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Se eu não pegar esse trem que parte agora

Quem não anda atolado por novidades virtuais bom sujeito não é. É tanta coisa para conhecer, experimentar, ter opinião. Esse medinho na barriga de não saber o que está rolando é um dínamo e um veneno.

Vivemos da crença de que tudo, tudo vezes tudo, pode ser resolvido online. Relações, compras, experiências, sexo, fama, dá para fazer online. Essa fé é corroborada pelo discurso positivista do progresso inevitável: só a tecnologia salva.

Profetas apocalíptico já anunciavam o fim da humanidade. A velocidade dos intercâmbios beira a impossível velocidade da luz. E bang! Uma dia a casa cai.

Antes, quando a Internet ainda era difícil ou improvável, o mundo das máscaras, da fugacidade, da fantasia científica, o virtual era uma espécie de compensação psicológica. Mesmo que imaginado mais do que experimentado, era a fronteira que redimiria a nossa pequenez.

Mas virou o jogo. Ou tá virando e quase tudo dá. Se não dá para mim, já dá para outros e já já eu pego o bonde.

Qual será nossa nova compensação existencial? Não seria o real, o de verdade, o tátil, o visto, o engolido, o cheirado?

Quanto mais virtual nos tornarmos, mais precisaremos do real. Quanto mais online forem as coisas, mais o offline será irresistível.

Os cartões da Unicef ainda existem?

Se o mundo virtual facilitou muito a nossa vida, também virou a ferramenta dos preguiçosos sem vergonha e intrometidos.

Existe alguma coisa mais vagabunda do que receber um cartão de natal por email? Quem diabos vai ler ou responder a essa porcaria? Do tempo do cartão impresso, já nem se lia mais aquele monte de clichê e muito menos os arroubos criativos de alguns. Mas pelo menos enfeitava a árvore de natal das repartições. Nem pra isso servem esses spams do papai Noel.

Existe alguma coisa mais sem graça do que essas árvores de Natal com mensagens enviadas pelos “internautas” e twitteiros? Ou cartões virtuais com musiquinhas, frasezinhas, fotinhas, ilustraçãozinhas que você monta sozinho e fica uma merdinha?

É o mau humor de final de ano, talvez. Mas enfeites coloridos, luzes azuis, papais noéis chacoalhando ou árvores de natal cantantes são um tributo à cafonice colonizada. É horroroso à noite e pavoroso de dia. Sem falar das despedidas de consagração, amigos secretos e alegrias com hora marcada.

Esforço derradeiro de tolerância, vamos lá.

Quando a gente acredita nesse tohu bohu de símbolos natalinos, nesse panteão alegre, nos rituais e no menino Jesus, que nossos votos de felicidade não sejam um preguiçoso copy-paste virtual.