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iPad ou a arte do vazio

A maior mentira do milênio é acreditar que a tecnologia é uma mola do progresso.

Desde que ela saiu dos escaninhos, tomou marca e mercado, uma espécie de parnasianismo troncho nos empossou. E, assim, o desejo de transpor fronteiras e cercar-se de potencialidades materializadas por próteses tecnológicas tornou-se irresistível.

Passamos a querer e possuir o inimaginável, o ainda não sonhado. E o encanto dura até que o mistério dos recursos anunciados seja desvendado ou desmascarado. O valor do produto é diretamente proporcional às suas promessas. Quando elas caem por terra, o charme é quebrado. Até a próxima novidade.

Cercamo-nos de sucata em gestação, cada vez mais efêmera, cada vez mais vazia. O nome do bicho hoje é o e-reader, mas daqui a pouco será outra belezura ainda mais cheia de juras.

Então cá estamos nessa situaçãozinha ridícula.

– Funcional significa algo que não sei como usar e que provavelmente nunca vou aprender. E, se aprender, deixará de ser “funcional.

– Beleza – ou uma palavra mais in: design – significa funcionalidade. Portanto, quanto mais “funcional” for uma coisa, mais bela ela será.

– E, no limite, desejamos belas potencialidades vazias.

Assim, o livro vazio, sem uma linha escrita, o disco sem a mais tímida melodia, a partitura sem nota, sem ideia nem forma, ganha valor. E quanto maior a possibilidade de TUDO, quanto maior o NADA, mais valor.

Se tecnologia é sinônimo de progresso, de que progresso estamos falando?

Os Lusíadas valem nada perto de um iPad virgem.