Kiesler ou Lamarr?

Você está muito provavhedy-lamarrelmente segurando uma caixinha delicada que, além de te fazer conhecer mulheres incríveis aqui no FFW, também ajuda a ser mais pontual nos seus compromissos, a se sentir seguro com seus muitos desconhecidos amigos, não te deixa esquecer um único aniversário nem uma conta para pagar e muito menos a sua mãezinha do coração que adora ouvir o que você fez de manhã, de tarde e de noite, uma vez por dia.

Você deve imaginar que essa coisinha maravilhosa, mais conhecida por celular, sem a qual você não vive foi inventada por um nerd de óculos e espinhas, que desmanchava seus relacionamentos amorosos por total incapacidade de conversar, que não tinha quase nenhum amigo, nem contas para pagar, tinha acessos de introspecção criativa que duravam longos meses sem banho nem barbeiro e ligava para a mãe de manhã, ligava de novo à tarde e mais uma vez à noite e antes de dormir também.

Esse gênio poderia ser austríaco, filho de uma legítima jewish mama, ter feito seu début científico provavelmente para a aviação na segunda guerra mundial, se chamar Hedwig Kiesler e emigrar para os Estados Unidos para fugir da perseguição onde continuou sua obra ao sol da Califórnia.

Poderia, só que esse que queremos homenagear não era um nerd, era uma nerd. Uma nerd que passou a se chamar Hedy Lamarr e foi trabalhar no cinema, do jeito que os estúdios dos anos 40 (e certos presidentes) viam as atrizes: estonteantemente lindas, dóceis e burras. Casada 6 vezes, e viciada em operação plástica, suas interpretações lânguidas e olhares hipnóticos estavam muito longe da imagem que se faz de um gênio tecnológico: estonteantemente feio, chato e inteligente.

Fugindo do primeiro marido austríaco doente de ciúmes com a participação da esposa na primeira cena que explora a sensualidade feminina no cinema (mais inocente que qualquer beijo de shopping-center), levando, é claro, todas as suas joias, Edwig Kiesler, aliás Hedy Lamarr, instalou-se em 1938 em Hollywood onde estrelou, por exemplo, Sansão e Dalila entre muitos outros sucessos. Ela foi considerada por seus milhões de fãs a mulher mais linda do mundo.

Mas pelo jeito, Hedy ficava entediada com o esforço de posar de maravilhosa e, nas horas vagas, voltava a ser Kiesler. E, como todo Kiesler que se preza é cientista, ela inventava, como, por exemplo, o frequency hopping (que idealizou com o compositor George Antheil, autodidata como ela). A invenção que deu origem ao desenvolvimento do celular – coinsinha maravilhosa – e do wifi, tinha como objetivo auxiliar os torpedos teleguiados a passarem desapercebidos dos radares. Ela tinha aprendido muita coisa apenas observando os negócios de seu primeiro marido com o exército nazista. Hedy, pró-americana convicta, ofereceu a invenção à marinha que só iria utilizá-la de fato, anos depois, na crise cubana, quando a patente já tinha vencido.

Nada mal. Mas quer mais? Então dizem que ela também inventou um produto muito parecido com o Sonrisal, muito antes dele aliviar nossos abusos digestivos.

Artigo originalmente publicado no FFW

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