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Ninguém segura os babuínos

Quando o ser humano era nômade e vagava desorientado em busca de alimentos pelas terras ermas, o sexo não existia e muito menos a monogamia. O ato sexual, ainda que é provável que já fosse gostoso, era um reflexo aleatório que garantia a perpetuação do rebanho. Quem já viu um grupo de babuíno solto, trepando como respira com quem aparecer na frente, tem uma boa imagem dos hábitos reprodutivos dos nossos ancestrais.

Alguns infelizes resolveram fixar-se à terra, plantar, construir habitações duráveis. Era economicamente mais interessante e principalmente era menos cansativo. A preguiça é uma qualidade atávica da espécie. Não sair do lugar também significava conviver sempre com os mesmos objetos sexuais. A variedade incidental, descompromissada, leve e livre deu lugar a experiências mais comedidas, restritas e monogâmicas. De vez em quando, os babuínos que nos habitam soltavam a franga, mas eram reprimidos.

Depois veio o casamento, o amor, o amor romântico e tudo que já conhecemos, até que a morte, a traição ou o divórcio nos separe.

Hoje é assim: em 10 minutos a gente encontra um parceiro, em 10 a gente se encontra, em 10 a gente trepa e em 10 a gente swipa para outro.

Os babuínos se soltaram dentro de nós.

Cinismos à parte, o que será feito dos relacionamentos em uma selva tão abundante e promíscua?

Pois talvez, talvez, uma coisa será uma coisa, outra coisa será outra coisa. Relacionamento será uma coisa, sexo será outra coisa. Trepar será uma coisa, às vezes em relacionamento, outras sem, e tudo ficará bem.

Enquanto isso não acontece, boom-boom-boom, swipe.

Sexo virtual, fim de papo

Muitos anos atrás, uma revista bacana me convidou a colaborar. Aceitei o tema livre de imediato. Resolvi falar sobre comportamento online. No primeiro artigo, recebi a seguinte avaliação: “nosso leitor é uma pessoa outdoor, que se realiza em atividades esportivas e culturais. Não curte essa coisa de computador”. Esses eram os termos aproximados do recado. Enfureceram-me confesso muito mais por ter me qualificado de troglodita digital do que pela miopia neo-hippie.

Até hoje, o hit parade dos meus artigos chama-se “namorodromos existem”. Bem que eu gostaria de ser uma espécie de Palmirinha da cibercoisa e ter compaixão e senso de humor suficientes para responder calmamente às dezenas de comentários que recebo até hoje sobre esse texto decano.

Mas hoje não tem mais polêmica ou mistério supor que muita gente – quase todo mundo – se relaciona através na Internet e que esse relacionamento ultrapassa em muito as fronteiras da decência vitoriana. Inclusive os surfistas da revista que me rejeitou.

Uma coisa é elaborar uma hipótese qualitativa razoavelmente embasada em meia dúzia de buscas, outra é escancarar um numero.

A penúltima pesquisa F/Radar de agosto de 2008 quis perguntar para os sessenta e cinco milhões de brasileiros que têm acesso à Internet no país se eles já tinham se relacionados intimamente com pessoas que tinham conhecido virtualmente e também se tinham tido alguma troca, digamos, mais intensa.

11% responderam afirmativamente à primeira questão, (segundo recente pesquisa do Ministério da Saúde, 7,3% da população adulta do país já conheceram um parceiro sexual pela Internet). Como sempre nesse tipo de pergunta embaraçosa, é de duvidar da resposta honesta. Portanto, o truque é indagar para as pessoas, na sequência, se “conhecem quem fez sexo com alguém que conheceu na Internet”. A resposta mais que dobra: 38%, ou seja, 24 milhões de pessoas. Já sobre o tal sexo virtual, 25% das pessoas (16 milhões) já fizeram ou conhecem quem já fez.

Como esse número não foi publicado em lugar algum, achei interessante divulgá-lo. Não apenas para encarnar o fantasma quantitativamente, mas simplesmente para encerrar o caso. Não interessa mais falar nesse assunto. Não é caso de vergonha pública. Só normalidade, sem interesse.

Sexo virtual.

Outro dia, a Veja publicou uma vasta matéria sobre relacionamentos virtuais. Era de se esperar que além de ser um assunto velho a análise fosse superficial, apesar das pesquisas idiotas que sempre ilustram esse tipo de conteúdo.

No entanto, no momento em que uma revista como essa dá o destaque que deu a esse assunto, o mínimo que se pode inferir é que quem estava de fora disso está completamente por fora do resto também. Em outras palavras e me perdoem o radicalismo, mas quem nunca tinha ouvido falar disso está em coma, quem se surpreende, no manicônio e finalmente quem faz cara de nojo, deve ser extraterestre. A turma do eu-hein-deus-me-livre precisa se tratar.

Muito já se falou a respeito do que rola nesse tipo de relacionamento e para resumir a minha opinião eu diria que é quase sempre muito melhor, mais franco, mais honesto, mais verdadeiro e profundo começar um relacionamento pela Internet. É também mais sadio, mais aberto, democrático e sem preconceito. Em suma, é tudo de bom.

Mas eu queria ir além e me perdoem a falta absoluta de censura e moralismo. A experiência do chamado sexo virtual também é interessante.

Tem gente que vai dizer que não é sexo, é masturbação. Sei lá. Acho que masturbação é sexo também. Beijo de língua também. Certas carícias também. Para continuar no estilo nu e cru, onde há emissão e/ou troca de líquidos, há sexo.

Pois bem, quem nunca ficou excitado com certos estímulos visuais? Há algo de errado nisso? Certamente não. É condenável? Tampouco. Agora imaginem a mesma coisa só que tendo do outro lado uma interação, visual, escrita, falada? Não parece uma evolução? Não parece mais gostoso? Vamos ser cem por cento analíticos: parece sim.

Se concordamos, vamos em frente no raciocínio.

É evidente que sexo com contato físico é infinitamente melhor. No entanto, se estamos de acordo que entre a excitação através de estímulo visual sem interação e o sexo físico existe uma etapa como descrita acima, podemos introduzir dois argumentos que a tornam iresistível, salvo para os puritanos e platonicos de plantão.

Em primeiro lugar é mil por cento seguro tanto no que diz respeito aos riscos afetivos quanto aos riscos físicos.

Em segundo lugar e mais importante, nem sempre é possível, por questões diversas, praticar sexo físico mas podemos afirmar com pouca probabilidade de erro que a vontade de exercitar as zonas erógenas é sempre maior do que a possibilidade de fazê-lo a dois (ou mais de dois). Portanto fazê-lo usando a etapa do sexo virtual parece ser a receita mais indicada e prazeirosa, ao menos até inventarem outra coisa ainda melhor.

Acho que chegamos ao final do singelo raciocínio: relacionamentos virtuais são bons e sexo idem.

Pratiquem sem medo.

Namorodromos existem.

Você está sozinho naquele senta levanta, rangendo os dentes, começando mil coisas ao mesmo tempo, arrumando as gavetas, os livros, correndo atrás do próprio rabo ou simplesmente comendo porque não consegue dormir, nem assistir TV, nem subir pelas paredes, nem se enfiar na privada. E o pior de tudo, você pode estar rodeado de gente e ainda assim se sente só, desamparado e carente. Um aperto no coração.

Os desalmados, nessas horas, saem por aí atrás de aventuras, de Vladivostok a Pindamongaba. Querem ver o mundo e da única maneira que realmente vale a pena, com pessoas. Mas como é difícil conhecer pessoas. Como é difícil encontrar pessoas. Como é difícil.

Você chega em algum lugar e fica ali observando. Aquela pessoa quem sabe? Ou aquela outra? Tipo mercadores em feira de gado. Belos dentes, belo porte, muita ou pouca gordura, velho ou jovem demais. E quando ela parece interessante ou não repulsiva demais e você arruma coragem suficiente para abordá-la, ainda lhe resta o mais difícil, falar amenidades, pousando de bacana ou intelectual, fazendo toda aquela mise en scène babaca. Com um pouco de sorte, o indivíduo em questão, ou melhor, o personagem e sua máscara, topa um algo mais. Mas o “algo mais” é só “algo” mesmo. E “algo” é pouco para quem está com o coração apertado.

Como é difícil não? A ditadura da máscara, manja? As pessoas se relacionam sempre e primeiro com as máscaras das outras. E quando a fantasia cai, geralmente é decepcionante e tarde demais.

Que tal imaginarmos um ambiente em que não há máscaras ou melhor, onde as máscaras não são fingimento? Onde estar de máscara não faz a menor diferença na relação?

Que tal um lugar em que exista um certo pudor ou melhor, em que não haja censura? Onde ser pudico ou escancarado não muda nada?

Que tal um canal em que as pessoas se relacionam não pela aparência mas pela dinâmica da linguagem verbal? Um meio em que as pessoas se falam sem se ver, sem se cheirar, sem se tocar?

E que tal pensar que isto talvez exista e que lá, todo mundo entra sem cerimonia, sem atestados de antecedentes, sem carro do ano. Um no men´s land que a ninguém pertence.

Lá, é assim: você começa a falar com pessoas, trocar convicções ou fantasias, sem hierarquia. Você entra sem protocolo e cai fora sem constrangimento. Lá, você subverte e se subverte. Não tem esse negócio de timidez nem pudor. Daí, você conhece as pessoas pela ordem inversa. Primeiro o conteúdo, depois a forma. E tudo ali, na hora, bateu voltou. Sem pensar demais, sem armar o jogo. Ainda que no começo existam máscaras mas rapidinho elas ficam sem graça, óbvias demais, falsas demais.

Pois eu vos digo: este paraíso das noites de angústia insone existe e se chama Internet. Vem namorar na Web você também. É bom demais.

Fernand Alphen

Box de Dicas:

www.netmeeting.com (vídeo conferência)
Bom para começar porque é de graça. Mas é meio fraquinho.

www.icuii.com (vídeo conferência)
O melhor de todos. Disparado. Não é tão caro assim mas é imbatível.

www.mirabilis.com (comunicador instantâneo)
Básico. Para começar e manter uma relação, esse software grátis é simplesmente indispensável.

Salas de bate papo.
Existem centenas, milhares. Todos os portais têm. É um bom começo para aquela azaração inicial. Tipo dar tiro pra tudo quanto é lado.