O que o melômano sem formação teórica percebe da música são melodias e harmonias e, vez por outra, surpreende-se com as estruturas. Não por acaso, a música é popular não somente quando as melodias e harmonias são simples, mas porque as estruturas são intuitivas, sem sofisticação.
A criação publicitária ficou nesse mesmo “been there, done that” por décadas. Ainda que o pensamento tenha evoluído e “as ideias estão em toda a parte” seja um leitmotiv (planejamento criativo, mídia criativa, atendimento criativo, criação criativa), o clichê nem sempre é real.
Nas novas plataformas de comunicação, é um equívoco isolar-se das estruturas, sempre novas, que movimentam o comportamento das pessoas. A mídia display, recentemente ainda soberana, perde espaço para as novas experiências de engajamento dos consumidores. É preciso, sim, envolver-se com mecanismos mais técnicos, caso contrário a criação – como ela ainda é – não passa de decorativa.
É difícil quebrar o ritmo, chacoalhar as mentalidades calcificadas por sistemas embriagadores que funcionaram por tantos anos. Os festivais e prêmios publicitários, apesar do esforço de renovação, são o exemplo mais evocativo do vício do qual a criação publicitária clássica padece.
A menos que resignifiquemos a palavra criação publicitária, ela não passará em breve de uma especialização, uma necessária mas não crucial atividade, perdendo sua centralidade e atratividade para as marcas. Decoração versus arquitetura.
Mad Man é charmoso mas, se ainda parece que os modelos de trabalho atuais são parecidos com os da Sterling Cooper, então continuamos fazendo minuetos e sarabandas na criação publicitária.
Mas nem todos dançaram minueto, acredito que a Mary Wells dançou na boquinha da garrafa até o chão com seus case pra Braniff International, para dar apenas um exemplo.
Don Draper dança minueto » http://is.gd/BRGJXg (via @alphen)
Fernand, leia a apresentacao inaugural da nova presidenta da IPA aqui na ilha.
http://www.campaignlive.co.uk/news/1064385/IPA-president-Nicola-Mendelsohns-inaugural-speech/
Acho que o pessoal por aqui ja’ sacou isso e esta’ sintonizado com os seus argumentos.
Envolvo-me com os mecanismos mais técnicos e aprendo um pouco mais a cada dia. Juro que não sou “calcificado”. Mas continuo acreditando que “as novas experiências de engajamento dos consumidores” são só mais uma daquelas fantasias que povoam o imaginário de clientes e agências que acham que o mundo gira, e as pessoas vivem, em função de suas marcas. Não nego a importância delas – as marcas – na vida e na história. Vivo disso! Só não acredito que, como os publicitários e anunciantes ingenuamente sonham, as pessoas deixem de se preocupar com as questões mais chãs de seu cotidiano para se tornar embaixadoras das empresas que fazem propaganda. Tudo bem, às vezes. Tudo bem, por tempo limitado. Tudo bem, tem alguns que são fanáticos. Agora, ainda estou pra ver um exemplo duradouro desse “engajamento”, ou um que não dependa de um bom investimento e de uma boa ideia (ou seja, criação, portanto crucial, não decorativa). Nesta hora, a da ideia, é que se vê o valor de Don Draper.
“Don Draper dança minueto”, mais um post cirurgico do Fernand @Alphen: http://bit.ly/hFaaGr
"Don Draper dança minueto", mais um post cirurgico do Fernand @Alphen: http://bit.ly/hFaaGr
Don Draper dança minueto « Fernand Alphen’s Blog http://t.co/teSfsUK via @alphen