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É só um crachá e nada mais

Nunca podemos menosprezar o ambiente gelatinoso e experimental da Internet. Uma das seduções desse universo, talvez a mais visceral, é a descoberta, a vertigem do novo, a fronteira do status-quo, da convenção, da regra, da monotonia. É essa natureza rebelde, mutável, imprevisível que fascina e vicia porque a Internet é o último reduto dos inconformados.

E quando uma onda fica ou parece muito poderosa, quando desafia a independência e a identidade, quando tenta pasteurizar os comportamentos e nivelar os gostos, quando um movimento, uma plataforma, uma marca levanta o nariz com ares de poder provinciano, quando uma ideia outrora inteligente derrapa na voracidade mercantil, quando uma empresa listada e cheia da grana vai às compras porque não consegue mais atrair boas ideias, é o começo do fim. Da noite para o dia caduca, apesar das mentiras bem contadas pelos crachás catequisados.

Esse déja vu consola.

Menos antidepressivo, mais insegurança

Você se acha gostoso e inteligente no Facebook? Cuidado, você está senil.

Não existe sensação mais perigosa do que o entorpecimento da autoconfiança, aquele conforto do poder, a pança da segurança blasé, o bem-estar de saber distinguir o gosto do desgosto.

Quando sobre tudo se tem uma opinião que a “experiência” lhe conferiu, quando a fluência do monólogo  é cômoda e o ouvido atrofiou de tanto escutar-se, as soluções rápidas não são apuros de raciocínio e inspiração mas preguiça disfarçada de sabedoria.

Essa sensação é chamada de senilidade e acomete moços e velhos cronológicos.

Estranhamente ou não,  é muito comum entre os jovens das gerações acolchoadas que nasceram a um clique de toda a informação, a um passo do ócio voluntário. Caduca  cedo a geração que parece já ter nascido sabendo.

Estranhamente ou não, os da geração que ralou o joelho no recreio, que decalcava enciclopédia e tinha roupa de sair e outra de bater aprende rápido a ficar senil. Caduca rápido a geração que teve que teve aula de Facebook.

O remédio para tudo isso é diminuir a cota de antidepressivos, naturais, artificiais, medicinais ou fantasiosos. É tomar menos prozac, fazer menos plástica e principalmente posar menos para o celular. É consumir menos pílulas de saber, menos elixires de prazer instantâneo, menos shopping, menos seriados, menos masturbação virtual nas redes.

O remédio é ser humano temente à natureza das coisas: fraco, só e inseguro.

Desligar o Facebook não mata ninguém

Sabe aquele seu amigo que sabe de tudo, lê tudo, indica coisas que você nunca suspeitou que existissem? Sabe aquele cara que é sempre o primeiro a dar uma informação, aquele máquina de dados? O cara que posta opinião sobre tudo e todos, com farta exemplificação? Em suma, o sujeito que lê todas as revistas e principalmente aquelas de auto-ajuda empresarial? Você não morre de inveja de suas citações tão apropriadas, de sua memória, de seus “veja bem”, “olha só”, “você não leu na Fast Company”?

De dar complexo de inferioridade.

Mas a revanche é pensar que muitos não passam de  empreendedores de social games, terroristas de apartamento, revolucionários de power points, artistas de mash-up. Replicam com sofreguidão, muitas vezes sem filtro nem senso crítico, o que peneiram por aí.

Quem muito planeja, pouco se arrisca. Tanta erudição é um disfarce para esconder limitações criativas ou só muita insegurança.

Essas pessoas são pródigas e, depois que inventaram a Internet, elas se multiplicaram assustadoramente. A tal ponto, que as vezes, é de se pensar que a facilidade de acesso à informação é um veneno, uma trava, um inibidor de coragem e criatividade.

Menos Internet as vezes é um bom remédio. Mas que difícil.

 

Google e Facebook morte lenta

Quando, finalmente, esganamos ou escravizamos nossos inimigos, o barrigão cresce e a  libido fica preguiçosa.

O Google, como todo monopólio, estão perdendo o viço. É natural: até ganhar louros e dinheiro cansa. Mas a semente da senilidade, nesse caso, é outra e se chama liberalismo insano.

Claro que tudo ainda está muito encoberto por um estrondoso sucesso de público e dinheiro.

Mas já faz algum tempo que o Google deixou de ser uma ferramenta de busca por conteúdo e tornou-se um repertório comercial organizado por relevâncias pagas ou espertas. Já faz algum tempo que o Youtube virou um shopping center de vídeos no mais clássico estilo do cinema de laboratório. O Gmail, a grande arapuca do marketing direto, já afirmou que seu compromisso não era nem nunca foi com privacidade.

Evidente que eles ganham todos os holofotes e todos os dinheiros do mundo.

Só que está ficando fastidioso buscar algo no Google sem ser invadido por uma farta oferta comercial. Páginas e mais páginas de inutilidades antes de encontrar uma informação. Tente procurar, por exemplo, Victor Hugo: vai ter as marcas, os filmes, os restaurantes, as livrarias, os hotéis, as lavanderias e até quitanda online, muito antes de ter alguma coisa realmente interessante sobre o autor da Lenda dos séculos. Não surpreende depois que Debussy seja um teatro, um restaurante, uma empresa de pintura, antes de ser compositor.

E o problema não é a propaganda paga, é justamente a “gratuita”. O SEO está matando a relevância. Melhor procurar logo as velhas marcas do passado, os jornais, as enciclopédias, as obras de referencias, os dicionários. Ou claro, a Wikipedia, esse patrimônio da humanidade.

O Facebook, e suas ejaculações sociais, não passa, nem nunca passou, de uma troca superficial de conteúdos pré-digeridos. Nunca se interessou em ser um arquivo organizado de fatos e histórias, nunca sequer se perguntou para que existia além da óbvia ganância. Então, não vale nem perder muito a pena para decifrar sua missão.

Mas a Internet é rebelde e tem tempo. Todo monopólio é um corpo estranho nesse ambiente anárquico, orgânico e que acalenta os gênios da contravenção ideológica. Ainda bem.

A culpa e a Internet

A Internet foi um enorme salto quantitativo na comunicação interpessoal. Encolheu o tempo e o espaço. Mais rapidamente interagimos, resgatamos relações esquecidas e tanto faz se estamos a cem ou cem mil quilômetros de distância. E tomamos gosto com essa incontinência comunicativa. Isso nos dar uma espécie de poder sobre a vida alheia. O poder de saber, de bisbilhotar, de se exibir também. Dá-nos a sensação de estar quites com os outros e com nós mesmo. Um simulacro de autossuficiência.

Fora isso, tem o balsamo ao egoísmo e à culpa.

Antigamente, dava trabalho relacionar-se com pessoas. Era preciso tempo, foco e renúncia. Se alguém partia, era necessário esperar o correio para reatar sentimentos e saudades. Se alguém sumia, era preciso suor para reencontrar vestígios e coragem para religar as pontes. Se alguém adoecia, era preciso levar laranjas e flores e padecer na cabeceira. Antigamente, toda ausência era mais sofrida e mais intensa. Uma relação que se mantinha era um cimento.

Hoje os relacionamentos banalizaram-se na medida em que os obstáculos – os tempos e espaços – foram removidos ou ilusoriamente substituídos. Basta um email de vez em quando para dizer que se ama. Basta uma busca no facebook para reatar. Basta um SMS para prestar solidariedade. Basta um ou dois cliques para sentir-se menos egoísta e culpado.

Talvez devêssemos encontrar outras palavras para qualificar relacionamentos, amizades, amores de antigamente. Ou talvez essas relações mais viscerais, profundas e ricas não passam de literatura.

Apesar da parafernália que nos une, estamos cada vez mais enganados e isolados.

As echcrotas do Facebook

Mais um vídeo hilário que é daqueles fenômenos de marketing acidental.

Não fosse pela finesse e sofisticação da garota, a sua lição de etiqueta no Facebook não passaria de mais uma fazendo o politicamente correto: falar mau da over exposição das pessoas nas redes. Não passaria de mais um papo sobre o que é certo e o que é errado. Mais um faça o que eu digo mas não faça o que eu faço.

Como sempre nessas horas, o vídeo viraliza-se e é imediatamente uma unanimidade, uma referência, vira notícia em todo lugar, sem nenhum senso crítico ou sutileza.

Apesar das gargalhadas envergonhadas, é uma triste realidade que esse vídeo escancara. E não é porque fala a verdade mais ululante sobre a promiscuidade explícita das redes.

Houve um tempo em que as referências eram outras. Um tempo em que nos espelhávamos em padrões mais elevados, inteligentes e polidos.

É triste perceber que se a Luane está dizendo que não podemos nos expor no Facebook como fazemos (porque gostamos de fazer mesmo sabendo que é ruim) fica a estranha sensação que essa pornográfica exposição é pior do que imaginávamos. Ela se assombra e se horroriza. Difícil ver um pior exemplo para dar lição. Tragicômico.

E que português nojento, socorro.

O messianismo (do Google e do Facebook) são armas de dominação em massa

O que caracteriza a sociedade de informação e do conhecimento, é a explosão de intermediários que disputam espaço e poder no impulso das pessoas.

A utopia do acesso livre e universal é uma quimera e as coisas ficaram paradoxalmente muito mais intrincadas.

Entre uma pessoa e a mais singela e banal das informações, existem muitas camadas de acesso e todas essas pontes tem pedágios. Entre qualquer conteúdo e um usuário existe o device (um smarphone, etc), o provedor de acesso (uma operadora), o software de acesso (um browser, um aplicativo), um organizador (uma ferramenta de busca), um agregador (o curador do conteúdo), uma plataforma de recomendação (uma rede social), uma comercializador (uma loja de aplicativos), e por aí vai.

Portanto, em princípio, entre uma marca e um consumidor, a via de acesso é muito mais complexa e fragmentada. A marca e seu conteúdo têm que pingar uma energia em cada uma das etapas, o que teoricamente encarece o custo unitário do impacto.

Quando se ouvem os apelos entusiastas de qualquer um desses intermediários (o Google, o Facebook, para citar os da hora) enaltecendo o extraordinário potencial de retorno de suas plataformas, eles mal disfarçam sua real intenção monopolizadora: concentração é poder.

Para as marcas, a concentração também pode significar uma economia de esforços, mas numa perspectiva estratégica, ela está empenhando a sua liberdade, caucionando seu poder e tornando-se deliberadamente vassala dos intermediários poderosos.

A contradição é flagrante: se uma marca acredita que tem capacidade de produzir conteúdos relevantes e engajadores para seus consumidores, por que ela iria se privar do direito e do poder de também dominar a distribuição desse conteúdo?

Por que o conteúdo de uma marca tem que concentrar o pedágio no Facebook, no Youtube? Porque ela não pode ter seu próprio canal? Por que o Facebook não pode ser simplesmente uma mídia? É só uma rede social e como tal é imbatível. Mais uma. Por que o Youtube não pode ser simplesmente um organizador de conteúdos em vídeo? É só uma infraestrutura inigualável de exibição. Mais um.

Não, não pode, porque seus modelos de negócio passam pela concentração. Dependem dele. Não, não podem, porque seus discursos de venda são messiânicos. Dependem dele.

Uma marca que acredita em seu próprio poder, em seu próprio conteúdo, não pode ser dependente de uma estratégia concentradora. Deve dividir e equalizar, fragmentar para reinar.

Cada um tem o like que gosta

O debate da moda é a likabilidade.

Muitas linhas já foram derramadas sobre esse tema e o consenso é meio óbvio: o like é o novo viewed, a quantidade de likes corresponde à antiga medida de pages viewed. Portanto a likabilidade é uma medida de atividade, ou se preferirmos uma metáfora ainda mais antiga, é cobertura: um like é um impacto em uma pessoa.

Portanto, like não quer dizer like nem engajamento, nem envolvimento. É só uma confusão típica de quem, ingênua ou maliciosamente, viu na Internet uma revolucionária nova fronteira – para a comunicação ou para ganhar dinheiro. A Internet e o Facebook estão cheios dessas armadilhas: assim como like não é like, fan não é fan.

Mas é bom ter muitos likes, claro que é. É sinal que a página não é um cemitério periférico. Tem fluxo. E como o excesso de métricas atrapalha o raciocínio: no fim do dia, o que se procura mesmo é o beabá dos beabás desde que inventaram a palavra mídia: likes (fans), ou seja, audiência. A “Internet” nos enganou vendendo sua improvável mensurabilidade in extremis.

Então qual seria a métrica ideal? Outras mais complexas são inventadas todos os dias. E assim tiramos do baú mais palavras falsas que convencem para justificar a falta de likes.

Talvez um dia a gente consiga praticar a “engajaganda”, mas certamente não será através do artifício esperto de confundir like com like.

Facebook: uma exercício de orgia quantitativa

Parece que na média, 15% de todas as informações postadas no time-line de uma pessoa, no Facebook, são de fato vistas.

Se você é uma pessoal normal e tem 300 amigos que postam em média 1 vez por dia no Facebook, você vê, em média, 48 mensagens por dia.

Estima-se que menos de 20% de todas os posts são aprofundados (com cliques nos links por exemplo). Logo, das 48 mensagens, 38 são apenas uma passada d’olhos. Sobram 10.

Digamos que 10% de todos os seus amigos são mentirosos, exagerados ou apenas ingênuos. Das 10 mensagens que merecem destaque, uma não é crível. Deu 9.

Supomos, ainda, que apenas 40% de todos os seus contatos no Facebook sejam mais informados, cultos ou inteligentes do que você. Portanto, menos da metade são dignos de bagagem suficiente para você considerar válidas suas mensagens. Isso dá 4.

Pessoas de uma mesma rede social costumam compartilhar as mesmas informações a uma taxa de 40% em média. Portanto, apenas 60% das 4 mensagens diárias são inéditas, ou seja, 2.

Ainda, mais da metade (58%) de todas as informações compartilhadas no Facebook provêm de fonte tradicional (órgãos de imprensa principalmente). Logo, das 2 informações diárias que se lê na rede, aprofundadas, verdadeiras e da qual não se tinha conhecimento, menos de uma é o que poderíamos chamar de furo.

90% da motivação das pessoas dentro de uma rede social é para exprimir-se, falar de si, de sua vida, rotina, aspirações e frustrações. Assim, do único quase furo acima, sobra 0,1 mensagem relevante, séria e instrutiva.

Como todos os dados foram arredondados (acima de 0,4, para cima, abaixo de 0,41, para baixo), sobra 0.

Claro que esses números referem-se a médias e consideramo-nos todos acima dela. Portanto, devemos ser pelo menos 5 vezes “melhores” do que a média para tirar algum proveito nas redes sociais.

Ou se formos menos pretenciosos, precisamos 5 vezes mais assiduidade ou 5 vezes mais pessoas no Facebook (ou seja, todo mundo). Essas são as estratégias do negócio.

Já a estratégia publicitária é estimular as pessoas a serem 5 vezes mais sociáveis. Ou terem amigos mais abertos. Ou possuírem 5 vezes mais tempo livre. Ou conseguirem 5 vezes menos amigos mentirosos. Ou 5 vezes mais amigos mais inteligentes. Ou 5 vezes mais amigos originais. Ou 5 vezes mais amigos do FBI. Ou 5 vezes mais amigos menos preocupados com seu próprio umbigo.

Obs: todos os números acima foram deliberadamente chutados.

Curtir propaganda é clicar no botão curtir?

Talvez devessemos mudar as nomenclaturas do enorme saco de gatos daquilo que chamamos de comunicação. Isso evitaria uma série de mal-entendidos e expectativas nos briefings que parimos diariamente.

Já não é de ontem que o mantra universal para qualificar a boa comunicação é avaliar o potencial que seus conteúdos têm para emocionar receptores (ou consumidores ou seres humanos, pessoas, gente, comedores, dorminhocos, cagadores, amantes, mámiferos bípedes dotados de cérebro avantajado). Sem medo de errar, esse se tornou também o grande balizador de qualquer iniciativa para uma marca. Estratégias vencedoras devem emocionar, mas existem também todas as muitas outras, que, quando muito, informam.

A partir desse critério, portanto, encontramos dois formatos: o formato cuja vocação é tocar o consumidor no coração (emoção), o outro que deve atingir sua cabeça (razão). Sabe-se que o primeiro, quando bem executado, tem um poder soberano sobre o segundo porque o coração age mais rápido e de forma incontrolável. Já o segundo é escravo da comparação, portanto mais frágil.

Vale o adendo aqui de que os dois formatos são excludentes. Qualquer tentativa de despertar um ou outro dos sistemas (emocional e racional) elimina qualquer possibilidade de atuação do segundo. A confusão é comum e muitos acreditam ser possível emocionar e racionalizar simultaneamente.

Dando crédito de confiança à tese do tiro bilateral (emoção e razão), devemos portanto começar priorizando e, assim, todo e qualquer briefing deveria começar definindo, sem qualquer julgamento de valor, a sua prioritária vocação: emocionar ou informar?

Se o objetivo é emocionar, deve-se evidentemente dar livre curso à imaginação baseando-se em evidências ou descobertas motivadoras. O insumo criativo aqui são os pulsos, comportamentos, valores, aspirações, sonhos, frustrações ou recalques. Aqui não estamos falando com consumidores mas pessoas. Aqui o que importa são as  “Multiple Mind Motivations” e os “Points to Feel”.

Já se o objetivo é informar, o trabalho consiste em levantar os atributos concretos, funcionais, pragmáticos, operacionais daquilo que pretendemos comunicar. O insumo criativo é criar uma ordem, um foco, uma escolha em cada uma das informações colhidas em função das necessidades e das expectativas, corretamente alinhadas com as razões para crer na entrega. Aqui estamos com consumidores e não pessoas. Aqui o que importa é a “Single Mind Proposition” e o “Reason to Believe”.

O segundo passo portanto de um briefing deve ser definir, dependendo da primeira escolha (emocionar ou informar), qual é o Multiple Mind Motivations e o Points to Feel, em um caso, e o Single Mind Proposition e o Reason to Believe, no outro.

Isso seria relativamente simples se não tivesse surgido a Internet para bagunçar o trabalho. A Internet extrapola em vários sentidos o que nos acostumamos por décadas a chamar de mídia. E um dos erros clássicos incorre em chamar a Internet de mídia. Ela é mídia, inclusive, mas é também serviço: meio de comunicação interpessoal (como o telefone), espaço de entretenimento (como os games) e de negócios (como as feiras e shoppings), é plataforma de transação (como bancos, correios, serviços públicos) e por aí vai.

Para resolver a definição do que seria comunicação em uma era pós-Internet, decidiu-se pela solução mágica e imprecisa de substituir “comuicação” por “conteúdo”. E assim, tudo seria conteúdo (o emocional e o racional e esse monte de outras coisas que a Internet permite).

Mas essa é uma solução gauche ou na melhor das hipóteses que redefine para além do prático o papel das agências (ex-agências de propaganda, ex-agências de comunicação e agora agências de conteúdo).

Existe no entanto uma forma mais simples de resolver o nó  do briefing, contemplando agora o maremoto vago e polivalente das possibilidades nascidas pela Internet (ou digital pra ser mais genérico ainda).

Como vimos, o briefing deveria dizer se o trabalho deve priopritariamente emocionar ou informar. Pois talvez seja a hora de acrescentar a terceira variável: o trabalho deve prioritariamente emocionar, informar ou servir?

Assim, e inclusive na Internet, é possível definir a “question one” do briefing e, de forma precisa, o papel de cada canal.

Assim também, e de forma clara, não correriamos mais o risco de tentar emocionar numa mala direta, nem informar  em diárias na home do Youtube. Não tentaríamos, como cegos em tiroteio, arrepiar nossos públicos com estratégias de redes sociais ou de search. Isso também nos livraria da batalha das campanhas de preços e features que aterrorizam dispendiosamente os horários nobres da televisão.

Finalmente, poderíamos também julgar o que é boa “comunicação” e não dizer que uma caralhada de likes no Facebook é do caralho.

O Facebook está catatônico

Ainda está chegando gente aos borbotões, atropelando-se e os amigos acotovelam-se para encontrar um lugar no mural do próximo. Talvez essa febre esteja no início, e quem sabe um dia, conseguiremos dar sentido à euforia. O vício é confortante. É blasé remar contra.

Mas a sinceridade nunca pode ser acusada de cafona.

Mesmo sendo uma bandeirinha que reafirma a existência num mar de conformismo preguiçoso, mesmo sendo o “hey eu existo” nosso de cada minuto, mesmo sendo um antídoto ao drama existencial, O Facebook estabelece contatos de primeiro grau, fortuitos e quase sempre gratuitos.

Então se não serve para celebrar laços, talvez seja apenas distração, entretenimento, deliciosa inutilidade solitária. Parece que já inventamos a literatura, o cinema, o video-game com outras mais envolventes imersões egoistas. Meia boca esse Facebook.

E se fosse só um amplificador verbal, para transbordar energia, um ladrão para nossa caixa de bobagens? Ou quem sabe sirva para aplacar nossa sede de bisbilhotagem, nossa curiosidade doentia pelo outro presumidamente melhor ou pior que a gente?

O Facebook talvez seja essa colcha de retalhos aí, esse repositório de interesses, um molambento e telegráfico consolo.

Mas isso não é nada. O problema é que desde que virou menino prodígio das manchetes e xodó da nova publicidade, o Facebook virou um feirão vulgar e confuso. Esquizóide. Catatonico. Nenhuma feiura será perdoada.

Internet para conectar?

A Internet foi imaginada, criada e comeu tutano com base em princípios de nobre cunho: acesso democrático à expressão, à comunicação e ao conhecimento por um lado e simplificação, aceleração e abrangência de intercâmbios de toda natureza por outro.

Diante da explosão do uso das redes sociais – 90% da população de internautas afirma ser para lá que se dirigem preferencialmente – muitos gostariam de ver nesses ambientes o futuro concentrador de todas as atividades e interações da Internet do “futuro” (entre aspas). Seria nessas plataformas concentradoras que as pessoas se relacionariam, expressariam, transacionariam, se informariam etc., quase que exclusivamente. E, com muita sede, os agentes (Facebook, Google-Orkut etc.) se mobilizam para diversificar ou colonizar territórios que não lhes eram fundadores.

Mas se analisar com alguma sutileza o comportamento e as pulsões por trás do uso das redes sociais, em seus usuários, parece haver algo que contraria a própria gênese da Internet: sua autocentralidade. As redes valorizam, facilitam e enaltecem a individualidade muito antes da sociabilidade. Basta fazer um exame, sem hipocrisia, de sua própria convivência nas redes sociais: eu primeiro, os outros depois. Faz sentido, é humano, genuíno e não há nada de artificial nesse comportamento. O espelho sempre foi e será o iniciador do despertar para o mundo.

Qual é a contradição, portanto, se a contradição existe? A Internet foi criada antes para conectar. As redes sociais inserem-se como uma luva nesse princípio – e por isso florescem – mas desviam-se rapidamente para o culto da autoimagem, autoexpressão, autossexuação.

Por isso, parece haver um desarranjo quando se arvoram nas grandes redes a ambição de dominação e a concentração das atividades online. Imperceptível mas crescentemente, não parece ter lógica vislumbrar um futuro desses, contrariando todas as tendências numéricas.

Mais parece uma espécie de marketing monopolista do que uma realidade inescapável.

O que torna a Internet forte é que nenhum interesse parece ter prevalência sobre nenhum outro, e mesmo que algum tipo de monopólio se fundamente, em curto espaço de tempo a autogestão orgânica da rede trata de rebaixar sua influência. Ainda bem.

A libertinagem de opinião das redes sociais

De uma coisa ninguém fala, mas a explosão da popularidade das redes sociais, por trás de todos os superlativos positivos, secreta um efeito pernicioso: a intolerância. O que antes acontecia nos cochichos de salão e nos covis das colunas dos jornais é mais fértil nas redes sociais e germina e dissemina-se com a velocidade das más notícias.

Numa rede social, e principalmente na mais ácida de todas, o Twitter, deslizes éticos são desculpáveis pela falácia do espaço curto e grosso das mensagens. Bizarra  ironia usar o argumento de que em 140 caracteres não há espaço para perder-se em comprovações e argumentos, logo na Internet, em que a relação espaço x preço é tão favorável à verborragia, ao tempo e ao aprofundamento (muito diferente de outros veículos em que cada segundo ou linha é disputado e custa caro).

Educação, bons modos e correção ortográfica são detalhes. Nas redes, o poder de síntese não é qualidade, mas álibi de vulgaridade ou ignorância.

Propósitos racistas ou simplesmente imbecis também são tolerados como se toda afirmação digital acontecesse em um manicômio ou num tribunal nazista, desta vez, em nome de uma presumida liberdade de opinião.

A moralidade das redes também é relativizada já que, no faroeste da Internet, manda quem tem mais seguidores, amigos, portanto, poder de influência. Então, aqui, ninguém tem freio e deita e rola porque sabe que todo controle é vago, difícil e sem consequência. É serra pelada: cada um por si e Santo Mark Zuckerberg por todos nós.

Assim, qualquer infâmia repercute. Basta uivar uma merda que a alcateia faminta se encarrega de defecar nos trend topics. Uma espécie de fascismo com pele de cordeiro.

60% da receita publicitária do Facebook é a-agência

O Facebook faturou no ano passado 1.86 bilhões de dólares em propaganda. Para uma empresa que ainda usa fraldas, é um resultado e tanto. Se esse número não chega a embevecer as megacorporações da mídia, o que impressiona é que 60% desse resultado é a chamada propaganda self-service, portanto sem agência de propaganda alguma no meio.

Em Nova York, depois que os fast-foods viraram o capeta da supercalórica fome americana, a nova tendência de comida barata (sim, tendência não é só pra arroto de rico) é invenção nossa: o serve-serve-a-quilo. Pelo menos enquanto a comilança a quilo não vira alvo da nova ativista Obama. O serve-serve-a-quilo é a proeza do paga  quanto pode comer. Ideal, mas constrangedor, seria pesar o cliente antes e depois da refeição, numa espécie de success-fee. Mais ou menos como a propaganda-monte-seu-prato do Facebook.

Aqui no Brasil, a miséria é pretexto sem-vergonha. Para um certo tipo de turismo, por exemplo. Para um certo tipo de diversão. Para um certo tipo de arte. É nossa maneira de esconder e aliviar a vergonha. Dilúvio sem precedente: lá vem aquela enxurrada de ajuda voluntária. Nego mora na tosqueira: lá vem aquele desfile cheio de brilho e nobreza. Cidade horrenda e suja: grafitti é arte, gente! Mais ou menos como a propaganda-faz-de-conta das grandes marcas na Internet.

Pangloss, o profeta do “tudo está bem no melhor dos mundos possíveis” acabou pedindo esmolas, sem perna nem braço. Filosofar sem mau humor dá nisso.

Rede social: a festa do cabide

Nenhuma festa suporta penetra de porre. Mas se o abelhudo for cativante e educado, pode até virar vedete e roubar a cena.

Metida e petulante, a propaganda é a arte de se meter onde não se é chamado. Uma definição interessante para a boa propaganda é quando ela consegue tornar essa intromissão menos atrapalhada e desagradável.

Em mágicas situações, a propaganda honra o espaço que nos surrupia, ilustrando, ifluenciando e inspirando nossa rotina. É quando a sogra comenta com o genro: “Você viu aquela propaganda?”. Deve ser o que gostam de chamar de conteúdo para dar cartas de nobreza à profissão.

Tem muita gente que ainda entende que a propaganda é legítima convidada. Afinal, ela paga caro. Mas como nenhum convidado da festa recebe um centavo por isso, sua situação piora muito. Quem paga para aparecer comprou o título de nobre falido. É novo-riquismo, arrivismo, esnobismo, puxa-saquismo. O farsante não falsificou o convite, mas comprou o promoter que, se não enganou o anfitrião, ludibriou os convivas.

Deve-se portanto, estudar antes de driblar a segurança. Como se vestem, do que falam, o que olham, o que comem, como se portam os festeiros. É preciso adaptar-se ao ambiente e, paulatinamente, mimetizar-se. Só quando a confiança está ganha a sedução pode desdobrar-se diabolicamente.

Imagine agora que a festa não é daqueles convescotes cheios de interesses mascarados, em que a pose é mais importante que o discurso. Que a festa não é de firma, nem de negócio. A balada é convivial, entre amigos. A gente quer falar, fofocar, trocar, aprender. A gente quer tocar, amolengar, aconchegar, xamegar, afagar e, quem sabe, kcuf kcuf no final. Ou, mais careta, o  encontro existe para suprir a necessidade de sobreviver na selva do drama humano, de se segurar uns aos outros, de se atribuir relevância existencial, mesmo que fugaz, de se espelhar, de se dar gozo, de se consolar no próximo.

Imiscuir-se nessa barafunda de desejos e pulsões potencializa o desafio do penetra. Afinal de contas, o malandro tem interesses escusos. E muitas vezes quer vender enciclopédia a analfabetos.

Podemos chamar essa festa de rede social e pouco importa se ela é virtual ou presencial.

Já se disse que o prodígio do capitalismo acnegênico, Mark Zuckerberg, inventou o Facebook porque não comia ninguém. Essa é a poética das redes sociais: quem participa tem fome.

E que diabo pode uma marca patrocinar nessa suruba de potencial ou de direito?

O erro clássico consiste em nutrir a quimera de achar que nas redes sociais as marcas podem, mais naturalmente, integrar-se, fazer parte, ser atrizes antes de agentes. E a tentação é grande porque festa mais barata parece catraca livre.

Não é bem assim porque as marcas são e sempre serão, qualquer que seja a plataforma de comunicação, de agora ou daqui a pouco, intrusas.

Os esforços mais bem-sucedidos são eminentemente promocionais e como reza a ortodoxia do marketing, esse P custa muito caro.

Se uma marca não consegue intrometer-se com delicadeza, educação, inteligência e criatividade na televisão, por exemplo – festa bem mais família e comportada – não é nas redes sociais que ela vai conseguir resolver sua prática canhestra de catequese, convencimento ou engajamento. Se ela não consegue,  nas mídias ditas tradicionais, conter a gritaria, a demonstração piegas, a apelação batida, nas redes sociais a truculência fica ainda mais ridícula. E cara, caríssima, carissíssima.

É quando a tendência, sempre excitante, mascara a ferida.

Artigo originalmente publicado no Meio & Mensagem de 17/01/2011

Orkut X Facebook em Cajamarca

De um lado, o velho comandava sua pequena força de sessenta cavaleiros e cento e poucos homens a pé. Do outro, o imperador pimpão à frente de um exército de 60 mil homens.

Por que Pizarro venceu Atahualpa, em Cajamarca? Cansados soldados venceriam um exército 400 vezes maior, bem alimentado, defendendo sua própria terra e seu Deus Soberano? Estratégia e desespero poderiam dar cabo de um império que dominara seus inimigos de forma implacável?

As probabilidades, felizmente, não explicam tudo. Muito menos a Wikipedia.

Mas a história é bem conhecida.

Pizarro tinha maldade no coração: convidou o imperador para parlamentar e o fez prisioneiro. Recebeu resgate riquíssimo mas descumpriu o trato e matou Atahualpa.

Mas Pizarro é um acidente de percurso que, com boa vontade, só acelerou em poucos meses a vitória. A Espanha teria aniquilado o império Inca com ou sem Pizarro.

Os brancos tinham eficientes montarias – os cavalos – armaduras resistentes – de aço – armas poderosas – com pólvora.

Dizem que o Facebook (4% de penetração) cresce no Brasil a taxas de 400% ao ano. O Orkut (40% de penetração) pula de 30% em 30%.

O Facebook tem os milhões do Goldman Sachs, e o Orkut, a soberania preguiçosa do Google.

O Facebook tem a fanática evangelização Yankee. O Orkut come pão de queijo, sem pressa.

Ainda torcemos, mas já vimos esse filme em Cajamarca, quase 500 anos atrás.

Mark Zuckerberg inventou o Facebook porque não comia ninguém

O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, é um exemplo de como não é preciso ser um gênio para ter boas ideias. Ou vai ver ele só posa de loiro burro para as plateias que o aplaudem. Outra possibilidade é que só inventou o Facebook porque tinha tanta espinha que não pegava ninguém.

O desespero é a melhor inspiração, a melhor incubação de ideias bilionárias.

Por exemplo:

–  Sabe aquele desejo desesperado de um cigarro às 3 da manhã? Parece que o mundo inteiro está em coma e você ali, subindo pelas paredes. Vale para um chocolate, uma camisinha, um anel de noivado, ou outros vícios lícitos e ilícitos. O Midnight Desperate é uma rede social na qual você publica quanto você é capaz de pagar para receber em casa o consolo desejado. Você faz o lance reverso e espera que uma alma caridosa (ou gananciosa) venha lhe socorrer (ou espoliar). É simples, eficiente e permite uma série de aplicações que qualquer roteirista de Polishop é capaz de inventar.

– Você está numa reunião, num workshop sonolento e percebe uma agitação incomum a poucas cadeiras da sua. Pessoas sorriem e parecem se divertir sem mesmo se falar. E você ali, viajando no Power Point. O Steal Smiles é um aplicativo que permite instantaneamente escanear todos os SMS enviados em um raio de poucos metros através do bluetooth do seu celular. Serve também como delação e escuta sigilosa.

– Você recebe dezenas de respostas por e-mail por dia que te fazem perder um tempo louco explicando novamente o que você já havia dito. Na grande maioria dos casos, não se trata de burrice do remetente, mas de leituras precoces. O Re-read é um aplicativo instalado nos servidores de e-mails que só permite apertar a tecla reply quando o receptor da mensagem tiver lido duas vezes o e-mail recebido. Para os mais tapados ou distraídos, podem ser escolhidas mais de 2 leituras obrigatórias.

– Você está numa festa e alguém vem comentar com você a última fofoca que grassa sobre uma celebridade ali presente. Você não faz a menor ideia do que ele está falando nem de quem. O Celebrity Scan é um aplicativo de iPhone que fotografa pessoas e, como os identificadores de música tipo Shazam, através da consulta a uma base de dados People, lhe dá as informações básicas: nome, idade, quem já comeu e quem está comendo. O Celebrity Scan também pode ser usado para aquele “grande amigo” de quem você esqueceu o nome que lhe cumprimenta com entusiasmo.

– Você recebe toda hora currículos fantásticos cheios de títulos, cases e indicações. Mas não consegue se decidir a dedicar tempo para um tête-à-tête com os candidatos para preencher a vaga. O Social Network Clipping é uma base de dados que seleciona os melhores momentos das postagens das pessoas nas redes sociais. Os posts são divididos em categorias, como “constrangimento extremo”, “tagarelice compulsória”, “tudo pela fama”. É muito útil também para criar categorias humorísticas nos seus grupos de amigos nas redes.

– Você está ali olhando as fotos de vítimas potenciais. Ou, simplesmente, quer ver a cara de quem está te seguindo ou adicionando. O Dephotoshop, como o nome indica, é um aplicativo que permite eliminar efeitos embelezadores. É muito útil também para desmascarar seu amigo que jura de pés juntos que nunca tingiu o cabelo, nunca fez plástica, nem lipo.

– Você está de bobeira e resolve ler os feeds em alguma rede social. Começa a ler um monte de baboseira velha que aumenta sua repulsa à mediocridade da humanidade. O Já Vi Mané é um botãozinho que você clica para qualificar os posts. Mais divertido que curti e não curti, também pode ser usado na opção Anonimyzer. Na mesma pegada, tem o botão Arrependi, quando você posta e percebe instantaneamente a imbecilidade que você acaba de enviar para seus trocentos seguidores. Ainda tem o aplicativo Descompra para sites de e-commerce, quando você se lembra de que já entrou no cheque especial ou que a pessoa que você mais odeia tem aquele mesmo tênis que você acaba de comprar. Tem também o Xaveco Rating, que é um classificador de xavecados nas categorias Bom, Regular, Péssimo, Só quer papo e A perigo.

E por aí vai.

Exercite o desespero. É o melhor conselheiro para sua gana pecuniária.

Quem tem medo do espelho?

Quantas vezes não gaguejamos de dúvidas, muitas vezes inconfessáveis, sobre a qualidade do que produzimos?

Desenhistas seguram seus desenhos na frente do espelho para apreciar o resultado. Músicos fazem gravações para avaliar sua interpretação. Desencarnar-se da criação é um ato violento, mas emancipa o julgamento.

Outro jeito é submeter-se à apreciação dos demais para formar a imagem. Todo sufrágio avaliza a qualidade. Só os elogios ou perjúrios dos semelhantes é capaz de julgar.

Quem é mais sincero? O espelho ou o outro?

Você faz careta para seu reflexo ou pose para as fotos?

Depende da patologia social, e a atual aposentou o espelho cruel.

Likes no Facebook, seguidores no Twitter e número de conexões nas redes sociais são as novas patentes do século.

Se a sociedade de consumo entronizou a massa, a sociedade da informação beatificou a fama quantitativa.

Quando qualidade vira número, a autoimagem perde importância; a individualidade, o sentido, e toda criação vira mash-up, remix vulgar, mínimo denominador comum.

Twitter is tiny in Brazil and Facebook is tinsy

Contra dados não há argumentos e a favor dos dados há manipulação.

Outro dia, divulgou-se que o Facebook na Índia já tinha ultrapassado o Orkut, mercado em que a rede social do Google também é muito popular. Precipitaram-se os analistas precoces e já declararam que isso era uma tendência. Precipitaram-se os trend-addicted para dizer que já já o mesmo aconteceria no Brasil. Berraram o sepultamento do Orkut, todos os parvenus da mídia.

O Facebook tem penetração altíssima entre jornalistas e publicitários. Isso é fato. Facebook is huge in the marketing market in Brazil: Correta a afirmação. Já no Brasil, são outros quinhentos, e o Facebook rasteja penosamente para fora do erro estatístico de qualquer pesquisa.

Agora alardearam que o Twitter tem uma penetração monumental no Brazil. Só se for nesse Brazil com Z, porque no nosso, só é grande a tagarelice dos twitteiros tupiniquins porque dizem que temos o maior número absoluto de postagens do mundo.

A pesquisa que anuncia uma penetração do Twitter de quase 25% considera também a população de pessoas com acesso à Internet no Brazil (com Z) em pouco mais de 40 milhões. Mas o Brasil só tem Z para quem pontifica sobre o país de binóculo embaçado.

A população com acesso à Internet no Brasil (com S), essa sim é huge. Deve beirar os 90 milhões. É mais huge ainda se ponderarmos pela renda per capita brasileira. Nesse caso, deve ser a maior do mundo disparado.

Então ficamos assim: o Twitter tem penetração tiny no Brasil com S e só é huge mesmo, por enquanto, na teeny-weensy população de quem cacareja no twitter para seu teensy grupo de seguidores.