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A libertinagem de opinião das redes sociais

De uma coisa ninguém fala, mas a explosão da popularidade das redes sociais, por trás de todos os superlativos positivos, secreta um efeito pernicioso: a intolerância. O que antes acontecia nos cochichos de salão e nos covis das colunas dos jornais é mais fértil nas redes sociais e germina e dissemina-se com a velocidade das más notícias.

Numa rede social, e principalmente na mais ácida de todas, o Twitter, deslizes éticos são desculpáveis pela falácia do espaço curto e grosso das mensagens. Bizarra  ironia usar o argumento de que em 140 caracteres não há espaço para perder-se em comprovações e argumentos, logo na Internet, em que a relação espaço x preço é tão favorável à verborragia, ao tempo e ao aprofundamento (muito diferente de outros veículos em que cada segundo ou linha é disputado e custa caro).

Educação, bons modos e correção ortográfica são detalhes. Nas redes, o poder de síntese não é qualidade, mas álibi de vulgaridade ou ignorância.

Propósitos racistas ou simplesmente imbecis também são tolerados como se toda afirmação digital acontecesse em um manicômio ou num tribunal nazista, desta vez, em nome de uma presumida liberdade de opinião.

A moralidade das redes também é relativizada já que, no faroeste da Internet, manda quem tem mais seguidores, amigos, portanto, poder de influência. Então, aqui, ninguém tem freio e deita e rola porque sabe que todo controle é vago, difícil e sem consequência. É serra pelada: cada um por si e Santo Mark Zuckerberg por todos nós.

Assim, qualquer infâmia repercute. Basta uivar uma merda que a alcateia faminta se encarrega de defecar nos trend topics. Uma espécie de fascismo com pele de cordeiro.

Quem tem medo do espelho?

Quantas vezes não gaguejamos de dúvidas, muitas vezes inconfessáveis, sobre a qualidade do que produzimos?

Desenhistas seguram seus desenhos na frente do espelho para apreciar o resultado. Músicos fazem gravações para avaliar sua interpretação. Desencarnar-se da criação é um ato violento, mas emancipa o julgamento.

Outro jeito é submeter-se à apreciação dos demais para formar a imagem. Todo sufrágio avaliza a qualidade. Só os elogios ou perjúrios dos semelhantes é capaz de julgar.

Quem é mais sincero? O espelho ou o outro?

Você faz careta para seu reflexo ou pose para as fotos?

Depende da patologia social, e a atual aposentou o espelho cruel.

Likes no Facebook, seguidores no Twitter e número de conexões nas redes sociais são as novas patentes do século.

Se a sociedade de consumo entronizou a massa, a sociedade da informação beatificou a fama quantitativa.

Quando qualidade vira número, a autoimagem perde importância; a individualidade, o sentido, e toda criação vira mash-up, remix vulgar, mínimo denominador comum.

“Agradeço aos eleitores na rua e no Twitter”

Em democracias mais maduras, os órgãos de imprensa costumam declarar suas opções políticas e eleitorais. Na França, um dos maiores jornais do país, o Libération, se anuncia “anti-Sarkozy” convicto.

No Brasil, boa parte da mídia abriga-se sob o manto de uma confortável e aparente neutralidade. Portanto, se Obama pode eventualmente agradecer o inequívoco apoio do New York Times à sua campanha, o mesmo não poderia José Serra fazer à Veja.

O sonho hegemônico dos principais veículos de imprensa no país justifica essa neutralidade de opereta que transborda um falso apartidarismo.

Justifica em parte também a propaganda eleitoral gratuita, porque, por trás da máscara (furada) da neutralidade, os órgãos de imprensa fazem perniciosas campanhas. A neutralidade presumida é um poderoso argumento de convencimento. Era.

O candidato derrotado à eleição para presidente, em seu discurso logo após o resultado da apuração, agradeceu  aos seus eleitores “nas ruas e no Twitter”.

Singela delicadeza, já que seguidores são eleitores potenciais e ele também poderia ter agradecido aos leitores da Veja – que devem ser os mesmos, inclusive.

Mas mídias sociais são diferentes porque o conteúdo editorial é necessariamente “partidário”, portanto, honesto. Sem essa de fingir neutralidade.

Embora não se possa calcular ainda a importância da Internet nessas últimas eleições, já se pode perceber que a maior parte da imprensa brasileira “tradicional” teve muito pouca.

A imprensa tradicional brasileira está perdendo capacidade de mobilização também por falta de transparência?

A boçalidade do Twitter

Já se disse que o inferno são os outros. Mas Sartre não conheceu o Orkut, o Facebook, o Twitter. Se ele observasse o mundo de hoje, ele diria o contrário: o paraíso são os outros.

Ninguém é capaz de autoavaliação, a não ser através do olhar dos outros. Isso não tem nada de novo. Mas, como falamos de plataformas digitais, o fermento escancara as verdades mais dissimuladas.

Assim como o turista esfomeado fotografa mais do que vê, o usuário incontinente de rede social posta mais do que pensa.

E nessa corrida multiatarefada pela mais nova frase ou imagem de efeito, qualquer reunião de pessoas minimamente digitalizadas vira uma caçada de promoção individual. As pessoas instrumentalizam todas as interações com o único propósito de repercutir e colher um ricochete benéfico: “Se eu postar isso ou aquilo antes dos outros, vão me retwittar.”

Em nome da democratização acelerada, ninguém quer entender nada mais longo do que 140 caracteres. Reinventam as regras de abreviação, castram o estilo, decapitam a ornamentação. É a literatura do aforismo simplório, com trocadilhos e contradições de impacto. Quem lê Proust é javanês. Em nome da criatividade colaborativa, ninguém entende imagens que não sejam conceituais, em chulas associações de símbolos óbvios, forçados e manipulados. Quem aprecia Velásquez é marciano.

Em nome de muitos eufemismos, a ejaculação intelectual bate recordes de precocidade. Quanto mais rápido formos, mais relacionamentos e quanto mais relacionamentos, mais reputação. Um dia, parimos a primeira simplificação estúpida e nunca mais paramos.

Tomara que alguma frase desse post repercuta. É um bom exemplo.

Twitter is tiny in Brazil and Facebook is tinsy

Contra dados não há argumentos e a favor dos dados há manipulação.

Outro dia, divulgou-se que o Facebook na Índia já tinha ultrapassado o Orkut, mercado em que a rede social do Google também é muito popular. Precipitaram-se os analistas precoces e já declararam que isso era uma tendência. Precipitaram-se os trend-addicted para dizer que já já o mesmo aconteceria no Brasil. Berraram o sepultamento do Orkut, todos os parvenus da mídia.

O Facebook tem penetração altíssima entre jornalistas e publicitários. Isso é fato. Facebook is huge in the marketing market in Brazil: Correta a afirmação. Já no Brasil, são outros quinhentos, e o Facebook rasteja penosamente para fora do erro estatístico de qualquer pesquisa.

Agora alardearam que o Twitter tem uma penetração monumental no Brazil. Só se for nesse Brazil com Z, porque no nosso, só é grande a tagarelice dos twitteiros tupiniquins porque dizem que temos o maior número absoluto de postagens do mundo.

A pesquisa que anuncia uma penetração do Twitter de quase 25% considera também a população de pessoas com acesso à Internet no Brazil (com Z) em pouco mais de 40 milhões. Mas o Brasil só tem Z para quem pontifica sobre o país de binóculo embaçado.

A população com acesso à Internet no Brasil (com S), essa sim é huge. Deve beirar os 90 milhões. É mais huge ainda se ponderarmos pela renda per capita brasileira. Nesse caso, deve ser a maior do mundo disparado.

Então ficamos assim: o Twitter tem penetração tiny no Brasil com S e só é huge mesmo, por enquanto, na teeny-weensy população de quem cacareja no twitter para seu teensy grupo de seguidores.

O Twitter é uma rede egosocial

E agora, depois das pérolas de sabedoria com 240 caracteres, a competição no twitter é pelas pérolas de humor. É o jeito de encontrar mais seguidores no sentido mais superficial da idéia, ou seja, fãs.

O twitter é uma plataforma em gestação?

Pessoas praticam seu onanismo exibicionista com volúpia. Ou quem sabe, seja só uma espécie de incontinência de visibilidade, ao sabor das pautas do dia a dia. Tem lá sua função, catarse ou egotrip, porque desopila a mediocridade que nos achata.

Mas função mesmo individual, para além da função de se auto-propagar, pouco se encontrou.

Talvez não passe disso mesmo. Talvez o Twitter não seja uma rede social coisa nenhuma. Talvez seja só uma ferramenta de auto-promoção.

Talvez o Twitter não seja uma plataforma colaborativa coisa nenhuma. Talvez seja só um almanaque de curiosidades.

Talvez o Twitter não seja nem uma ferramenta de comunicação. Talvez seja só um divã barato e sem compromisso.

E se for só isso, tá bom né? Para que tanta onda, tanta ciência, tanta estratégia?

Vai dar saudade do Twitter

A Internet é pródiga em fenômenos que surgem como cogumelos endiabrados. Nascem e prosperam em uma madrugada, apodrecem ou procriam e ensinam um pouco.

Assim é o Twitter, uma ferramenta de relacionamento que virou estilingue de reputação ou pedestal da vaidade.

O “fenômeno” tem seus momentos de grandeza quando obtém esporádica redenção na mídia doura-pílula, manifestando vozes mudas do Irã ou do Haiti.

Mas profecias e estatísticas à parte, o Twitter é o que ele não nascer para ser: uma RSS comunitário. É nisso que é bem sucedido, sob uma perspectiva de mais fôlego. Se ele vai sobreviver como marca e plataforma independente é cedo para dizer.

Se o Twitter é isso aí, um espalha conteúdos entre pessoas pertencentes a uma mesma confraria, o que vem primeiro, o feature ou a comunidade? Dá para prever que o Twitter está mais para um apetrecho, um aplicativo de comunidades já estabelecidas do que um agregador de pessoas. Ele não conseguiu ser mais do que uma única boa idéia, que, como todas, para sobreviver, deve fermentar outras, sem parar.

Ele despertou para o estrelato como sempre é, na Internet: o pequeno bonitinho foi a bola da vez. Mas não sucumbiu, foi sucumbido, sem querer, ao star-system. Ele nasceu para estar na origem de agrupamentos comunitários do tipo “meus amigos do Twitter” e virou isso aí, uma catapulta para o Big Brother ou de outras mais renomadas estrelas do show bizz ou do esporte. Catapulta de esperteza.

O Twitter já perde fôlego, já perde velocidade, já perde interesse.

É uma pena, mas é assim mesmo, coisas do mundo líquido.

Para ensinar o peladão a se vestir (no Twitter)

Twitteiro profissional não corre atrás de seguidores nem de RTs.

O twitter “agendinha” e o twitter “frasista” cansam até os reis nus e os alisadores do próprio umbigo. Unfollow neles!

Tem twitteiro que leva a ferramenta a sério, para além da competição de tamanho (do falo).

A dica é experimentar o Klout, o Xefer e também o Hootsuite.

Ferramentas incríveis que incrementam o onanismo e o uso consciente (sem ironia) do Twitter.

Pedala Rubinho!

Uma manhã, a notícia correu, o sabonete do banheiro acabou e as perspectivas de férias suspeitas animaram os ânimos. O funcionário “D” estaria com a porcina. No recém convertido chiqueiro, em poucas horas, muitos já estavam com gripe suína psicológica.

Mais rápido que as pedaladas do @barrichelo para ser um @manomenezes, a febre não é um vírus, é um microblog. E vamos dar a mão à palmatória, o Twitter é o maior termômetro da insanidade “people” desde o lançamento dos tablóides. Todos os dias, milhares naufragam nas páginas dos veteranos anônimos, homônimos ou heterônimos. Do fôlego que resta pouco se sabe ainda, mas o fenômeno warholiano é um processo de falsidade ideológica coletiva. Nunca tantos esperaram tanto da síndrome da fama gratuita.

Está todo mundo com vontade mas ninguém sabe o nome do jogo, quais são as regras, nem o que se ganha. Se é reputação rápida ou razão de existir, o fato é que ensaiam-se muitos exercícios literários de tagarelice represada.

Mas a despretensão do twitter é tocante. Era uma agenda compartilhada, um registro autobiográfico (“what are you doing”) mas, para ser bem sucedido, tem que ser um almanaque de inteligência em pílulas de sabedoria (“what are thinking” ou “how do you think”).

Certa vez perguntaram para um jogador de futebol americano ilustre qual era sua opinião sobre a vigilância eletrônica dos provedores de acesso americanos e o desbocado dissertou uma hora sobre o a liberdade de expressão com teses tão assentadas quanto imbecis.

O twitter é uma ferramenta dos diabos: todo mundo tem algo a dizer sobre qualquer coisa. E cedo ou tarde, todos serão acometidos dessa febre, esse que vos fala inclusive.

Não há vacina contra a masturbação opinativa, sua precocidade de 140 caracteres e a presunção colateral de celebridade.

O twitter é

Uma espécie de confessionário?
Um espelho opaco?
Um livro de horas?
Um calendário com pérolas de sabedoria?
Um manual de doutrinação?
Um saco de pancada?
Um avatar da fama?
Uma Casa do Saber gratuita e sem piruagem?
Uma Caras da ZL?
Um clipping em 140 caracteres?
Um “consolo” de mal-amados?
Um mega fone das vaidades?
Um diário sem vergonha?
Uma travesti no armário?
Uma rede social e todo o blábláblá que qualquer wiki-man resolve dar quando indagado sobre algo que (como?!) ele não conhece ainda.

Sei lá eu. É twitter.

Tudo que é muito novo excita e assusta.
E, no início, o mundo se divide em dois:

Os excitados devassos.
Os assustados vitalinos.

Só pensamos naquilo

Todos vocês já devem ter notado como estamos ficando mais rápidos, mais informados, mais inteligentes e preparados. São os bônus dos tempos pós-pós-modernos.

Não é um problema de estresse pelo excesso de conteúdo informativo. Acreditamos na quase infinita capacidade de expandir a nossa percepção.

Não precisamos de curadores. Desejamos amplificadores de informação.

Não queremos um guru. Queremos milhões de sacerdotes da palavra.

Não gostamos de economia nem de essência. Gostamos de fartura e de multiplicidade.

Somos desplanejados e imediatistas, graças a Deus.

Mas também estamos ficando com mais olheiras, piores motoristas e muito mal-educados.

“O que vou escrever no meu twitter, facebook, blog etc”. Dormimos cada dia mais tarde porque temos que ler tudo que queremos ler, escrever em todas as comunidades que precisamos alimentar. Haja creme anti-age, compressa de chá de camomila, botox ou óculos escuros.

O trânsito está um caos. Sorte das redes sociais, dos blogs, dos aplicativos de celular. E só tende a piorar, porque é um olho no carro da frente, outro no celular. Uma mão no volante e a outra no teclado. Um neurônio na rua e três bilhões nas infovias. O trânsito não é um problema, é uma solução.

E como é bom descobrir todos os dias os milagres da vida: “Como é que eu vivi tantos anos sem isso e isso e aquilo!” Não dá mais para almoçar com os amigos sem verificar o nível de decibéis da sala, se a mesa está no prumo, qual é a temperatura (presumida e falsa) em Moscou. É falta de educação, mas estão todos na mesma, às vezes postando no twitter o que iremos ver segundos depois entre uma garfada de frango e uma goiabada (tudo no mesmo prato, claro).

No fundo, são poucos os prejuízos, não é mesmo? Porque, para os possíveis danos cerebrais, basta dar um reboot, de vez em quando, e bem rápido. Crtl-Alt-Del em algum lugar bem primitivo, ridiculamente ultrapassado, tipo um spa, uma viagem de avião sem internet ou uma noite, dormida.

E pronto, estamos novos de novo pra só pensar naquilo.