ummm. Acho que entendo. A partir dessas pesquisas, vocês encontram as pessoas para falar com elas. Sobre o quê?
– Eu poderia dizer que é sobre as virtudes e atributos de nossas marcas, serviços e produtos, mas já evoluímos.
– Já?
– Muito! Agora não falamos mais das nossas marcas, falamos dos nossos consumidores, sobre o que eles querem, sonham, aspiram, desejam. Somos focados nas emoções dos consumidores.
– Evolução?
– Claro! Antigamente, nós pesquisávamos o DNA das nossas marcas; agora, somos to-tal-men-te centrados no consumidor.
– DNA? Marcas têm DNA, como humanos?
– Têm, mas isso não tem importância mais. Evoluímos.
– Para pesquisar o DNA dos humanos?
– Pode-se dizer que sim, ou se preferir, o DNA das emoções dos consumidores.
– E para que serve isso mesmo?
– Para saber o que dizer para nossos consumidores
– E o que você diz para eles?
– O que eles querem ouvir.
– O que eles querem ouvir?
– Que nós os amamos.
– O que eles querem ouvir?
– Que nós entendemos eles.
– O que eles querem ouvir?
– Que nós existimos para eles, entende?
– O que eles querem ouvir?
– Já falei.
– Mas o que eles querem ouvir?
– Que eles têm que comprar nossas marcas, diabos!
– Agora entendi.
– E você, o que pesquisa?
– Piadas terráqueas para meus amigos. Obrigado!

Ass shield

O que é determinante numa relação agência/anunciante? Será a criatividade? Será a mídia? Será o atendimento? O planejamento? As incursões fora da caixa? As pirações consultivas? A integração das disciplinas, as jujubas e os biscoito de povilho nas reuniões? Ou os intermináveis e anti-diluvianos almoços?

Nada disso. O que é determinante é precisamente a relação. Ou se preferirem, o contrato, o laço na doença e na saúde, na pobreza e na riqueza, até que o divórcio nos separe.

Mesmo que não haja nenhum acordo que garanta uma virtual sociedade, ainda assim, uma agência é – e deve ser, por definição, solidária com os interesses das marcas com as quais trabalha.

Esse é o cimento que nos une.

No entanto, muitos são os outros possíveis contratos entre anunciantes e seus parceiros. Por exemplo a grandiloqüente, vistosa, custosa e como decisiva relação com institutos de pesquisa.

Não é de ontem que esse importante elo que conecta – ou deveria conectar – a realidade do consumidor com a do anunciante e por conseqüente da agência, ganha importâncias estratégicas crescentes, por vezes dogmáticas, transcendentais, onipresentes e potentes.

“Pesquisa, tu é pedra e sobre essa pedra edificarei minha marca”.

A pesquisa briefa e debriefa, a pesquisa conceitua, testa, pré-testa, pos-testa. Recomenda e descarta.

Água benta sagrada e espada inclemente.

E depois de ungir as decisões, cai fora, pica a mula, vira as costas e parte para outros sacramentos.

Enquanto isso, o anunciante e a agência se viram com a sopa de números, as frases de efeito, as verbalizações, as normas. Ajoelham-se no milho e pagam penitência. Afinal, somos solidários. Sofremos e ganhamos juntos. Essa é a relação que nos une.

A equação é simples e de uma lógica elementar.

Supomos – suposição muito suportável – que grande parte das campanhas que estão no ar hoje foram exaustivamente testadas e aprovadas. Na boa, quem afirmaria que, na média, a propaganda que vemos, hoje, é boa? Sem aquelas clássicas respostas de que o que é bom para a gente não é necessariamente bom pro povo (ou pro target), olho no espelho, você com você – ninguém está te ouvindo – anunciante, publicitário, pesquiseiro: você curte, vibra, se emociona, dá risada no break?

E quando tudo foi testado e aprovado mas os resultados esperados não são alcançados, onde diabos se escondeu o instituto que recomendou aquela porcaria que está no ar?

Ah sim, a culpa deve ser da mídia, do atendimento, da criação, dos concorrentes, do governo, da borboleta que bateu asas no Japão.

Pois, se há justiça, que tal se os institutos de pesquisa, de tanto poder que lhes é conferido, compartilhassem conosco – agências e anunciantes – o calvário até o juízo final? Inclusive na remuneração.

A menos, claro, que a pesquisa seja apenas um ass shield para indecisos, covardes ou medíocres. E sabemos que não é – ou não deveria ser.

Pesquisa: ópio do marketing

Os grandes generais, comerciantes, legisladores, pensadores e até heróis, lá na Grécia, antes de qualquer batalha, negócio, decisão, hipótese e ato de bravura consultavam as estrelas, os augúrios siderais. Consideravam.

Na origem, considerar (cum + siderare) significava examinar com cuidado e respeito religioso os astros, segundo os princípios da astrologia. Ao pé da letra, estar (em reflexão) com as estrelas. Considerar sobre algo significa ler as estrelas, ler o futuro. Ou, para simplificar, pedir a opinião de Deus.

Pedir a opinião de Deus é rezar. Mas Deus nem sempre responde, aliás, geralmente não responde. Pois as respostas vêm através de sinais, casualidades, arrepios, sonhos. Ou, para simplificar, intuições.

E, para simplificar novamente, no passado ninguém dava um pum sem usar a “intuição positivada através das considerações divinas”.

Até que rolaram grandes coisas com essa ferramenta: por exemplo, os gregos destruíram Tróia, Alexandre conquistou o mundo, Adriano fez a grande Pax Romana.

Pesquisa contra intuição

Hoje muita coisa mudou. Ninguém liga mais para as estrelas, nem para Deus, nem para coisa nenhuma. A intuição é um veneno nefasto. É coisa do demo, de satanás, do “mardito” chifrudo. A intuição leva ao mau caminho.

Do alto das nossas estratégias, nossos modelos estatísticos, nossas teorias marketísticas-propagandistas, a gente substitui a “leitura das estrelas” pelas pesquisas com os consumidores e a intuição, pelo “cagaço conservador”.

Daí, a gente disseca os consumidores, tipifica-os e os encarcera em questionários cartesianos ou salas fedendo a coxinha, tabelas, gráficos, apresentações de power-point e análises recheadas de clichês.

Depois desse monte de científicas certezas, a gente toma decisão: corta aqui, disseca dali, aumenta cá, suaviza acolá. Agora sim, riscos minimizados, vamos arrasar, fazer wow, causar orgasmos consumistas desenfreados: carnificina.

Ou, então, depois desse amontoado de modelos estatísticos, a gente se posiciona: lê tudo, faz de conta ser sério, compenetrado, focado. Agora sim, podemos decidir o que apresentar: o chart que confirma a vaidade, o preconceito ou a opinião politicamente correta. Os demais, contraditórios ou muito ruins, jogo no lixo, desconsidero e omito: mentira.

É para isso que a gente faz pesquisa? Para assassinar idéias ou para transferir autorias? Carnificinas científicas. É para isso que a gente faz pesquisa? Para trapacear ou masturbar o ego? Mentiras científicas.

A gente não dá um pum sem fazer pesquisas. Mas as pesquisas têm, muitas vezes, servido para frustrar ou substituir a intuição. Ao invés de serem missais inspiradores, são catecismos inquisidores.

Vício processual: as metodologias

O primeiro erro da maioria das pesquisas consiste na sua própria liturgia formal. Um erro quântico: a simples observação altera a realidade. O fato de colocar o consumidor como agente “ativo” é uma situação artificial que leva a conclusões artificiais ou mentirosas.

Ainda que se assuma não existir “autenticidade” pura – a vida é uma constante representação – as técnicas de pesquisa de mercado devem ser, ad extremis, neutras, invisíveis, passivas. Quanto mais próximos conseguirmos estar da “espionagem”, mais próximos estaremos da autenticidade ou, no mínimo, da representação menos fabricada que se possa ter do entrevistado.

Epidemia eufórica: sacralizando resultados

Uma vez que a pesquisa de mercado se tornou uma prática rotineira, assusta perceber que é sempre a última em título que está valendo. Ela influencia subliminar, maliciosa e inconscientemente. As conclusões, por mais furtivas, supérfluas ou impertinentes, tornam-se verdades absolutas.

Interpretação: o perigo dos oráculos incompetentes

O maior de todos os erros está na interpretação dos resultados, pois elas se substituem à tomada de decisão. Com as pesquisas, os decisores eximem-se dos riscos e, na pior das configurações, os analistas – externos e independentes – são soberanos nas opções da marca.

Pesquisa é diagnóstico, não é atestado de vacinação.

A menos que aceitemos que o arsenal investigativo (e conclusivo) das pesquisas tem a utilidade esperta de se substituir à capacidade, ao talento, à experiência, à capacidade de tomar decisões: quando as pessoas são ruins e fracas, pelo menos a pesquisa impede o desastre.

Pesquisa: insumo da intuição

Mas pesquisa é insumo da inteligência e não inteligência em si. Não é ferramenta, é matéria prima de marketing.

É vital quando somos capazes de transcender as regras e os cabrestos, quando é para:

– Considerar, conectar-se. Pesquisa é uma religião no sentido etimológico da palavra: religar-se com o consumidor.

– Inspirar, nutrir a intuição. Pesquisa é para iniciados. Não é para heréticos, ignorantes ou despreparados que se barricam atrás de pseudociências.

– Batizar e comprovar. Pesquisa é para dizer, lá na frente: “Viu como deu certo?” ou “Viu como deu errado?” Pesquisa não é censura e não é para bundões.

Pesquisa é profissão de fé, e não auto-de-fé.

Se você acredita em pesquisas, não leia.

A redação teve acesso confidencial ao diálogo eletrônico entre duas eminentes personalidades. Por força da privacidade dos indíviduos, manteremos seus nomes no anonimato. O debate é obviamente cifrado mas as conclusões são surpreendentes.

Senhor X (18:35 PM) : Meu Deus! Acabei de fazer uma descoberta incrível com a pesquisa: quem tem umbigo saltado para fora tem mais probabilidade de ser homossexual ou bissexual.

Senhor Y (18:35 PM) : Que loucura é essa?

Senhor X (18:36 PM) : É o resultado da pesquisa. Estou fazendo os cruzamentos e percebi que uma porcentagem bem maior dos que responderam que são homossexuais ou bissexuais têm o umbigo para fora.

Senhor Y (18:38 PM) : E qual seria explicação? Será que existe um ponto de comunicação entre o anus e o buraco do umbigo?

Senhor X (18:39 PM) : Pode ser. O umbigo para fora dá um efeito gravitacional que incomoda o anus (um vácuo), causando uma incrível vontade de preencher esse espaço.

Senhor Y (18:40 PM) : Eu diria que, ao introduzir, o membro no anus, o umbigo tem que sair para fora e dar espaço.

Senhor X (18:40 PM) : humm, bem pensado, mas aí não quer dizer que a probalidade de quem tem o umbigo para fora será homossexual e sim que todo homossexual tem o umbigo para fora porque o membro de alguém empurrou.

Senhor Y (18:42 PM) : Mas a ordem do produto não altera a conclusão da pesquisa: se a maioria dos homossexuais tem umbigo para fora, é sinal que a teoria é válida. Para aqueles da amostra que não se enquadram na categoria de umbigo para fora mas são homossexuais, a conclusão é de que eles não são passivos ou que o membro do amante é pequeno.
Senhor X (18:43 PM) : Pode ser. Mas então eu tenho que inverter a conclusão: ao invés de dizer que quem tem umbigo para fora tem maior probabilidade de ser homossexual, tenho que dizer que todo homossexual tem maior probabilidade de ter o umbigo para fora.

Senhor Y (18:45 PM) : isso…

Senhor X (18:46 PM) : As pesquisas são reveladoras. E quando sérias, como a nossa, bombásticas.

Senhor Y (18:48 PM) : Quando dizemos que uma pessoa só olha para o próprio umbigo, estamos subentendendo que ela é homossexual?

Senhor X (18:49 PM) : É possível.

Senhor Y (18:50 PM) : E aquela frase “mais por fora que umbigo de índio”

Senhor X (18:50 PM) : Índio é promiscuo, todo mundo sabe.

Senhor Y (18:50 PM) : Está explicado porque estão em extinção.

Senhor X (18:50 PM) : É, creio que esse deve ser o principal motivo.

Senhor Y (18:51 PM) : Enfim encontramos uma utilidade para o umbigo!

Senhor X (18:51 PM) : É verdade.

Senhor Y (18:51 PM) : Ele é um identificador de homossexualismo. Como aquele termômetro do peru da sadia. Aliás, agora entendo também porque chamamos o membro masculino de peru.

Senhor X (18:52 PM): Quando a pesquisa será publicada?

Senhor Y (18:52 PM): Amanhã, darei uma coletiva de divulgação dos resultados.

Senhor X (18:52): Essa informação constará no relatório?

Senhor Y (18:52): É claro que não. Pesquisas não são feitas para causar surpresas. Elas devem confirmar o que todo mundo já sabe. Iremos omitir essa informação.

Senhor X (18:52): Entendo.

Senhor Y (18:52): Até logo.

Senhor X (18:53): Até.

O que ninguém viu ou quer ver das pesquisas da Internet.

A Internet é mídia para todos.

Desde sempre, digo, desde que a Internet é a Internet, as cabeças pensantes que analisam o meio assumiram que o público consumidor desse meio pertence ao mesmo meio delas: pessoas bem-nascidas, bem-apessoadas, modernas, antenadas e com a conta bancária recheada de dólares para gastar em Nova York, Londres ou Paris, cidades essas, aliás, onde moram virtualmente, mesmo comendo o pãozinho do seu Manoel todo dia de manhã, na padoca da esquina.

É natural e confortável pensar que um meio tão novo tenha berço de ouro. Afinal de contas, em um país como o nosso, as classes dominantes encastelaram-se atrás de sua presumida superioridade de consumo, seja por medo, seja por preguiça de olhar além de seus Morumbis-beaches.

No entanto, parece claro também que em um meio como a Internet, cujo conceito filosófico é de aproximar as pessoas, democratizar a sociedade e revolucionar as transações de consumo, é de se supor que exista um paradoxo latente entre proposta e prática.

Isso sempre nos deixou perplexos e, por que não dizer?, inconformados. Por tabela, o trabalho diário com marcas populares, vendidas indiscriminadamente para todas as classes de pessoas e aqui mesmo, no Brasil, que abriga pacificamente Morumbis-beaches e Heliópoilis-gandas, deixa-nos decepcionados com o futuro da Internet como meio de comunicação.

Existem muitas explicações para justificar o acesso restrito das classes C, D e E à Internet. Nem preciso enumerá-las porque sempre serviram de muleta para justificar o paradigma de que o computador, a linha telefônica e a Web estão definitivamente confinados no guetto dourado das classes AB.

Mas analisando com mais cuidado a pesquisa IBOPE-POP de maio, parece que os números apontam para uma direção oposta. O mais surpreendente é que ninguém tenha se debruçado sobre a penetração da Internet nas classes C, D e E.

Pois fizemos essa singela observação.
Aí vão os resultados:

Penetração da Internet em casa e/ou no trabalho – crescimento de fevereiro 2000 a maio 2001.

– Classe A: de 63% para 83%
– Classe B: de 29% para 43%
– Classe C: de 9% para 17%
– Classes D/E: de 4% para 8%

Apenas com esses números, constata-se que o crescimento em números relativos foi de respectivamente:

– Classe A: 31%
– Classe B: 48%
– Classe C: 88%
– Classes D/E: 100%

Daí a primeira conclusão: o crescimento da penetração da Internet em casa e/ou no trabalho foi tanto maior quanto mais pobre era a classe social.

Mas tem mais. Em números absolutos essa conclusão fica ainda mais impressionante. Vejamos (em milhões de pessoas):

– Classe A: de 1,9 para 2,4
– Classe B: de 2,6 para 4
– Classe C: de 1,2 para 2,4
– Classes D/E: de 0,5 para 1

O crescimento é portanto de:

– Classe A: 26%
– Classe B: 53%
– Classe C: 100%
– Classes D/E: 100%

Segunda conclusão, portanto, é que como as classes A e B têm um crescimento muito menor do que as classes C, D e E (sinal claro do empobrecimento da população), quando olhamos o crescimento da penetração da Internet com números absolutos nas classes C, D e E, o resultado fica ainda mais significativo.

O que queremos sugerir aqui é nada mais nada menos do que uma hipótese de que as classes C, D e E têm tido cada vez mais e cada vais mais rápido acesso à Internet. É claro que esses números merecem mais análise. Mas a hipótese está levantada.

Eu faria uma pequena ressalva apenas na nossa conclusão. Esse crescimento que apontamos é um pouco inferior quando formos analisar os números de penetração da Internet apenas em casa. Claro. Mas isso não inviabiliza em absoluto a hipótese de que a Internet é um meio em vias de se tornar popular. Isso porque a Web tem algo que nenhuma outra mídia tem: ela é mídia, INCLUSIVE, no local de trabalho, enquanto as demais, as tradicionais atingem mais e melhor o público em casa. A Web, os veículos da Web atingem o público, o consumidor quando ele está em casa E quando ele está trabalhando. Isso é muito relevante porque propõe uma maneira diferente de atingir o consumidor. Não mais aquele cara atrás da TV em casa, à noite com a família, mas o mesmo cara também atrás do seu computador no seu local de trabalho. Daí, piramos para papos de convergência e coisa e tal. Mas não quero entrar nessa seara porque esse não é o tema deste artigo.

Finalmente, gostaríamos de abrir o debate e, temos certeza, esse debate vai ser muito interessante porque vai nos ensinar a ver o consumidor de uma forma totalmente diferente. Vai nos ensinar a fazer veículos on-line totalmente diferentes. Vai nos ensinar a fazer propaganda na Web de uma forma totalmente diferente. Vai nos ensinar finalmente a olhar para essa mídia com os olhos que ela merece, a saber, como uma mídia de verdade.

Pesquisa na Web: o tradicional revisitado.

Aconteceu na semana de 10 a 12 de abril o congresso mundial da ESOMAR em Dublin cujo tema tinha o sugestivo nome de Net Effect 3.

Que a Internet é a bolha da vez, ninguém mais tem dúvida mas nesse mar de informação, especulação, profecias e tendências é certo que todos estão estressadamente perdidos e aflitos. O Net Effect é tão profundo e novo que todos os agentes da nossa sociedade estão sendo provocados bem no olho do furacão. Existe pouco espaço e timing para recuar, refletir e planejar.

Paralelamente a esse efeito pertubador, discursos neo-maio de 1968 estão na ordem do dia, revolucionando práticas antigas ou passando um rolo compressor sem pena nem dó em metodologias que se provaram eficientes no passado.

Neste cenário apocalíptico, é um alento ver velhos e calejados atores dando uma visão madura da situação.

Esta foi a primeira impressão que tivemos ao chegar no congresso da ESOMAR e que se traduziu pouco a pouco em conforto e segurança na medida em que cases e técnicas iam sendo expostos. E de lá saímos com a certeza que se muita coisa mudou e está mudando não é necessário nem inteligente fazer tábua rasa para reconstruir o mundo.

O propósito do congresso era portanto de relatar de que forma a pesquisa como ferramenta de marketing podia ser usada nesse “novo” ambiente e como tirar proveito das particularidades no meio.

Vale dizer ainda, a título de introdução que a pesquisa online está em um estágio de sofisticação que não suspeitávamos e que seu uso está se disseminando de uma forma decisiva nos principais mercados do mundo.

Vamos aos principais pontos abordados e àqueles que mais chamaram nossa atenção.

Prós e contras da pesquisa online.

A título de definição qualificamos de “pesquisa online” toda técnica de pesquisa que se utiliza do suporte da Internet para ser levada a cabo tanto no campo quanto na avaliação e análise dos resultados.

Os dois grandes trunfos que fazem toda a diferença nesse tipo de pesquisa são:

– Redução do tempo de realização e tabulação dos resultados
– Redução significativa de custo.

Acessoriamente, algumas qualidades adicionais podem ser elencadas como:

– Facilidade de acessar targets mais difíceis
– Abertura extremamente simplificada para a realização de pesquisas internacionais.

É evidente, no entanto, que, ainda que poderosos, os trunfos da utilização do suporte da Internet para a pesquisa não deverão, ao menos no horizonte visível, substituir por completo as pesquisas off line uma vez que:

– A penetração da Web no universo a ser pesquisado nem sempre é representativa
– Inputs não verbais não podem ser analizados e considerados
– Em pesquisas qualitativas por exemplo o fator dinâmica do grupo fica em segundo plano
– Existe uma impossibilidade práticas de estimular os pesquisados com materiais / produtos físicos.

Por fim não podemos esquecer que numa relação online, a informação é sempre formalizada de alguma forma. Portanto, todas aquelas atitudinais ou comportamentais são de difícil reprodução e análise quando se faz uso da Internet como suporte, ao menos no estágio em que ela se encontra hoje.

Técnicas mais usadas na pesquisa online.

Mais um alento aqui. Algumas das técnicas de pesquisa clássicas são perfeitamente aplicáveis na Internet:

– Qualitativas

– O Focus Group já é extremamente usado, fazendo-se valer de softwares especialmente desenvolvidos para este fim (chat assitido com mediador). O email puro e simples também é usado quando a presença simultânea dos entrevistados não é necessária.

– Entrevistas em profundidade são largamente usadas também, particularmente quando é necessário acompanhar o usuário em um teste de interface por exemplo. Aplicativos muito sofisticados estão disponíveis para esse fim.

– Quantitativas

– Paineis de consumidores são largamente usados nos Estados Unidos e na Europa, alguns deles com mais de 6 milhões de integrantes conhecidos com grande precisão em termos de perfil.

– O chamado “pop-up survey” a exemplo das pesquisas Cadê-Ibope ou da F/Nazca – Zipmail podem ser muito eficientes quando se deseja conhecer perfis de públicos.

– Mystery Shopping

Essa prática é relativamente nova mas vem sendo usada com resultados muito interessantes em alguns dos maiores sites de e-commerce do mundo. Essa prática consiste na visita inesperada de um pesquisador que irá realizar periodicamente compras nos sites e avaliar a partir de então o nível do atendimento e dos serviços.

Os desafios da pesquisa online.

O uso da Web para a realização de pesquisa é extremamente tentador e, embora não haja nenhuma prática revolucionária em termos de metodologia, existem algumas questões chave a serem resolvidas, a saber:

– A escolha do método certo para atender o objetivo traçado, embora não seja propriamente uma novidade, tem nesse ambiente outras implicações de ordem técnológicas. Como deve ser um questionário online? Qual é o número de pessoas ideal de uma cyber quali? Quantos devem ser os mediadores? Quais são suas características?

– A questão do recrutamento é também chave. Como garantir a integridade das informações de um painel de consumidores? Como minimizar o turn-over dos integrantes? Como “fidelizar” os integrantes?

– Finalmente a questão da privacidade é uma das mais debatidas e que aparentemente, ao menos para os integrantes da ESOMAR, está em vias de ser totalmente normatizada. Para esse fim, a associação já elaborou um código ético de normas que deverá ser respeitado e que prevê uma série de compromissos e deveres muito completa.

Pesquisa de mercado e e-commerce

A grande onda de iniciativas do tipo “bandeira na lua” ou seja “preciso lançar urgentemente o site custe o que custar, até mesmo a qualidade do serviço” em que o grande desafio consistia em adquirir, no mais curto período de tempo a maior base possível de clientes já passou. A maioria dos grandes sites de e-commerce do mundo está hoje muito mais preocupada em manter (retain), fidelizar e relacionar-se de forma individual com seus clientes. Para esse fim, a pesquisa online é sem dúvida uma poderosíssima ferramenta que serve de suporte a todas as decisões estratégicas, não só do ponto de vista de comunicação, mas até mesmo de direcionamento do negócio.

Data mining X pesquisa online

E uma pratica hoje comum e que possui uma empatia tecnica inegavel com o meio o uso de tecnicas de data mining de bases de dados de usuarios de sites. Essas ferramentas ja nasceram com a Internet. Gracas a elas e possivel fornecer um nivel de customizacao de conteudos e servicos automatica e transparente em qualquer site “profissional”. Assim, pela competente analise de habitos de compras e navegacao em um determinado site de compras por exemplo, e possivel e recomedavel selecionar ofertas, adaptar conteudos, estimular compras em total sinergia com o perfil do publico. Esta “inovacao” e sem duvida um divisor de aguas na desejavel relacao one-to-one tipica do novo meio. Mas sera que esse tipo de pratica e suficiente para fidelizar clientes? E evidente que nao e mais uma vez as tecnicas tradicionais de pesquisa (agora usando um novo suporte) vem socorrer toda as grandes estrategias online. Porque e obvio que, se fazer um data mining e importante, as informacoes que dele provem estao sempre baseadas em criterios objetivos de atitudes de navegacao e habitos. No entanto, o que dizer daqueles subjetivos? Como avaliar a partir de uma analise criteriosa dos log files de um site uma questao importante como intencao de compras? Como avaliar razoes e motivos da compra? O Data mining, por mais sofisticado que seja nao e capaz de analisar dados nao formais. E aqui, mais uma vez, a pesquisa, numa nova roupagem, mas ainda pesquisa, vem socorrer essa imperiosa necessidade. Nem tudo se resolve entre bits e bytes ou em linhas de codigos.

Afericao de audiencia: a busca de um padrao

Uma das maiores resistencia por parte dos anunciantes para dirigir esforcos mais consistentes para a midia online tem sido a dificuldade de encontrar padroes universais de medicao de audiencia. Existem pelo menos uma meia duzia de formas de calculo que nao falam entre si e que dificultam muito a avaliacao racional dos meios digitais. Por outro lado, muitos veiculos estao preocupados com a proliferacao das chamadas ad-serving company que tem como proposta basica se substituir aos tradicionais institutos de pesquisa. A dificuldade aqui e que ao inves de buscar um padrao, os veiculos estao ficando a merce dessas empresas. Na hora de planejar uma campanha, as agencias sao obrigadas a comparar aboboras com abacaxis e a tomada de decisao e totalmente imprecisa e pouco “cientifica”. Da mesma forma, nao existe padronizacao alguma das terminologias dos dados secundarios coletados. Nasceu no ano passado nos Estados Unidos um progeto que congrega os mais variados agentes do meio que promete uma padronizacao de afericao de audiencia nos moldes das que existem em outros meios. Trata-se do FAST que, como o nome sugere, e um assunto urgente e vital para que a midia online seja trabalhada de forma tecnica e precisa. Se tudo correr bem, este projeto devera estar concluido no segundo semestre no mercado americano e aportar por aqui no final do ano.

Dois exemplos de ferramentas: VRROOM e Insight Express.

A ESOMAR tambem apresentou uma serie de softwares e aplicativos facilitadores para a realizacao de pesquisas online. Destacamos dois deles a titulo de exemplo embora muitos outros foram demonstrados e surpreenderam o auditorio pelo seu grau de sofisticacao.

VRROOM (www.vrroom.com) : Trata-se de um software de elaboracao de Focus Group com chat online. O aplicativo e sofisticado e permite conduzir pesquisas que simulam a perfeicao as tradicionais salas com espelho. Este software permite por exemplo a participacao do cliente, a exclusao de entrevistados indesejados, testes de interfaces ou pecas de webvertising com avaliacao grafica online, transcricao automatica, seguranca total (o teclado dos usuarios pode ser bloqueado caso a peca em questao for sigilosa), etc. Vale a pena conferir.

Insight Express (www.insightexpress.com): O conceito aqui e bastante inovador. E basicamente um painel de consumidores que permite, online, fazer-se um rapida sondagem para testar conceitos, ideias ou ate mesmo pecas criativas. Atraves do site, define-se qual e o perfil do target, qual o tamanho do painel desejado e, em algumas horas, e possivel obter uma sondagem da avaliacao do grupo. Os resultados sao fornecidos de forma grafica, com tabulacao automatica com possibilidade de customizar o cruzamento dos dados. Tudo isso custando de US$ 300 a US$ 5000 dependendo da sofisticacao. O Insight Express nao tem a pretensao de ser uma “pesquisa” mas e uma poderosissima ferramenta ate mesmo para direcionar uma pesquisa mais acurada.

A guisa de conclusao, vale mais uma vez ressaltar que, embora estejamos todos vivendo o sonho da nova economia nos quais incontaveis paradigmas vem sendo quebrados, armas e ferramentas antigas ainda sao eficientes, principalmente quando turbinadas por esse novo meio.

Nao existe, em absoluto, uma especie de “concorrencia” entre velha e nova economia, entre virtual e real. Isso e bobagem. O virtual precisa do real para aprender e o real do virtual para sobreviver.