A propaganda e o sufrágio do povo

Pergunta: O que é um trilobita?

(Segundos de espera.)

Resposta: “Trilobites are extinct arthropods that form the class Trilobita, blalablá”.

Para que serve saber, em tempos de acesso universal e democrático à internet? Para que serve armazenar o saber em tempos de Wikipedia?

Ainda que cautelosos ludistas desconfiem das definições democraticamente construídas, antes o saber bocejava na ponta dos pés das bibliotecas. Hoje, fustiga na ponta dos dedos, na ponta da língua.

É que a tese é simples: além de orgânicas, definições são o referendo do infinito coletivo. A mentira não resiste muito tempo ao sufrágio de milhões. A manipulação, tampouco.

A propaganda manipula. E manipulará cada vez menos.

As enciclopédias elaboradas por doutos especialistas falharam irremediavelmente nas suas missões de divulgação do conhecimento e atualização.

A propaganda, criada por sensíveis profissionais, pode falhar dramaticamente na sua missão de sedução e convencimento.

A propaganda de meias verdades ou mentiras superlativas, excessivamente explícita, dramaticamente primária, gritando, cantando e martelando incessantemente com palavras de ordem, crenças laboratoriais e repetição massificada, tem os dias contados.

Essa é a velha propaganda, uma propaganda que insiste em manipular, da forma mais básica, um consumidor cada vez mais arredio, disperso, crítico e com capacidade própria de exponenciar sua opinião.

Se ontem a gente tinha que crer a priori por falta de possibilidade de expressão, hoje a gente desconfia a priori, porque a gente tem o poder de denunciar publicamente e sem intermediários. E isso derruba reputações, como uma bola de neve pequeninha no cume da montanha aniquila uma aldeia no vale.

O prazo de validade da propaganda é proporcional à velocidade de popularização das opiniões. Ou seja, muito curto. Se a mensagem agradar, sua eficiência é retumbante. Se desagradar, seu fracasso é desastroso.

Mas a propaganda tem mais animadores rumos, apesar dos tropeços, das inseguranças e da caretice.

Propaganda deve ser conteúdo, entretenimento, manifestação cultural ou pura informação. Sempre que ela for percebida de uma forma ou de outra, ela será apreciada na medida de sua qualidade, sem o risco do opróbrio.

E sempre que ela raciocina pelo parâmetro do mais tapado, ignorante e passivo dos consumidores, vira piada e vexame.

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