Tag Archives: Orkut

Internet para conectar?

A Internet foi imaginada, criada e comeu tutano com base em princípios de nobre cunho: acesso democrático à expressão, à comunicação e ao conhecimento por um lado e simplificação, aceleração e abrangência de intercâmbios de toda natureza por outro.

Diante da explosão do uso das redes sociais – 90% da população de internautas afirma ser para lá que se dirigem preferencialmente – muitos gostariam de ver nesses ambientes o futuro concentrador de todas as atividades e interações da Internet do “futuro” (entre aspas). Seria nessas plataformas concentradoras que as pessoas se relacionariam, expressariam, transacionariam, se informariam etc., quase que exclusivamente. E, com muita sede, os agentes (Facebook, Google-Orkut etc.) se mobilizam para diversificar ou colonizar territórios que não lhes eram fundadores.

Mas se analisar com alguma sutileza o comportamento e as pulsões por trás do uso das redes sociais, em seus usuários, parece haver algo que contraria a própria gênese da Internet: sua autocentralidade. As redes valorizam, facilitam e enaltecem a individualidade muito antes da sociabilidade. Basta fazer um exame, sem hipocrisia, de sua própria convivência nas redes sociais: eu primeiro, os outros depois. Faz sentido, é humano, genuíno e não há nada de artificial nesse comportamento. O espelho sempre foi e será o iniciador do despertar para o mundo.

Qual é a contradição, portanto, se a contradição existe? A Internet foi criada antes para conectar. As redes sociais inserem-se como uma luva nesse princípio – e por isso florescem – mas desviam-se rapidamente para o culto da autoimagem, autoexpressão, autossexuação.

Por isso, parece haver um desarranjo quando se arvoram nas grandes redes a ambição de dominação e a concentração das atividades online. Imperceptível mas crescentemente, não parece ter lógica vislumbrar um futuro desses, contrariando todas as tendências numéricas.

Mais parece uma espécie de marketing monopolista do que uma realidade inescapável.

O que torna a Internet forte é que nenhum interesse parece ter prevalência sobre nenhum outro, e mesmo que algum tipo de monopólio se fundamente, em curto espaço de tempo a autogestão orgânica da rede trata de rebaixar sua influência. Ainda bem.

Orkut X Facebook em Cajamarca

De um lado, o velho comandava sua pequena força de sessenta cavaleiros e cento e poucos homens a pé. Do outro, o imperador pimpão à frente de um exército de 60 mil homens.

Por que Pizarro venceu Atahualpa, em Cajamarca? Cansados soldados venceriam um exército 400 vezes maior, bem alimentado, defendendo sua própria terra e seu Deus Soberano? Estratégia e desespero poderiam dar cabo de um império que dominara seus inimigos de forma implacável?

As probabilidades, felizmente, não explicam tudo. Muito menos a Wikipedia.

Mas a história é bem conhecida.

Pizarro tinha maldade no coração: convidou o imperador para parlamentar e o fez prisioneiro. Recebeu resgate riquíssimo mas descumpriu o trato e matou Atahualpa.

Mas Pizarro é um acidente de percurso que, com boa vontade, só acelerou em poucos meses a vitória. A Espanha teria aniquilado o império Inca com ou sem Pizarro.

Os brancos tinham eficientes montarias – os cavalos – armaduras resistentes – de aço – armas poderosas – com pólvora.

Dizem que o Facebook (4% de penetração) cresce no Brasil a taxas de 400% ao ano. O Orkut (40% de penetração) pula de 30% em 30%.

O Facebook tem os milhões do Goldman Sachs, e o Orkut, a soberania preguiçosa do Google.

O Facebook tem a fanática evangelização Yankee. O Orkut come pão de queijo, sem pressa.

Ainda torcemos, mas já vimos esse filme em Cajamarca, quase 500 anos atrás.

Twitter is tiny in Brazil and Facebook is tinsy

Contra dados não há argumentos e a favor dos dados há manipulação.

Outro dia, divulgou-se que o Facebook na Índia já tinha ultrapassado o Orkut, mercado em que a rede social do Google também é muito popular. Precipitaram-se os analistas precoces e já declararam que isso era uma tendência. Precipitaram-se os trend-addicted para dizer que já já o mesmo aconteceria no Brasil. Berraram o sepultamento do Orkut, todos os parvenus da mídia.

O Facebook tem penetração altíssima entre jornalistas e publicitários. Isso é fato. Facebook is huge in the marketing market in Brazil: Correta a afirmação. Já no Brasil, são outros quinhentos, e o Facebook rasteja penosamente para fora do erro estatístico de qualquer pesquisa.

Agora alardearam que o Twitter tem uma penetração monumental no Brazil. Só se for nesse Brazil com Z, porque no nosso, só é grande a tagarelice dos twitteiros tupiniquins porque dizem que temos o maior número absoluto de postagens do mundo.

A pesquisa que anuncia uma penetração do Twitter de quase 25% considera também a população de pessoas com acesso à Internet no Brazil (com Z) em pouco mais de 40 milhões. Mas o Brasil só tem Z para quem pontifica sobre o país de binóculo embaçado.

A população com acesso à Internet no Brasil (com S), essa sim é huge. Deve beirar os 90 milhões. É mais huge ainda se ponderarmos pela renda per capita brasileira. Nesse caso, deve ser a maior do mundo disparado.

Então ficamos assim: o Twitter tem penetração tiny no Brasil com S e só é huge mesmo, por enquanto, na teeny-weensy população de quem cacareja no twitter para seu teensy grupo de seguidores.

O Orkut é tosco?

Todo mundo tem muita opinião sobre Internet. Por ser, provavelmente, o meio mais fácil de ser pesquisado, ele também é o mais pesquisado. E, com ou sem carona em pesquisas, tem mais analista do que internauta, principalmente os sem carona.

O Orkut é incontestavelmente a rede social mais popular do país (com uma diferença abissal para os outros), aquela que as pessoas mais costumam acessar (o Orkut não é um cemitério de bits), e permanece incólume, no topo, há mais de dois anos.

Sua utilização é abrangente (usado ativamente no compartilhamento de conteúdos) e acompanha a própria penetração do acesso à Internet em termos de classe, idade e sexo.

Por outro lado, o crescimento das outras redes,  pretensamente mais populares acima do Equador, acompanha tão somente o crescimento da massa de internautas.

Mas todo analista adora comparar, inclusive coisas incomparáveis, como o Orkut e o Facebook. E claro, a brasa sempre é puxada para sua sardinha. E o Facebook é a sardinha de quase todos os analistas, os sem-carona.

O mais recente argumento dá conta do crescimento do Facebook na Índia, igualando o Orkut. Mas também ouve-se que o Facebook tem mais aplicativos, tem integração mais amigável com outras redes, tem gadgets mais divertidos, é mais privativo, é mais preparado para intervenções comerciais como conteúdos proprietários de marcas, é mais bonito, mais moderno, mais seletivo, mais isso e mais aquilo. Mas a Índia não é aqui.

Mas se a penetração do Orkut não mexe uma palha há anos, se as outras redes não crescem na proporção de suas ambições e da torcida uniformizada dos analistas, pelo menos duas hipóteses podem ser levantadas.

A primeira é que provavelmente as diferenciações do Facebook não são suficientemente relevantes para atrair pessoas já habituadas e sedimentadas no Orkut. Dá trabalho mudar de número de celular, mesmo com a portabilidade. Migrar de rede é mais do que trabalhoso, é como mudar de identidade, de país, de família.

A segunda hipótese é que o Orkut talvez não seja  tosco, mas simples. E essa simplicidade talvez seja o que as pessoas gostam nele. Se perguntarem para uma novelista militante se ela quer interatividade, por exemplo, e escolha de trama online, aposto que ela vai mandar todo mundo plantar coquinho na rede mundial de computadores.

Toda análise é boa, desde que não contrarie as evidências.

Facebook: cresca e apareça

O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.

Do total de pessoas com acesso à Internet no Brasil (81 milhões de pessoas acima de 12 anos de idade), 40% se relacionam com o Orkut. No Facebook, 4%.

O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.

Do total de pessoas com acesso à Internet no Brasil (81 milhões de pessoas acima de 12 anos de idade), 54% compartilham conteúdos no Orkut. No Facebook, 3%.

O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.
O Facebook não existe no Brasil, rede social é Orkut.

Fonte: não interessa porque isso não é nenhuma novidade, embora pareça.

Rede social já era

As redes sociais bombam no mundo inteiro. Sabe aqueles números grotescos que adoramos apresentar para convencer os incautos? O tamanho do Facebook no mundo, do Orkut no Brasil, aquelas falácias clássicas da marca X que saiu do anonimato da noite pro dia com uma estratégia (sic) de redes sociais (sic sic)? É tudo verdade mas esse assunto perdeu a graça. É papo de evangelizador neófito, blablabla de imprensa pretensamente antenada.

Muito mais fascinante é antever, ou desenhar cenários de tendências. O que vem depois?

A anatomia da Internet pressupõe a explosão ad infinitum dos canais de comunicação, a atomização extrema das vozes. No limite, cada pessoa é emissora, veículo, canal, mídia.

Funciona mais ou menos assim: descubro primeiro que, de forma simples e barata, minha voz pode ser ouvida por quem me interessa. Depois, percebo que também posso atingir pessoas que nem suspeito que existam. Na seqüencia, saco que esses anônimos todos podem me interessar. Fico muito empolgado.

Minha primeira experiência é entrar nos canais que já me dão espaço. Entro nos veículos tradicionais e boto a boca no trombone. Mas e se eu pegasse um lotezinho numa comunidade? É mais simples, menos travado, dá mais liberdade. Vou lá fazer meu perfil no orkut, no facebook.

Quando eu melhoro de vida, resolvo ambicionar um lugar pra chamar de meu. Sonho sair do Cingapura, do BNH. E começo pequenininho, compro um terreninho, ensaio meu bloguezinho. Tomo gosto. Melhoro de vida e meu lugar  – que chamo de meu – cresce, fica bacana, recebo visitas, dou festas, cresce e aparece.

Pra que colaborar na casa dos outros? Pra que morar num balança-mas-não-cai? Pra que ficar na periferia? Desisto de comentar notícia nos veículos online, abandono meus perfis de rede social, e viro minha própria Rede Globo.

É por isso que o hoje já é ontem, na Internet. Facebook, Orkut? Old fashion!