Propaganda de causa e o Padre Nosso

Nem sempre interessa falar o que interessa. Interessa pensar no planeta? Pensar sim; fazer, um pouco; falar, nem tanto. Interessa pensar no futuro do sistema? Sim, um pouco, nem tanto. Interessa ser transparente, aberto, interessa ouvir, engajar, transformar? Sim, um pouco, nem tanto.

Porque boa parte da nossa vida passamos na gangorra entre o medo e a culpa, é muito mais natural tergiversar, perorar e procrastinar. E a propaganda, quando trata de assuntos sérios, é a arte vaga da evocação sutil. Tão sutil, tão sutil que só percute quem fez ou quem mandou fazer. Os outros, aqueles para quem ela se dirige, os mortais comuns, consumidores, cidadãos, essas campanhas de causas são lindas retóricas para substituir a preguiça.

Temos medo do futuro, dos futuros, do homem como espécie dominante, do planeta como éden provedor, do país como pai protetor, do próximo e do distante. E temos principalmente medo de sobreviver a um átimo de mudança. O homem é de natureza conservadora e os Estados e as empresas que nos regem, reacionários.

Mas temos culpa. Culpa dos privilégios, culpa da realidade que sempre pode ser pior, culpa original. Culpa de ter votado, de não ter votado, culpa de ter pensado, culpa de não ter pensado. Culpa da mais valia, culpa da malandragem, culpa do mau presságio, culpa da maledicência.

Por isso, fazemos propaganda, uma espécie de penitência de confessionário: “Senhor, eu pequei. Quantos Padres Nossos?”

Quando o assunto é mudar, é falar a verdade sem rodeios publicitários, é eliminar o que sabemos que faz mal, nas mensagens e nos produtos, quando o assunto é não iludir propositalmente, quando o assunto é sério assim, para que a pressa em falar?

Então talvez – vencidos os medos e as culpas – a propaganda tenha que ser a última e facultativa das teclas  a ser premida. Primeiro deve-se entender, diagnosticar, desenhar cenários, armar-se, lutar. É  necessário saber como, com que vontade, com que poder, com que paciência estamos realmente querendo mudar, transformar, unir-se, liderar.

Propaganda é fácil e não muda nada.

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