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A culpa e a Internet

A Internet foi um enorme salto quantitativo na comunicação interpessoal. Encolheu o tempo e o espaço. Mais rapidamente interagimos, resgatamos relações esquecidas e tanto faz se estamos a cem ou cem mil quilômetros de distância. E tomamos gosto com essa incontinência comunicativa. Isso nos dar uma espécie de poder sobre a vida alheia. O poder de saber, de bisbilhotar, de se exibir também. Dá-nos a sensação de estar quites com os outros e com nós mesmo. Um simulacro de autossuficiência.

Fora isso, tem o balsamo ao egoísmo e à culpa.

Antigamente, dava trabalho relacionar-se com pessoas. Era preciso tempo, foco e renúncia. Se alguém partia, era necessário esperar o correio para reatar sentimentos e saudades. Se alguém sumia, era preciso suor para reencontrar vestígios e coragem para religar as pontes. Se alguém adoecia, era preciso levar laranjas e flores e padecer na cabeceira. Antigamente, toda ausência era mais sofrida e mais intensa. Uma relação que se mantinha era um cimento.

Hoje os relacionamentos banalizaram-se na medida em que os obstáculos – os tempos e espaços – foram removidos ou ilusoriamente substituídos. Basta um email de vez em quando para dizer que se ama. Basta uma busca no facebook para reatar. Basta um SMS para prestar solidariedade. Basta um ou dois cliques para sentir-se menos egoísta e culpado.

Talvez devêssemos encontrar outras palavras para qualificar relacionamentos, amizades, amores de antigamente. Ou talvez essas relações mais viscerais, profundas e ricas não passam de literatura.

Apesar da parafernália que nos une, estamos cada vez mais enganados e isolados.