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Rede social já era

As redes sociais bombam no mundo inteiro. Sabe aqueles números grotescos que adoramos apresentar para convencer os incautos? O tamanho do Facebook no mundo, do Orkut no Brasil, aquelas falácias clássicas da marca X que saiu do anonimato da noite pro dia com uma estratégia (sic) de redes sociais (sic sic)? É tudo verdade mas esse assunto perdeu a graça. É papo de evangelizador neófito, blablabla de imprensa pretensamente antenada.

Muito mais fascinante é antever, ou desenhar cenários de tendências. O que vem depois?

A anatomia da Internet pressupõe a explosão ad infinitum dos canais de comunicação, a atomização extrema das vozes. No limite, cada pessoa é emissora, veículo, canal, mídia.

Funciona mais ou menos assim: descubro primeiro que, de forma simples e barata, minha voz pode ser ouvida por quem me interessa. Depois, percebo que também posso atingir pessoas que nem suspeito que existam. Na seqüencia, saco que esses anônimos todos podem me interessar. Fico muito empolgado.

Minha primeira experiência é entrar nos canais que já me dão espaço. Entro nos veículos tradicionais e boto a boca no trombone. Mas e se eu pegasse um lotezinho numa comunidade? É mais simples, menos travado, dá mais liberdade. Vou lá fazer meu perfil no orkut, no facebook.

Quando eu melhoro de vida, resolvo ambicionar um lugar pra chamar de meu. Sonho sair do Cingapura, do BNH. E começo pequenininho, compro um terreninho, ensaio meu bloguezinho. Tomo gosto. Melhoro de vida e meu lugar  – que chamo de meu – cresce, fica bacana, recebo visitas, dou festas, cresce e aparece.

Pra que colaborar na casa dos outros? Pra que morar num balança-mas-não-cai? Pra que ficar na periferia? Desisto de comentar notícia nos veículos online, abandono meus perfis de rede social, e viro minha própria Rede Globo.

É por isso que o hoje já é ontem, na Internet. Facebook, Orkut? Old fashion!

A conectividade é mais potencial do que real

Costumamos professar o novo paradigma desses nossos tempos: o olho foi para o dedo. Consumir informação e conteúdo é ato voluntário e volúvel ao extremo.

A recitação do mantra libertário nos leva a concluir precipitadamente que a imersão é completa e absoluta, mas se um terço dos brasileiros tem acesso à Internet, isso não significa, no entanto, muita coisa além de uma tendência, uma perspectiva, uma esperança.

As estatísticas são vagas, mas esse contingente colossal, na sua enorme maioria, continua comportando-se exatamente como a Dona Maria que assiste TV enquanto passa uma pilha de roupas: a atividade ainda é esporádica. Não ultrapassa em cliques no teclado, aqueles dados no controle remoto.

Os que barbarizam abrindo tab sobre tab no browser enquanto fuxicam em comunicadores instantâneos, espalhafatam em perfis sociais e compram chocolate em Paris sem sair da poltrona, ainda são poucos. Aqueles que copiam e colam, mushapeiam e produzem conteúdo, menos ainda.

Tendemos a acreditar que o sujeito que assiste um comercial no Youtube, se linka nele, posta nos blogs, twitta pra lá e pra cá aquele brilhante conteúdo publicitário “integrado” em todas as pretensiosas estratégias de redes sociais que criamos. É desconhecer demais a volatilidade das audiências.

Se convém ser abrangente e cobrir variadas plataformas, é boba a ilusão de achar que cada iniciativa vai suportar, incentivar, inflar e torcer pela outra. Esse tipo de raciocínio além de suscitar expectativas equivocadas, leva também a sub-utilizar cada iniciativa individual: a soma de muita coisa “mais ou menos” não significa que o total vai ser muito bom.

Por essas e outras, a maioria das estratégias on-line é muito boa como estratégia e muito ruim no resultado, porque a gente fica achando, sempre, que o povo está muito mais conectado do que realmente está, deseja estar e jamais estará.

Se pode botox, photoshop pode

–    Edna para Marina: Querida, você por aqui? Quem diria que você iria se render à tecnologia! Você tá um show na foto!
–    Marina para Edna: Obrigado, fofa. Quanto tempo né? Viu minha menina que linda?
–    Edna para Marina: Loirona linda, um pecado! Como crescem rápido, não é mesmo?
–    Marina para Edna: A Pita é morena. A loira sou eu hahahaha
–    Edna para Marina: Ah tá, claro, nossa, os anos não passam para você. Beijão.

Uma tia antiga era muito vaidosa. Ela não podia ver uma superfície brilhante que ela já posava, com olhar “fatale” e a boca trejeitando “je suis comme je suis, je suis faite comme ça ” (olhar caô e trejeito de cachorra, em livre tradução contemporânea). Seu melhor lado era o esquerdo, de esguelha, e como ela estava sempre se mirando, a gente só via o direito, o ruim. O bom, era só pra ela.

Você nunca reparou que ninguém percebe que aquela foto lá não foi exatamente ontem, nem naquele todo dia que você vive? Que nunca comentaram aquele ligeiro borrado providencial no rosto? Ou ainda a prestidigitação do fotografo cujo olhar lhe fez tão belamente natural ou naturalmente belo?

Nunca, porque todo post num perfil amigo ou prospect, tem telhado de vidro. Basta clicar de volta e checar as mesmas providências estilísticas no tratamento do remetente.

Para quem serve tantas horas esculpindo um perfil na web? Antes dos outros, o exercício de auto-definição e auto-projeção é bom pra si. O narcisismo é um prazer difuso, a termo, e o gozo em perspectiva é infinito.

Para despir-se do ego, precisa ter um. Cultivez votre jardin, mon cher Candide!