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Nem desmamou já quer ser diretor

Uma coisa lá em cima brigava com outra là em baixo. Não se entendiam sobre as qualidades que os seres vivos que acabavam de inventar deveriam ter. Finalmente, chegaram a um acordo, um conceito fundador, uma regra determinante, uma lei magna sob a égidie da qual, a Criação inteira deveria reger-se: a temporalidade.

A temporalidade foi definida no tratado criador como “direito ao gozo fugaz”. Até hoje, não se sabe ao certo quem defendeu o gozo – se Deus ou o Diabo – e quem adjetivou – se o Senhor ou o Maligno. Mas o fato é que desde sempre, fomos abençoados e condenados na mesma sentença.

É por isso que vivemos e morremos, por exemplo. É por isso que a flor murcha, que o riso amarela, que o prazer acaba e que a saudade nos move.

Mas o homem antes de cair de pé comeu uma maçã enfeitiçada. E essa maçã tinha uma sabedoria. Nem là em cima nem là em baixo, ninguém percebeu. A sabedoria ensinou um truque poderoso: o gozo é fugaz mas quanto mais longo o prè-gozo, maior o gozo.

Tem uma gente jovem e bonita que não aprendeu dessa maçã. Ou foram as maçãs que ficaram desalmadas.

Queremos ficar inteligentes, cultos e poderosos já,  imediatamente. Ricos, muito ricos, cada vez mais ricos  amanhã. Nem saiu das fraldas, já se vê presidente, mandando, arrotando, cacarejando e se estufando.

O pré-gozo ficou tão curtinho que o gozo depois é bem   murchinho. Pula-se de gozo em gozinho, cada vez mais zinho. Até morrer um dia, e nem sacar o gozo que pode ser.

Calma gente!