Prometeu não roubou a Internet do Olimpo

E se voltássemos por um instante à pergunta original: o formidável avanço das comunicação encarnada pela Internet, fez ou faz um mundo melhor?

Se pouco importa a intenção diante do fait accompli, se o mundo ficou pequeno da noite para o dia, não é fútil colocar as tendências em perspectiva, nem que seja para não cair num banal entusiasmo de primeira viagem, nem que seja para não alienar o poder de transformar. O que inventamos, desinventamos ou melhoramos. É só querer. Nenhum Prometeu roubou nenhuma Internet do Olimpo.

Qual o fogo, a Internet é um instrumento. Qual o fogo, aquece e queima. Qual o fogo, ilumina e cega. Qual o fogo, depende do cérebro para ser bom ou ruim.

Antigamente, algo acontecia do outro lado do mundo e depois de meses e incontáveis filtros chegava em outras praias. Quando a comunicação tornou-se instantânea, o tsunami lá longe, bate na nossa bunda no mesmo instante.

Da mesma forma que um medíocre documentário faz soluçar centenas de milhões de ingênuos mundo afora, a sede de vingança no Iraque explode bombas no ocidente. Da mesma forma que todas as notícias do mundo estão a um clique de distância, as fontes de informação preferidas são os 140 caracteres do vizinho.

O homem, afinal de contas, não mudou grande coisa. Só vive mais tempo mas continua não enxergando muito além do seu próprio nariz.

No entanto uma coisa esquecemos: o tempo é o melhor conselheiro.

Se a Internet encurtou o tempo, ela também atrofiou o tino.

Se pudéssemos ao menos nos dar um tempo antes de reagir, talvez fossemos menos escravos de nossos instintos. Se pudéssemos ao menos nos dar um tempo antes de responder, clicar, curtir, espalhar, talvez não responderíamos, clicaríamos, curtiríamos, espalharíamos.

O que é bom pode esperar. O que é ruim pode ser jogado fora. E entre o bom e o ruim, melhor dar tempo ao tino.

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