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Propaganda massiva X propaganda participativa na política

Vem aí a propaganda eleitoral.

A gratuita (que chamaremos de “massiva”) que promete bater recordes de abstenção de audiência com suas estratégias stanilistas, e a super hype (que chamaremos de “participativa”) que causou espasmos de modernidade em todos aqueles que leram o batidão case Obama.

E propaganda política é quase como propaganda não política: é chato mas funciona. Inclusive as mais chatas, inclusive as mais chiques.

É, para os políticos, candidatos ou eleitos, dos messiânicos aos venais, dos bem aventurados aos vendilhões, de qualquer ideologia, a alma do negócio.

É, para os eleitores, preguiçosos ou engajados, dos desiludidos aos sonhadores, ignorantes ou pretensiosos, pessoas comuns que gostam de novela ou cinema iraniano, a alma da democracia.

De um lado, a gente quer vender, quebrar o concorrente, ganhar market share.

Do outro, comprar o melhor produto, o mais barato.

Só que faz muito tempo, que a propaganda, a não política, mudou um pouco. E também o consumidor, também chamado de eleitor.

Uma marca trabalha por um posicionamento que coincida verdades e aspirações dos consumidores. A (boa) propaganda constrói marca e persegue aprofundar o relacionamento com consumidores. Isso não se cria, se constrói, ao longo do tempo, com senso crítico, ouvindo muito, interagindo o tempo todo.

Eleição só tem de vez em quando, propaganda eleitoral também.

Aqui reside a principal diferença entre os dois tipos de propaganda eleitoral, a massiva e a participativa.

A massiva é aquela que acredita no grito e na repetição. Pouco importa a verdade e menos ainda a aspiração. Pouco importa o que se diz – e por isso mente-se tanto. Tem que ganhar ali, na hora. Ganham-se votos.

A participativa, diferentemente, crê na construção de uma relação de mão dupla. Importa propor ao invés de impor. Importa o diálogo. Importa o fôlego, a paciência, o tempo. Ganham-se eleitores.

O projeto Obama não era (como alguns oportunistas querem crer) um projeto para ganhar eleição. É um novo jeito de fazer política e governar. É só comparar www.whitehouse.gov com www.brasil.gov.br.

A propaganda participativa acredita na democracia do fôlego. A massiva acredita na democracia do soluço.

Blogs do B

Outro dia perguntei para um amigo blogueiro profissional (tem twitteiro, facebookeiro e personal redesocialzeiro profissional também), o que ele fazia com os comentários bobos, off topic ou ofensivos: “deleto. Comentário é parte do conteúdo”. O argumento é bom.

Por mais polêmico que um assunto seja e por mais provocativa que uma análise pareça, o coro dos descontentes costuma ser covarde. Entrega-se mais facilmente à guerrilha enviesada em redes de influência do que parte para o confronto. Ou então – e mais freqüente – manifesta-se por trás de um anônimo fanfarrão.

Mas quando o critico tem vergonha na cara, aí, garanto, dá prazer publicar o achincalhamento. Até porque é muito provável que os leitores habituais tenham tendência a aprovar as idéias do autor (salvo os masoquistas que, como eu, deglutem o Jabor com ódio gozoso). A resposta é geralmente terceirizada automaticamente.

Portanto, parece haver mais risco em deixar publicar louros monossilábicos (“clapclapclaps”, “hahahahahas” e “wows”) e debates paralelos na platéia dos comentaristas.

Mas a maior cagada, essa sim sideral, é não dar opção. Criar um blog sem espaço para comentários é um convite irresistível para a desobediência civil. É o que aconteceu, óbvio, com o Blog do Planalto e seu Blog do B. Não é uma farsa, é o Blog do Planalto, igualzinho, com direito ao ululante: comentários.

E as merdas federais não param por aí. Porque em matéria de modernidade (sim, vou falar de novo da porcaria da lei sobre uso da Internet em campanhas eleitorais), o que vem lá do planalto é tão inspirador quanto participar de um grupo de pesquisa com consumidores em Brasília. Nem dá raiva porque, de tão inútil e modorrento, de tão genérico de porra nenhuma, dá é sono.

Vamos desobedecer imediatamente e abrir um blog do B dos políticos. Já o do Jabor vamos abrir o do A porque o brilhante cineasta, escritor e comentarista já nasceu do B.

#ForaLeisDeControleDaInternet

Se as elites vivem num disco voador, movido por tendências gringas ingurgitadas com caroço, e em rota de fuga do planeta, o que dizer dos nossos augustos legisladores? São icebergs à deriva numa realidade que lhes escapa por proselitismo medieval.

Quando a inquisição reconhece o tamanho da heresia, é com o poder de sua ignorância brutal que ela reage: tramita no congresso uma lei que pretende estabelecer regras sobre o jornalismo e a propaganda eleitoral na Internet. O manicômio federal excita-se com as perspectivas de arrebanhar eleitores em troca de poucos espelhinhos. Mas os zelosos democratas querem que a corrida seja justa e não privilegie interesses financeiros.

O que fizemos a Deus para merecer essa corte dos milagres? Não, não entenderam nada e nunca vão entender.

Alô, presta atenção de uma vez por todas: não dá para legislar sobre a Internet, ta entendendo? Sim, ela está acima dos interesses porque contrariamente a vocês, ela tira sua força de um sufrágio legítimo.

Um portal de Internet não pode dar tratamento privilegiado a um candidato. Alô? Portal? O que é isso? Quem liga pra isso?

Ta bom, vão lá censurar os portais. Sabem o que vai acontecer? Os candidatos (vocês mesmo que legislam com tanta ética hoje) vão sair fazendo e comprando blogs individuais ou seus autores, e pronto.

Ah, espertinhos, querem obrigar a dar direito de resposta a quem “difamar” um candidato? Tipo assim, se eu disser, no meu blog, que o Jabba the Hutt é corrupto vou ter que dar espaço para ele responder? No meu blog que NÃO é uma concessão pública? Façamos assim: Jabba, te dou o blog inteiro, divirta-se, pode escrever o que quiser. Os leitores vão adorar te ver na minha praia e tenho certeza que você vai conseguir convencê-los que você é o Mister Magoo.

Mas o projeto ainda avisa que a propaganda eleitoral só será permitida nos blogs, sites, comunidades e outros veículos do próprio candidato. Como assim? Não vai ter propaganda eleitoral gratuita? Ué, mas não somos um povo ignorante que não sabe votar?

Vamos parando. Não dá para entender nada. Só que o projeto é conduzido pelos senadores #ForaMarcoMaciel e #ForaEduardoAzeredo. Sacaram o naipe do trem fantasma?

Obrigado, Sarney

Num país distante, um laboratório científico de primeira linha criou uma máquina que, através de sofisticados cálculos de cenários, confere às decisões políticas nível de assertividade incontestável. Tudo passa por ela. As nomeações para os cargos públicos têm a intenção dos indicados checadas por poderosos detectores de mentira, os discursos são escarafunchados nas entrelinhas e a vida financeira, social e íntima de todos os políticos é vigiada. Os sábios cientistas que projetaram a parafernália democrática contaram ainda com a ajuda de médiuns de variadas correntes que, graças a seus transes místicos, inter-relacionam todas as medidas com os desígnios divinos. Finalmente, Gaia também participa da vida pública: nada é feito sem o consentimento da mãe Terra, das árvores, dos golfinhos, focas, baleias, tartarugas marinhas, cracas e coquilles Saint-Jacques.

Nesse país, a imprensa investiu fundos colossais na construção da máquina e encontrou, graças aos seus dividendos, uma tábua de salvação: jornais, TVs, rádios e até os blogueiros sobrevivem hoje exclusivamente desses recursos, pagos pelo erário. Tornaram-se “diários oficiais”, house-organs do governo (ou da máquina) que, evidentemente, ninguém lê, e onde, consequentemente, nenhuma empresa anuncia.

O país é muito bem gerido, rico, promissor, respeitoso das minorias e maiorias, socioambientalmente responsável e chato de galocha.

Que graça teria viver num país assim? Que graça teria ser governado por uma Madre Teresa de Calcutá formada em Harvard? Ou um Karl Marx professor do IBMEC? Ou o Lula com PhD em astrofísica e literatura angolana? Ou pelo Sarney com voto de pobreza e sem família?

A grana é nossa, mas que o bigode cínico do Sarney é impagável, isso é.

Barbie de palanque.

Deve haver algo de errado. Não me refiro ao surrealismo e à chanchada, como sempre impagáveis, de boa parte da propaganda eleitoral gratuita. No dia que resolverem impor alguma censura ao “speaker corner” dos partidecos e anões, vamos sentir falta. Mas falo do aparato publicitário de alta estirpe: da campanha dos grandes partidos (partidos?) políticos.

Todos hão de concordar que na propaganda há forma e conteúdo. Boa propaganda é um bom conteúdo, verdadeiro e convincente com uma forma adequada que suporta e enriquece a intenção. Ou ainda, boa propaganda é uma forma sedutora que mascara ou subentende um conteúdo mercadológico. Não importa, para este raciocínio, creditar maior ou menor importância a uma ou outro, mesmo porque alguns dirão que forma é conteúdo, conteúdo é forma e pronto, piramos e perdemos o foco de uma singela reflexão.

Quando analisamos ou tentamos extrair conteúdos dos discursos políticos da propaganda eleitoral na atual campanha, das duas uma: ou não temos a menor capacidade de discernir ou de reconhecer verdades: faltam-nos informação e conhecimento; ou é tudo absolutamente igual.

Tem um que fala que vai criar X milhões de empregos, o outro X/2 empregos, mais um X/10 empregos. Um diz que irá reduzir o deficit não sei das quantas em 80%, o outro em 40% e outro acaba com ele de vez. E nos fica uma indigestão de propostas e promessas. Verdadeiras? Aproximadas? Falsas? Como é que vou saber?

Ainda no que diz respeito ao conteúdo, um diz que vai colocar bandido na cadeia, crianças nas escolas, doentes em hospitais. O outro diz que que vai criar leitos em hospitais, vagas nas escolas e celas nas cadeias. Adoramos ouvir isso. Nos deliciamos com as promessas que são todas lindas mas idênticas.

Como faço para escolher? Não entendo nada e o que entendo é igual. E agora?

O que me sobra para decidir? A aparência de um, a inflexão de outro, o sorriso, o jingle, o logotipo, as cores, a edição, o roteiro, a finalização, o photoshop, o after effect.

Só me resta a forma. A forma cada vez mais trabalhada, pensada, qualificada. Só me resta a forma. A forma que quiseram dar ao produto.

O produto da propaganda eleitoral, nessa eleição faraônica e fanfarronica, é a própria propaganda. Não há produto, não há candidatos,  só modelos, atores, barbies e falcons.

Analisando inclusive a movimentação das pesquisas eleitorais, depois da entrada do horário político, é fácil verificar que mesmo sem nenhum fato novo, sua simples estréia modificou significativamente o quadro.  Portanto, a fórmula do quanto mais melhor parece funcionar. A do quanto mais vazio o discurso também. A bela gravata, o cabelo alinhado e o cenário caprichado também. Mas o que assusta é pensar que não somos governados por clones mas por pessoas, personalidades que teoricamente nos representam.

A menos que essa idéia do político seja ultrapassada, utópica. A menos que o marketing que está construindo a imagem dos políticos que devemos escolher seja também responsável pelas políticas que serão adotadas, uma vez eleitos. A menos que a gente assuma de vez que tudo não passa de uma grande representação. Não só a propaganda política mas a própria política.

Acho que caí na real agora. Mas doeu.

Voto no Falcon e você?

Propaganda eleitoral: o circo vai começar.

A partir de amanhã, começa a propaganda eleitoral gratuita na televisão. Como muitos brasileiros, eu ainda não decidi meu voto. Será que o show em horário nobre irá me ajudar?

A propaganda eleitoral gratuita é um mal necessário? O velho e persistente argumento de que a população, desinformada, inculta, bronca, tem o direito de conhecer, gratuitamente, seus candidatos irrita. Frustra também o descredito na política. Decepciona propalar incessantemente que nossos dirigentes são corruptos e que só pensam em interesses individuais ou de grupos de influência.

Desinformação, preconceito contra o político, safadeza endêmica, eis o que justifica a propaganda eleitoral gratuita. Propaganda eleitoral gratuita é um cancro porque é propaganda e não informação, porque escancara o preconceito big-brotheresco do eleitor, porque é rinque de acusações.

É isso que veremos, não tenham dúvida.

Um teatro enfadonho: o ex-das-massas, amansado; o fenômeno polemisando; o carrancudo bonachão; o populista pregando.

Um show de prestidigitarores: feitos improváveis, realizações invisíveis, alianças espúrias mascaradas.

Um palanque das mil e uma noites: pó de arroz, efeitos especiais, testemunhais alibabescos, gráficos coloridos, sorrisos photoshopados.

E muitas, incontáveis, deslavadas, vergonhosas mentiras. Mentiras nas promessas, mentiras nas propostas, mentiras nas intenções.

Mas entristece mesmo saber que o voto muda, ao sabor das mentiras. Ao sabor do show, da paixão, das antipatias e simpatias.

Propaganda eleitoral gratuita é a perpetuação das mentiras. Um círculo vicioso que tem lá seus defensores, seus interessados. Um tenebroso carrossel que perpetua um Brasil que não queremos mais: um Brasil que se julga incompetente, ladrão, Maria vai com as outras.

Será mesmo que as pessoas, eu, você, os outros, acreditamos nessa pantonimia? Será que eles acham que acreditamos? Pior, será que não estamos quase acreditando nela pela ausência de verdades?

Propaganda eleitoral gratuita é pão e circo para os tolos inertes que somos.