Fazendo mais pior

A crise de desatenção – as mensagerias que pipocam, os feeds que desfilam rapidamente, o seriado que nos persegue, o poderoso Pokémon que mostrou o nariz – é efeito e não causa do tenso peso de viver.  E isso sem falar da vida de sempre, das contas, dos compromissos, da saudade.

E porque somos limitados, se o esforço se multiplica, a qualidade se divide. Fazemos cada vez mais, cada vez pior.

Vivemos em tempos de cobrança por performance. Ver tudo, responder a tudo, saber de tudo, reagir a tudo. Quem dorme no ponto, quem desliga, quem se ausenta e mesmo quem acha que escapa em outras viagens de consciência, retorna devendo. E caímos de novo na ciranda, para recuperar o tempo perdido.

Recuperar? Tempo?

Certa vez, meu pai confortou um doente nos cafundós da Amazônia. Seus cuidados de homem instruído soaram como uma bênção médica aos familiares impotentes. Meses depois, retornando àquele fim de mundo, teve com a esposa do doente. Ele tinha falecido. “Sim Doutor, ele morreu alguns dias após a sua visita. Mas Doutor, ele morreu tão melhorado!”

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