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Milhares de amigos afora

Quantas vezes você ficou aflito pensando numa resposta que você não deu numa rede social, num email que você não respondeu, num texto que você postou mas pensando bem, talvez tivesse sido melhor esperar? Quantas vezes você teve a sensação de estar perdendo algo porque ficou digitalmente abstêmio por alguns instantes?

Quanto tempo você costuma ficar sem olhar no celular? Quantas tempo em média você fica com quantas pessoas? Quantos toques, olhares, afagos você troca? Quando foi a última vez que você falou de você com sua própria língua para uma pessoa a menos de 10 metros de distancia, olhando nos seus olhos, talvez segurando na sua mão, sem hora marcada? Quantos amigos você adentra?

Compara com a última vez que você mandou um email, gostou de uma foto, postou um comentário ou uma cena real que você viu para fotografar, comentar, cacarejar, milhares de amigos afora?

Na batalha do tempo, quem venceu? E se quanto mais amigos afora você tivesse, menos amigos adentro você curtisse?

Cuidado com o espelho

Intimidade ou privacidade são palavras muito fora de moda. É de se perguntar porque as pessoas ainda usam roupas para esconder as vergonhas. E vergonha é outra palavra que deveria ser extinta do vocabulário contemporâneo. Assim como compostura e senso do ridículo.

As redes sociais são infalíveis espelhos da natureza do nosso tempo.

No começo vemo-nos refletidos com cautela e recato. E aos poucos, a gente solta a mão, o verbo, a cerimônia. Quando menos percebemos, estamos de cueca na mão, saltando numa banheira de hidromassagem, fazendo pose pra câmera, exibindo-se sem nenhum filtro, com doses cavalares de pretensão. Com o tempo, nossas ambições pueris tornam-se públicas.

E quando vem a ressaca, perguntamo-nos: quem somos? Aquele exibido da suruba pública, que só revelávamos em sonhos, terapias ou confissões?

Em “A noite de Varrenes”, filme do Ettore Scola, Marcello Mastroiani faz Casanova, o velho nobre de tantas conquistas e corações partidos. Em determinada cena, ele adentra um banheiro público com sua monumental nécessaire. Senta-se no vaso e de frente para o espelho, retira a peruca, limpa o rosto e mostra-se. Feio, muito feio: “as pessoas não merecem minha decadência”. Ao segundo suspiro, retoca a maquiagem, penteia a cabeleira e sai, lindo, sedutor, irresistível.

Nas redes sociais, a caricatura oculta é o retrato público.

Perfil PJ da PF no Facebook

Compostura e entusiasmo são qualidades difíceis de conliliar.

Ensinaram-nos a ter atitudes diferentes no ambiente do trabalho e na vida particular. No trabalho, devemos assumir uma persona focada, educada, séria. Na vida particular, podemos largar as amarras, ser quem se é. Se na vida de todos os dias, podemos controlar as pressões sociais com alguma maleabilidade, das 9:00 às 18:00 a máscara deve ficar no prumo.

Mas várias coisas mudaram. Vivemos uma crise de disponibilidade e portanto de identidade. A vida não é mais compartimentada em trabalho e não trabalho. As invasões de território entre nossas duas vidas são porososas, indefinidas, difíceis de gerir.

Lidamos com fusos horários que não respeitam o sol e com prazos que escorregam velozmente. Em algum lugar do mundo, há sempre alguém nos solicitando, impaciente e desrespeitoso.

Lidamos com plataformas de comunicação que cruzam-se e chafurdam em bacanais digitais. Nossas vozes são públicas, privadas e profissionais, num cruzamento despudorado.

Lidamos com marcas que lutam por envolvimentos cada vez mais umbilicais. Somos agentes e vítimas de relacionamentos pornográficos com estratégias mercadológicas.

O lado nefasto dessa Sodoma é que vibramos e dependemos da sacanagem.

A nova revolução capitalista invade a vida privada, operando uma mais valia sorrateira, insondável, contagiosa.

A nova revolução anarquista ocupa a vida profissional, operando uma desordem maliciosa, envergonhada, escondida.

Trabalhamos fazendo amor e fazemos amor trabalhando.

Brochante.

Vamos abrir um perfil Pessoa Jurídica nas redes sociais e curtir com entusiasmo as engajadoras estratégias digitais dos nossos clientes.

O Facebook está catatônico

Ainda está chegando gente aos borbotões, atropelando-se e os amigos acotovelam-se para encontrar um lugar no mural do próximo. Talvez essa febre esteja no início, e quem sabe um dia, conseguiremos dar sentido à euforia. O vício é confortante. É blasé remar contra.

Mas a sinceridade nunca pode ser acusada de cafona.

Mesmo sendo uma bandeirinha que reafirma a existência num mar de conformismo preguiçoso, mesmo sendo o “hey eu existo” nosso de cada minuto, mesmo sendo um antídoto ao drama existencial, O Facebook estabelece contatos de primeiro grau, fortuitos e quase sempre gratuitos.

Então se não serve para celebrar laços, talvez seja apenas distração, entretenimento, deliciosa inutilidade solitária. Parece que já inventamos a literatura, o cinema, o video-game com outras mais envolventes imersões egoistas. Meia boca esse Facebook.

E se fosse só um amplificador verbal, para transbordar energia, um ladrão para nossa caixa de bobagens? Ou quem sabe sirva para aplacar nossa sede de bisbilhotagem, nossa curiosidade doentia pelo outro presumidamente melhor ou pior que a gente?

O Facebook talvez seja essa colcha de retalhos aí, esse repositório de interesses, um molambento e telegráfico consolo.

Mas isso não é nada. O problema é que desde que virou menino prodígio das manchetes e xodó da nova publicidade, o Facebook virou um feirão vulgar e confuso. Esquizóide. Catatonico. Nenhuma feiura será perdoada.

Instagram é o novo Prozac por José Porto

Café da manhã em NY, pôr do sol poético na Serra da Bocaina, um novo olhar sobre aquela placa de rua feia, almoço exótico num mercado de rua em Hanói, um ângulo descolado onde sua casa fica melhor que aquelas que saem na Casa Vogue.

A vida no Instagram é assim: por alguns segundos você vai se sentir melhor imaginando o que as pessoas estão pensando sobre sua vida sob efeito de filtros glamourizantes. E de quebra você descobriu um novo talento: nasce um novo Helmut Newton.

Tendência hype? Não. Sintoma de Depressão Pós-Photoshop.

Depois de ficarmos inteligentes em 140 caracteres e compartilharmos momentos importantes via Facebook, as imagens falam mais que mil palavras – e com filtros falam mais que um milhão!

O sintoma não se restringe a nós, publicitários e descolados hiperconectados em geral.

Daniel Winter, fotojornalista do NY Times, causou um reboliço na comunidade internacional de fotógrafos profissionais.

Ganhou 3o lugar num respeitado prêmio, o POYI (Picture of the Year International) com uma foto feita com o seu iPhone e devidamente “filtrada” usando o aplicativo Hipstamatic – uma espécie de Instagram sem ferramenta social.

A série de fotos de onde saiu a bendita premiada foi feita em novembro, no Afeganistão, para uma matéria do jornal sobre a vida dos soldados americanos na guerra.

As fotos poderiam estar no seu timeline do Instagram: soldados ouvindo iPod e rindo, um cachorro se espreguiçando na mata, cartuchos de bala jogados no chão fazendo uma bela composição gráfica (veja aqui: http://nyti.ms/bKrWLA).

Questionado, o fotógrafo diz que a estética tem papel determinante na maneira como vemos o mundo e que não somos máquinas de fotocópias ambulantes. Somos contadores de histórias (ou “storytellers” como se gosta de dizer…).

Certo ou errado, a guerra no Afeganistão ficou visualmente linda e a vida dos soldados ganhou um quê de glamour antes impensável para tal contexto.

Não estamos no Afeganistão, mas a vida como ela é cansa, é feia e crua. O Instagram e seus similares nos dão o privilégio de burlar tudo isso e contar uma história mais interessante. Tendência? Não. Sintoma de Depressão Pós-Geração Y.

E é contagiosa.

Tá chato? Feio? Sem chiqueza? Põe um filtro, uma legenda engraçadinha, meio criptografada, meio piada interna e pronto. O Instagram deixa a vida mais suportável.

@zeporto

Ridiculite, você ainda vai ter uma

Trataremos hoje da principal inflamação social do mundo hipermoderno, mais conhecida como ridiculite.

Os sintomas da ridiculite podem ser resumidos em duas alterações de comportamento típicas e evidentes.

Ao primeiro, daremos o nome de “auto-shooting”. No seu estágio mais primitivo, o sintoma é a autoveneração fotográfica. No seu desenvolvimento irreversível, o “auto-shooting” passa a comandar todas as atitudes do doente, que tira foto de tudo e de todos, a todo instante. É o que os médicos chamam de cliquite.

Ao segundo, daremos o nome de “over-sharing”. No início da doença, o sintoma se desenvolve numa procura adolescente de afirmação e hiperidentificação. Já para os estágios mais avançados, o “over-sharing” é uma espécie de gagueira social compulsiva, ou aquilo que os psiquiatras chamam de dadite.

A ridiculite é uma inflamação subcutânea, de ação prolongada e degenerativa. Extremamente contagiosa, a doença já assumiu proporções de epidemia. A ridiculite é transmitida por um agente patogênico que se traveste de variadas aparências. Seu grau de adaptabilidade ao ambiente e à vítima torna seu combate direto  praticamente impossível. No entanto, como a dengue, a ridiculite deve ser combatida no criadouro, cujo epíteto genérico convencionou-se chamar de rede social.

Para filósofos de bigodinho e bermuda fashion, tendência e sintoma c’est la même chose. Portanto esqueça a patologia: auto-shooting e over-sharing é megatendência

Papai quis que eu estudasse (propaganda) fora

– Oi.
– Oi.
– Me conta um pouco de você.
– Como assim?
– O que você fez, do que gosta, o que quer fazer?
– Ah, eu gosto de redes sociais.

A inocência do primeiro emprego ameniza muita decepção. Vamos em frente.

– Estudou?
– Sim. Volto de um curso de dois anos na Baton Rouge State University, sabe a BRSU?
– Estudou o que lá?
– Fiz o curso de Disaindidjitol, sabe?
– Como?
– Didjitol!

É, está difícil.

Vá lá que a formação, aqui embaixo, pode ser manca e caolha. Então é só ter um dinheirinho suado de família e lá se vão os neófitos bem-nascidos laurear seus diplomas no exterior.

Vejamos como o estudante procede para escolher e como devemos decodificar as informações para julgar o candidato.

Diplomas de cuponagem nos Estados Unidos são assim: fez um curso de qualquer meleca no Arizona, é meio rico; a meleca é na Costa Leste, é mais rico; tem N e Y na sigla da universidade, deve ser bem rico. Se a meleca foi estudada na Costa Oeste, não quer dizer riqueza mas nível de vagabundagem. Quanto mais ao Sul, mais vagabundo.

Já os diplomas pega-trouxa europeus são mais sutis. Na Inglaterra, o estudante tem tendências ao Olimpo fashion; na França foi vovó quem pagou; na Itália foi vovô. Na Alemanha ou na Holanda, foi o que deu. Na Espanha e em Portugal, o garoto é cagão e cabulou as aulas do Alumni.

Agora, se foi na Suécia, na Nova Zelândia ou na Romênia, o candidato se arrumou nas redes sociais.

É gostoso brincar de fazer generalizações, porque caça-níquel universitário gringo no currículo não engana ninguém. Só o papai-que-quer-o-melhor-pro-filhinho.

Rede social: a festa do cabide

Nenhuma festa suporta penetra de porre. Mas se o abelhudo for cativante e educado, pode até virar vedete e roubar a cena.

Metida e petulante, a propaganda é a arte de se meter onde não se é chamado. Uma definição interessante para a boa propaganda é quando ela consegue tornar essa intromissão menos atrapalhada e desagradável.

Em mágicas situações, a propaganda honra o espaço que nos surrupia, ilustrando, ifluenciando e inspirando nossa rotina. É quando a sogra comenta com o genro: “Você viu aquela propaganda?”. Deve ser o que gostam de chamar de conteúdo para dar cartas de nobreza à profissão.

Tem muita gente que ainda entende que a propaganda é legítima convidada. Afinal, ela paga caro. Mas como nenhum convidado da festa recebe um centavo por isso, sua situação piora muito. Quem paga para aparecer comprou o título de nobre falido. É novo-riquismo, arrivismo, esnobismo, puxa-saquismo. O farsante não falsificou o convite, mas comprou o promoter que, se não enganou o anfitrião, ludibriou os convivas.

Deve-se portanto, estudar antes de driblar a segurança. Como se vestem, do que falam, o que olham, o que comem, como se portam os festeiros. É preciso adaptar-se ao ambiente e, paulatinamente, mimetizar-se. Só quando a confiança está ganha a sedução pode desdobrar-se diabolicamente.

Imagine agora que a festa não é daqueles convescotes cheios de interesses mascarados, em que a pose é mais importante que o discurso. Que a festa não é de firma, nem de negócio. A balada é convivial, entre amigos. A gente quer falar, fofocar, trocar, aprender. A gente quer tocar, amolengar, aconchegar, xamegar, afagar e, quem sabe, kcuf kcuf no final. Ou, mais careta, o  encontro existe para suprir a necessidade de sobreviver na selva do drama humano, de se segurar uns aos outros, de se atribuir relevância existencial, mesmo que fugaz, de se espelhar, de se dar gozo, de se consolar no próximo.

Imiscuir-se nessa barafunda de desejos e pulsões potencializa o desafio do penetra. Afinal de contas, o malandro tem interesses escusos. E muitas vezes quer vender enciclopédia a analfabetos.

Podemos chamar essa festa de rede social e pouco importa se ela é virtual ou presencial.

Já se disse que o prodígio do capitalismo acnegênico, Mark Zuckerberg, inventou o Facebook porque não comia ninguém. Essa é a poética das redes sociais: quem participa tem fome.

E que diabo pode uma marca patrocinar nessa suruba de potencial ou de direito?

O erro clássico consiste em nutrir a quimera de achar que nas redes sociais as marcas podem, mais naturalmente, integrar-se, fazer parte, ser atrizes antes de agentes. E a tentação é grande porque festa mais barata parece catraca livre.

Não é bem assim porque as marcas são e sempre serão, qualquer que seja a plataforma de comunicação, de agora ou daqui a pouco, intrusas.

Os esforços mais bem-sucedidos são eminentemente promocionais e como reza a ortodoxia do marketing, esse P custa muito caro.

Se uma marca não consegue intrometer-se com delicadeza, educação, inteligência e criatividade na televisão, por exemplo – festa bem mais família e comportada – não é nas redes sociais que ela vai conseguir resolver sua prática canhestra de catequese, convencimento ou engajamento. Se ela não consegue,  nas mídias ditas tradicionais, conter a gritaria, a demonstração piegas, a apelação batida, nas redes sociais a truculência fica ainda mais ridícula. E cara, caríssima, carissíssima.

É quando a tendência, sempre excitante, mascara a ferida.

Artigo originalmente publicado no Meio & Mensagem de 17/01/2011

Orkut X Facebook em Cajamarca

De um lado, o velho comandava sua pequena força de sessenta cavaleiros e cento e poucos homens a pé. Do outro, o imperador pimpão à frente de um exército de 60 mil homens.

Por que Pizarro venceu Atahualpa, em Cajamarca? Cansados soldados venceriam um exército 400 vezes maior, bem alimentado, defendendo sua própria terra e seu Deus Soberano? Estratégia e desespero poderiam dar cabo de um império que dominara seus inimigos de forma implacável?

As probabilidades, felizmente, não explicam tudo. Muito menos a Wikipedia.

Mas a história é bem conhecida.

Pizarro tinha maldade no coração: convidou o imperador para parlamentar e o fez prisioneiro. Recebeu resgate riquíssimo mas descumpriu o trato e matou Atahualpa.

Mas Pizarro é um acidente de percurso que, com boa vontade, só acelerou em poucos meses a vitória. A Espanha teria aniquilado o império Inca com ou sem Pizarro.

Os brancos tinham eficientes montarias – os cavalos – armaduras resistentes – de aço – armas poderosas – com pólvora.

Dizem que o Facebook (4% de penetração) cresce no Brasil a taxas de 400% ao ano. O Orkut (40% de penetração) pula de 30% em 30%.

O Facebook tem os milhões do Goldman Sachs, e o Orkut, a soberania preguiçosa do Google.

O Facebook tem a fanática evangelização Yankee. O Orkut come pão de queijo, sem pressa.

Ainda torcemos, mas já vimos esse filme em Cajamarca, quase 500 anos atrás.

70% de desconto? Fala sério

Se você tem a sorte (ou o azar) de estar na Europa ou nos Estados Unidos na época das liquidações, é muito comum deparar-se com histéricos compradores se arrancando produtos de marca com 50 ou 70% de desconto. A famosa liquidação anual da Harrods faz parte do calendário turístico de Londres, muda o trânsito na região e tem até mapinha, distribuído nas semanas que a antecedem, anunciando onde estarão espalhadas as ofertas. Uma verdadeira estratégia de guerra é preparada com cuidado, com treinamento especializado para acolher com sorriso os desesperos consumistas. É comum também ver hordas de brasileiros deambulando pelos corredores dos outlets americanos, delirando.

O pânico consumista tem efeitos psicológicos e conseqüências econômicas evidentes, embora navegue a léguas de distância da elegante tendência do consumo consciente. Às favas a responsabilidade!

O consumismo é o mais eficiente anti-depressivo psicológico e econômico.

No ambiente virtual, também temos nossas Mecas e são os famosos clubes de compras, esses flash-mobs comerciais que acotovelam-se nas redes sociais.

Posto de lado o balsamo espiritual que o consumo inútil provoca, é evidente que os clubes de compra coletiva têm por terreiro fértil os empreendimentos da cauda longa. Se o Marc Jacobs de Nova York pode oferecer 70% de desconto na sua loja porque não as clínicas de branqueamento dentário tupiniquins?

Ademais a metafísica da precificação da economia de mercado (preço não tem nada a ver com valor, como dizia o velho barbudo), uma marca dita “séria” pode ver vantagens em escancarar descontos faraônicos nesses clubes.

Uma pessoa sensata – se é que existe – ficaria com o gostinho amargo de ter sido ludibriada nos 364 dias em que a promoção não está vigente. Nenhuma economia de escala explica 50% ou 70% de desconto.

Mas uma marca pode e deve utilizar-se dos clubes de compra coletiva na linha “sampling” de seu budget de comunicação. E para isso eles podem ser incrivelmente úteis.

Mas fala sério! Não estamos no terreno da razão mas da compra por impulso.

A marca segura a vela do nheque nheque

O que veio primeiro, o ovo ou a galinha, o bolo ou o recheio, as redes sociais ou o interesse das marcas por novas formas de comunicar-se com seus consumidores?

Na grande maioria das vezes, a tendência é mais excitante que o objetivo. Mas ela só é tendência quando tem algum objetivo por detrás. Senão, não passa de um surto aleatório, por certo divertido, mas gratuito.

Pois redes sociais foram criadas para conectar pessoas, ou grupos de pessoas. Essas conexões existem para atender nossa inata necessidade, tão atravancada nos dias de hoje, de viver em sociedade. Nossa necessidade de sobreviver na selva do drama humano, de se segurar uns aos outros, de se atribuir relevância existencial mesmo que fugaz, de se espelhar, de se dar gozo, de se consolar no próximo.

A gente quer falar, fofocar, trocar, aprender. A gente quer tocar ainda que virtualmente, amolengar, aconchegar, xamegar, afagar, e nheque nheque no final.

Inserir-se publicitariamente nessa barafunda de desejos e pulsões, é um tremendo desafio.

É por isso que as iniciativas dão tanto trabalho, são tão efêmeras e oportunistas.

E daí? Daí que não tem nada de realmente novo. A propaganda é intrometida por definição.

O erro clássico consiste em nutrir a quimera de achar que nas redes sociais, as marcas podem, mais naturalmente, integrar-se, fazer parte, ser ator antes de agente. Não podem porque são e sempre serão, qualquer que seja a plataforma de comunicação de agora ou daqui a pouco, intrusas.

Nosso trabalho consiste tão somente em tornar o penetra que produzimos, mais agradável, interessante e divertido. Mas penetra é e penetra será, sempre.

A rede é um masturbadromo

Desde que a Internet surgiu, somos confrontados, com uma frequência nunca antes vista, a muitos paradoxos que revelam contradições entre propósito e prática. É de ficar tonto.

E as redes sociais são o laboratório mais eloquente da alma humana e suas patologias sociais.

– Propósito: as redes sociais aproximam as pessoas, intensificam a comunicação interpessoal e os relacionamentos.

– Prática: as pessoas usam as redes para promover-se, destacar-se ou, simplesmente, existir. É o atávico complexo de identidade e individuação que motiva as pessoas, que prevalece sobre a necessidade de interação.

A rede social é vitrine antes de sala de estar. Os relacionamentos atravessam o show-room rara ou superficialmente.

A interação que realmente interessa é apreciativa, “gostei/não gostei”. E quanto mais formos gostados, mais seremos apreciados, replicados, referenciados. A rede me aproxima de mim mesmo.

Em alguns casos, as redes sociais são um estilingue de reputação; em outros, um bumerangue. Projetam e ridicularizam. Douram ou denigrem as identidades.

Integração, convivialidade, aproximação não passam de álibis intelectuais para mascarar o hedonismo. Troca de informação, intercâmbio de ideias, e os debates são desculpas para justificar o exibicionismo.

Mark Zuckerberg inventou o Facebook porque não comia ninguém

O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, é um exemplo de como não é preciso ser um gênio para ter boas ideias. Ou vai ver ele só posa de loiro burro para as plateias que o aplaudem. Outra possibilidade é que só inventou o Facebook porque tinha tanta espinha que não pegava ninguém.

O desespero é a melhor inspiração, a melhor incubação de ideias bilionárias.

Por exemplo:

–  Sabe aquele desejo desesperado de um cigarro às 3 da manhã? Parece que o mundo inteiro está em coma e você ali, subindo pelas paredes. Vale para um chocolate, uma camisinha, um anel de noivado, ou outros vícios lícitos e ilícitos. O Midnight Desperate é uma rede social na qual você publica quanto você é capaz de pagar para receber em casa o consolo desejado. Você faz o lance reverso e espera que uma alma caridosa (ou gananciosa) venha lhe socorrer (ou espoliar). É simples, eficiente e permite uma série de aplicações que qualquer roteirista de Polishop é capaz de inventar.

– Você está numa reunião, num workshop sonolento e percebe uma agitação incomum a poucas cadeiras da sua. Pessoas sorriem e parecem se divertir sem mesmo se falar. E você ali, viajando no Power Point. O Steal Smiles é um aplicativo que permite instantaneamente escanear todos os SMS enviados em um raio de poucos metros através do bluetooth do seu celular. Serve também como delação e escuta sigilosa.

– Você recebe dezenas de respostas por e-mail por dia que te fazem perder um tempo louco explicando novamente o que você já havia dito. Na grande maioria dos casos, não se trata de burrice do remetente, mas de leituras precoces. O Re-read é um aplicativo instalado nos servidores de e-mails que só permite apertar a tecla reply quando o receptor da mensagem tiver lido duas vezes o e-mail recebido. Para os mais tapados ou distraídos, podem ser escolhidas mais de 2 leituras obrigatórias.

– Você está numa festa e alguém vem comentar com você a última fofoca que grassa sobre uma celebridade ali presente. Você não faz a menor ideia do que ele está falando nem de quem. O Celebrity Scan é um aplicativo de iPhone que fotografa pessoas e, como os identificadores de música tipo Shazam, através da consulta a uma base de dados People, lhe dá as informações básicas: nome, idade, quem já comeu e quem está comendo. O Celebrity Scan também pode ser usado para aquele “grande amigo” de quem você esqueceu o nome que lhe cumprimenta com entusiasmo.

– Você recebe toda hora currículos fantásticos cheios de títulos, cases e indicações. Mas não consegue se decidir a dedicar tempo para um tête-à-tête com os candidatos para preencher a vaga. O Social Network Clipping é uma base de dados que seleciona os melhores momentos das postagens das pessoas nas redes sociais. Os posts são divididos em categorias, como “constrangimento extremo”, “tagarelice compulsória”, “tudo pela fama”. É muito útil também para criar categorias humorísticas nos seus grupos de amigos nas redes.

– Você está ali olhando as fotos de vítimas potenciais. Ou, simplesmente, quer ver a cara de quem está te seguindo ou adicionando. O Dephotoshop, como o nome indica, é um aplicativo que permite eliminar efeitos embelezadores. É muito útil também para desmascarar seu amigo que jura de pés juntos que nunca tingiu o cabelo, nunca fez plástica, nem lipo.

– Você está de bobeira e resolve ler os feeds em alguma rede social. Começa a ler um monte de baboseira velha que aumenta sua repulsa à mediocridade da humanidade. O Já Vi Mané é um botãozinho que você clica para qualificar os posts. Mais divertido que curti e não curti, também pode ser usado na opção Anonimyzer. Na mesma pegada, tem o botão Arrependi, quando você posta e percebe instantaneamente a imbecilidade que você acaba de enviar para seus trocentos seguidores. Ainda tem o aplicativo Descompra para sites de e-commerce, quando você se lembra de que já entrou no cheque especial ou que a pessoa que você mais odeia tem aquele mesmo tênis que você acaba de comprar. Tem também o Xaveco Rating, que é um classificador de xavecados nas categorias Bom, Regular, Péssimo, Só quer papo e A perigo.

E por aí vai.

Exercite o desespero. É o melhor conselheiro para sua gana pecuniária.

Quem tem medo do espelho?

Quantas vezes não gaguejamos de dúvidas, muitas vezes inconfessáveis, sobre a qualidade do que produzimos?

Desenhistas seguram seus desenhos na frente do espelho para apreciar o resultado. Músicos fazem gravações para avaliar sua interpretação. Desencarnar-se da criação é um ato violento, mas emancipa o julgamento.

Outro jeito é submeter-se à apreciação dos demais para formar a imagem. Todo sufrágio avaliza a qualidade. Só os elogios ou perjúrios dos semelhantes é capaz de julgar.

Quem é mais sincero? O espelho ou o outro?

Você faz careta para seu reflexo ou pose para as fotos?

Depende da patologia social, e a atual aposentou o espelho cruel.

Likes no Facebook, seguidores no Twitter e número de conexões nas redes sociais são as novas patentes do século.

Se a sociedade de consumo entronizou a massa, a sociedade da informação beatificou a fama quantitativa.

Quando qualidade vira número, a autoimagem perde importância; a individualidade, o sentido, e toda criação vira mash-up, remix vulgar, mínimo denominador comum.

A Internet lasciva

Todo mundo deveria levar pelo menos três vidas. A privada, a pública e a profissional. Ou pelo menos tentar entender quais são as fronteiras entre esses três (pelo menos três) territórios nos quais evoluímos.

Embora possamos ter coerência de valores e atitudes nas três esferas do viver – essa coerência define a personalidade – existe um ranking nos quais eles se estabelecem, como prioridades dependendo da máscara que portamos.

Mas valores e atitudes são também influenciados e definidos por convenções que existem para dar ordem e sentido à vida privada, pública e profissional (e quaisquer outras que se queira ter).

Mas, sempre que as esferas se invadem, as convenções entram em um curto-circuito promovendo uma desordem promíscua, vide indecente.

Desde que a Internet abriu-se como o mais lascivo dos ambientes, em que os valores individuais são atribuídos às custas de conexões interpessoais (principalmente quantitativas), a vida privada invade a pública que invade as profissional e vice-versa pra lá e pra cá. Esse eldorado da reputação barata e fácil escraviza todos os valores e define as atitudes. E as convenções não servem mais para nada. Atrapalham.

Desde que a Internet virou o palco privilegiado de uma espécie de big-brother planetar, muita confusão tem acontecido. Isso é só o começo e muita gente ainda vai para o olho da rua por conta dessa confusão.

O Orkut é tosco?

Todo mundo tem muita opinião sobre Internet. Por ser, provavelmente, o meio mais fácil de ser pesquisado, ele também é o mais pesquisado. E, com ou sem carona em pesquisas, tem mais analista do que internauta, principalmente os sem carona.

O Orkut é incontestavelmente a rede social mais popular do país (com uma diferença abissal para os outros), aquela que as pessoas mais costumam acessar (o Orkut não é um cemitério de bits), e permanece incólume, no topo, há mais de dois anos.

Sua utilização é abrangente (usado ativamente no compartilhamento de conteúdos) e acompanha a própria penetração do acesso à Internet em termos de classe, idade e sexo.

Por outro lado, o crescimento das outras redes,  pretensamente mais populares acima do Equador, acompanha tão somente o crescimento da massa de internautas.

Mas todo analista adora comparar, inclusive coisas incomparáveis, como o Orkut e o Facebook. E claro, a brasa sempre é puxada para sua sardinha. E o Facebook é a sardinha de quase todos os analistas, os sem-carona.

O mais recente argumento dá conta do crescimento do Facebook na Índia, igualando o Orkut. Mas também ouve-se que o Facebook tem mais aplicativos, tem integração mais amigável com outras redes, tem gadgets mais divertidos, é mais privativo, é mais preparado para intervenções comerciais como conteúdos proprietários de marcas, é mais bonito, mais moderno, mais seletivo, mais isso e mais aquilo. Mas a Índia não é aqui.

Mas se a penetração do Orkut não mexe uma palha há anos, se as outras redes não crescem na proporção de suas ambições e da torcida uniformizada dos analistas, pelo menos duas hipóteses podem ser levantadas.

A primeira é que provavelmente as diferenciações do Facebook não são suficientemente relevantes para atrair pessoas já habituadas e sedimentadas no Orkut. Dá trabalho mudar de número de celular, mesmo com a portabilidade. Migrar de rede é mais do que trabalhoso, é como mudar de identidade, de país, de família.

A segunda hipótese é que o Orkut talvez não seja  tosco, mas simples. E essa simplicidade talvez seja o que as pessoas gostam nele. Se perguntarem para uma novelista militante se ela quer interatividade, por exemplo, e escolha de trama online, aposto que ela vai mandar todo mundo plantar coquinho na rede mundial de computadores.

Toda análise é boa, desde que não contrarie as evidências.

Informar-se é tão inútil quanto relacionar-se

Nem percebemos, mas por que consumimos tanta informação? Será mesmo que instrumentalizamos tanta coisa, que tem alguma função prática nas nossas vidas saber do último crime passional, do mais recente sobressalto econômico, da insurgência libertária de um país distante, da catástrofe natural que assola os paquistaneses? E, ainda que nos entretenha, divirta ou acrescente alguma pimenta à vida feijão com arroz que levamos, ainda que tenham-nos incutido que informar-se genericamente é bom para nossa carreira, definitivamente, saber do último hit noticioso é tão útil quanto as últimas diabruras da Narizinho.

Mas o que faríamos na segunda-feira de manhã? No jantar da terça, no break da academia, nos almoços, cafés, preâmbulos de reunião e outras horas tão inúteis do nosso dia a dia? O que faríamos senão comentar tanta inutilidade?

Nem percebemos, mas por que somos tão socialmente ativos? Será mesmo que precisamos de tantos amigos, camaradas, relações, contatos? Para que serve conservar laços com aquele amigo que bifurcou para longe na infância, do amigo do camarada da relação do contato de quem nem lembramos o nome? Ainda que ter um address book transbordante seja uma marca de relevância pessoal, ainda que tenham-nos incutido que bem relacionar-se genericamente é bom para nossa carreira, definitivamente, ser o campeão das conexões é tão útil quanto as amizades da pelada no recreio da escola.

Mas o que faríamos no Orkut, no Facebook, no Twitter? O que faríamos de tanta coisa que armazenamos sem utilidade, o que faríamos de tanta gente de relevância duvidosa? O que faríamos senão pescar assunto para alimentar nossas redes? Pescar assunto na “Mídia” para alimentar a “nossa mídia”.

Alguém ainda tem dúvida de que as redes sociais online são muito mais relevantes na vida das pessoas do que as mídias tradicionais?

Alguém ainda tem dúvida de que as pessoas se informam mais e com mais prazer no Orkut do amigo do que no jornal quatrocentão?

Se houvesse um único real para investir em novas plataformas de distribuição de informação, esse real deveria ir para as redes sociais.

Facebook: cresca e apareça

O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.

Do total de pessoas com acesso à Internet no Brasil (81 milhões de pessoas acima de 12 anos de idade), 40% se relacionam com o Orkut. No Facebook, 4%.

O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.

Do total de pessoas com acesso à Internet no Brasil (81 milhões de pessoas acima de 12 anos de idade), 54% compartilham conteúdos no Orkut. No Facebook, 3%.

O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.

Fonte: não interessa porque isso não é nenhuma novidade, embora pareça.

A sustentável leveza de um clique

O problema da humanidade é o descarte. Como somos animais muito inteligentes, a gente começou a substituir “fisicalidades” por virtualidades etéreas. Do óbvio ao menos evidente.

Por exemplo, trocamos as cartas, os cadernos, as canetas, pelos correios eletrônicos. Trocamos os livros, as enciclopédias, pelas bibliotecas virtuais. Tudo muito simples de armazenar e num clique, a gente pode descartar tudo que já precisou de um suporte físico para existir. Um mero apagão pode apagar obras que se propagaram por séculos, que levaram anos para serem escritas e compostas. Descarte econômico, sem vestígio nem efeito colateral.

Mas também estamos substituindo outras insustentabilidades. Por exemplo, as relações humanas. Nossas redes aumentam na exata proporção da nossa incapacidade de interface presencial. Quanto mais gente conhecemos, menos podemos e também queremos presença, toque, intercâmbio físico. Trocamos smiles que querem dizer beijo, choro, raiva e alegria. Simples, econômico e, acima de tudo, maravilhosamente descartável.

Na Montanha Mágica, Hans Castorp passa 30 páginas para ter coragem de dizer bom-dia para uma moça que, como ele, se trata no sanatório. Mas ele não consegue muito mais do que um sorriso. Um sorriso que durou semanas. Que trampo, coitado! Se ele tivesse o Facebook da moça, eles já estariam namorando na primeira linha. Na obra, não rola nada entre os dois. Se fosse no Skype, eles teriam transado na primeira ligação. Hans teria tido muitas outras namoradas, teria distribuído milhões de beijos e, acima de tudo, teria maravilhosamente descartado todas, num clique.

Viva o mundo descartável.

Você é jovem? Depende de quantos amigos tem

Saint Exupéry, em Terra dos Homens, dizia que só existe um luxo verdadeiro, o das relações humanas. Ele devia ter meia dúzia.

Júlio tem 132 amigos. Luxo total. Devidamente ativos no msn, eles estão sempre a um toque de um Olá, Hey, Slt, porque, claro, eles estão espalhados nos quatro cantos. A maioria deles viu a luz nas redes sociais que Júlio freqüenta, tab sobre tab e no celular. Somando o povo todo, os amigos do msn e os amigos das redes, somam 645. Se Júlio fica acordado 14 horas por dia, e considerando q ele se comunica com o povo a cada dois dias por 3 minutos, somando os 1000 torpedos do seu pacote de celular que ele esgota todos os meses, Júlio está, o tempo todo, sem parar, se relacionando. Desconfio que Júlio faz xixi nas calças, por absoluta falta de tempo.

Urge o tempo de redefinirmos a palavra que está mais na moda no mundo: relacionamento. Amigo é coisa para se guardar em intangíveis bits.

Mas amigos, mesmo esses para os quais não dedicamos mais de 3 minutos a cada dois dias, fazem perguntas, esperam respostas, reações. Então, o jeito é ir ao sabor dos impulsos, transparentes por definição, sem pesar as palavras. A gente vai chutando as coisas, interpretando nossos relacionamentos na superfície das sensações e sem muito medo, inclusive, de mandar mensagens para as pessoas erradas ou tornar público o que poderia ser considerado intimo.

Nesse mundo fragmentado, que consumimos com crises infinitas de soluços, somos homens cebolas também nas relações. É a única proteção, inconsciente, que nos salva. A solidão é uma impossibilidade, a reflexão e a contemplação também.

Para cenaristas mais pessimistas, é o fim da individualidade. Para os mais positivos, é a re-união da espécie.

Júlio não acha nada ruim tudo isso. Não é massacrante ter que lidar com tanta gente. Anormal é perder tempo sem fazer nada. E quando a Internet cai, ele vai dormir: vai fazer o quê?