Santa Genoveva, Emile Glöge, Peggy Roche e Audrey Munson

landowki-sainte-genevieveNo sítio de Paris de 451, os temidos Hunos estavam prestes a ocupar a cidade subindo o rio Sena. Genoveva, notável membro do parlamento da cidade, convoca a população apavorada: “Que os homens fujam, se quiserem, se não forem capazes de lutar. Nós mulheres ficaremos e suplicaremos sozinhas a Deus”. A história não conta se os homens permaneceram, o que se sabe é que Genoveva se instalou sozinha na ponta de uma ilha para fazer prova de que a população estava pronta para a luta. Os sanguinários, assustaram-se com a corajosa aparição e fugiram dali para nunca mais voltar.

Genoveva virou santa e foi a musa que inspirou o escultor Paul Landowski (o mesmo do Corvovado) para a estátua do Ponte de Tournelle sobre o Sena.

Emilie Glöge você também conhece: ela foi a amante de Gustav Klimt (obrigado à leitora Daise Daiane pela dica). Ela está retratada em várias obras do pintor, dentre as quais o luxuoso “Beijo” que alguns críticos mal-amados viram como uma representação da submissão feminina mas que é uma quase lisérgica intepretação da união de duas pessoas apaixonadas. Emilie foi mais do que uma modelo que se entrega em poses encomendadas, ela era uma renomada estilista em Viena e incorporou na moda todas as tendências avant-garde.

Emilie não foi só a amante do grande pintor, foi a musa que, graças a seu estilo, com simetrias geométricas bizantinas, constituiu a tela de fundo da originalidade de Klimt.

Peggy Roche foi uma estilista ícone da revista Elle francesa na década de 50/60. Símbolo do chique parisiense, com seu look delicadamente masculino, Peggy desfilou para Givenchy e Guy Laroche, antes de conhecer a grande romancista feminista independente Françoise Sagan (Bonjour tristesse) e virar sua amante por 20 anos. Mais tarde, Peggy lança sua marca que lamentavelmente não sobrevive à sua preguiça comercial.

Peggy era uma musa e um esteio para a escritora que, pulando de crises de desintoxicação para crises de nervos, contava com a amante para ressuscitá-la. As duas estão enterradas lado a lado desde a morte de Sagan, em 2004.

As musas são mediadoras entre o divino e criador. Musas não são entes passivos, nem mandados. São entidades que através de suas habilidades específicas acendem e iluminam os artistas.

O criador, em transe, precisa ser tomado pela musa – ser divino, polimorfo, assexuado – para conceber.

Audrey Munson, que você talvez conheça pelas suas várias estátuas em Nova York (como por exemplo na frente do hotel cafona-glam Plaza, na ponte Manhattan ou em frente da biblioteca pública da cidade) foi uma modelo inspiradora. Sua vida, contada em “A maldição da beleza” de James Bone é uma aventura rocambolesca e triste. Além de ter sido a primeira atriz a se despir no cinema, Audrey, que nasceu em 1891, foi o maior frisson dos ateliers americanos. Seu corpo foi imortalizado nas curvas evanescentes do gosto belle époque mas sua vida terminou de forma melancólica em um asilo psiquiátrico onde permaneceu por 60 anos.

Musa e modelo não são a mesma coisa embora, muitas vezes hipnotizados, costumamos dizer que tal modelo é musa.

Modelos como tantas Audrey só inspiram.

Musas como Genoveva, Emilie ou Peggy inspiram e possuem.

Colaborou para esse artigo Renato Duo
Originalmente publicado em FFW

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook