A merda que nos salvou

Nossos antepassados foram coletores/caçadores por muitos milenares. Nossa vida, naqueles tempos, era nômade e a busca por alimentos, nossa principal preocupação. Mas, com a domesticação de espécies vegetais nativas e animais, começamos a assentar a pança. Com o prato cheio, dedicamo-nos deliciosamente ao sexo, à busca pelo poder, às expressões individuais e mais modernamente à atividade mais característica do ser humano hoje, desde que ele parou de se preocupar com a boia: o consumismo. Daí nasceu a atividade mais característica do ócio capitalista: a propaganda.

Essa é uma breve história da nossa história, mas deu um trabalho danado desenvolver a agricultura, numa incansável série de fracassos, sucessos e fracassos. E no início tudo era muito acidental ou natural, como dizem.

Quando não corria atrás de um javali selvagem, o coletor/caçador que éramos comia umas frutinhas ou sementes. Depois do almoço, dava aquele sono e depois do sono, dava vontade de descomer. Descomíamos tranquilamente, sem suspeitar que, daquele reflexo incontrolável, surgiria o laboratório que vaticinou o nosso destino superior na Terra. Daquela produção atávica, mais conhecida como merda, surgiria, direta ou indiretamente, os nobres ancestrais de quase tudo o que comemos.

É que tem coisas que não digeríamos muito bem, principalmente sementes muito resistentes ou evoluídas. As sementes eram evacuadas junto com um material de descarte orgânico, altamente fértil, e nesse paraíso ecológico sentiam-se à vontade para germinar. Bingo para a domesticação das espécies comestíveis. A merda profética nos salvou do sufoco.

Até hoje é assim. E por que não também com a atividade mais característica do capitalismo? Nunca devemos desistir de defecar sementes evoluídas, até na merda.

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