Maldita mania de tudo engarrafar, rotular e receitar conforme a necessidade. Ou mau-humor de sempre achar falta no oposto do que abunda.
Mas se subirmos a um dos Olimpos das vaidades e pretensões humanas, por exemplo naquelas profissões que lidam com intangíveis KPIs – como a criatividade – a mania e o mau-humor viram regra de convivência e cobrança: onde sobra talento, falta suor; onde falta carisma, sobra argumento. Quando o lado direito do cérebro (talento e carisma) transforma a vaidade em ridículo, exija-se mais do lado esquerdo (suor e argumento). E vice versa.
Mas perceber-se é difícil. Portanto, a regra só funciona para o outro, nunca pra si.
Talvez fosse melhor e menos cínico, tirar as qualidades de seus compartimentos.
E se talento fosse fator de suor? Se carisma, da capacidade de argumentar? Se o carisma fosse tributário do talento? Se capacidade de argumentar, de suor?
Se o talento só fosse irrigado pelo trabalho, árduo, penitente, obstinado? Se o carisma só fosse ativado com o exercício intelectual, dialético, questionador?
E se Sorte e Trabalho não fossem amantes enrustidos?