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O políticamente correto: outra forma de censura

O que mais inquieta, com a revolução dos meios de comunicação, com o acesso irrestrito ao megafone virtual e com a multiplicação das plataformas de leitura, não é nem tanto a pulverização da atenção, agora fragmentada ao infinito. Disso já sabíamos.

O que assombra é perceber a dificuldade que as pessoas têm de entender o que lêem. O analfabetismo de entendimento, se ele sempre existiu, está doravante escancarado.

Esse blog escreveu um pequeno texto (A propaganda do futuro) sobre sua visão do futuro. Dizia-se preocupado com a hipocrisia do políticamente correto que censura a expressão e coloca cabrestos idiotizantes na propaganda. E para colocar de outra forma polêmica e radical – pois não há outra maneira de despertar a acomodação do raciocínio – vivemos sob o julgo de uma censura com pele de cordeiro.

Pois assim, dou livre cobertura a um comentário do post que não autorizei de imeditado pois me parecia merecedor de destaque.

Disse o leitor, na íntegra, sem correções:

“Aumentou muito o número de blogueiros aqui no site da EXAME, e a qualidade caiu, como este último post, que fala mas não diz nada. No meio de tanta baboseira, diz “gordos, feios e sujos… ” blá, blá. Ora, eu sou gordo, e não gosto de ver a palavra “gordo” como se fosse algo diferente. Totalmente reprovável. Acho que EXAME deveria selecionar melhor os blogueiros. O que dizer e um indivíduo que se apresenta como quem “binca com o…… (Leia na apresentação do bloqueiro no top da página”.

Dizia o texto que originou sua manifestação:

…no hipotético futuro as pessoas vão perceber que fumar não é um crime de lesa-pátria; que chupar chupeta não provoca um holocausto; que gordos, feios e sujos são gordos, feios e sujos; que mulher é diferente de homem e que homem é diferente de mulher; que homens gostam de ver mulheres bonitas e mulheres gostam de ver homens bonitos; e mulheres, mulheres e homens, homens também; que a sátira não é uma ofensa e que não existe humor sem sátira; que o mundo sem humor é chato e monótono e, finalmente, que propaganda é só propaganda.”

Os leitores precipitados procuram detectar ironias e sub-entendidos onde eles não existem e são incapazes de percebê-los onde os a. Nesse caso, não havia nenhum: gordo é gordo e não há nada de errado em tratar um gordo como gordo. Não é uma questão de interpretação, mas de constatação. Não há nenhum julgamento de valor, nenhum.

O que se dizia é que a censura do políticamente correto impõe-nos, quando muito, dourar a pílula com eufemismos: forte ao invés de gordo, avantajado, proeminente, espaçoso.

O politicamente correto é que proíbe o gordo de ser, simplesmente, gordo.

O politicamente correto carece de energia e exala hipocrisia ou burrice por todos os poros.