Em uma pesquisa rápida (e totalmente não científica) nesta plataforma, percebe-se que uma boa parte dos currículos postados incluem, com destaque, dois tipos de predicados muito valorizados. O primeiro diz respeito ao que chamarei aqui de Person-to-watchismo, e o segundo, apelidarei de Palestrismo.
O Person-to-watchismo compreende aqueles predicados, doravante profissionais, que consistem em anunciar um destaque em perspectiva. É uma espécie de por vir, de promessa, de “honoris-futuri-causi” (em uma livre vulgata do latim) ou, mais precisamente, de qualidade de ser um potencial. Em tempos de redes sociais, é uma distinção que significa, para a pessoa autointitulada, que esta precisa se provar uma “metralhapostadora” de conteúdos autoelogiosos. Para os demais, o Person-to-watchista deve ser seguido e julgado com a mortífera sentença dos analytics de emoticons elogiosos.
Resumidamente, se você é um Person-to-watchista, significa que não chegou lá ainda, que continua na fila do pão. Mas está quase.
Já o Palestrismo quer dizer que você chegou aos píncaros da glória. Que você já é um exemplo a ser seguido, que já pode reivindicar citações e, por que não, como ex-presidentes norte-americanos, uma biblioteca em seu nome. O Palestrista costuma falar na primeira pessoa do presente para narrar sua biografia: “em 1990, eu crio minha primeira start-up”, “em 2000, ganho meu primeiro prêmio”, “em 2010, conquisto meu primeiro milhão de seguidores”. O Palestrista justifica todas as suas opiniões, visões de mundo, valores e conquistas à luz de sua própria trajetória. É porque ele nasceu onde nasceu, comeu o que comeu e sofreu o que sofreu que ele palestra. O seu suor, emocionante e exemplar, é o que lhe dá cartas de nobreza do direito à palavra.
Resumidamente, se você é um Palestrista, significa que o comércio de sua vida tem muito valor, e suas ideias também. Mas menos.