A verosimilhança da mentira

A relação entre a moda e a propaganda se estabelece num ambiente que vai da harmonia contagiante à promiscuidade venal. Tudo depende do que se entende por moda e por propaganda. No entanto, é óbvio que são parceiros com afinidades inequívocas.

Mas, se a moda é a expressão mais sensível do que é tendência, a propaganda é sua tradução popular, as fronteiras se estabelecem com mais clareza. A Moda por ser lançadora, se excita com o risco. A Propaganda por ser seguidora, curte transar com certezas. O que não significa, claro, que a moda despreze as certezas e a propaganda o risco. É uma questão apenas de proporcionalidades.

É um pouco por isso que os publicitários muitas vezes enxergam os estilistas através de um olhar que mescla deslumbramento e desconfiança. Do outro lado, o estilista vê os publicitários como oportunistas bem-sucedidos.

Isto posto, associar as marcas – as grandes marcas de consumo – com a moda – a grande moda – é uma tentação tanto do lado de cá quanto do lado de lá. Do lado de cá porque “pode dar um pouco de glamour a minha marca” e do lado de lá porque, “quem sabe não me ajuda a ficar rico?” Se esses forem os pensamentos inconfessos, o amor vai ser conflituoso, sempre.

Mas quem nesse mundo curte um relacionamento papai-mamãe, todo bonitinho, certinho, amorzinho pra lá, amorzinho pra cá? Quem no mundo não curte uma certa malícia, um pouco de pimenta, vide canalhice?

Não há nada de errado em ver a top afirmar que ama usar sabonete popular, tampouco a sandalia dizer que foi densenhada pelo super hiper hypado estilista.

Tudo depende da verosimilhança da mentira.

Cabe às marcas e à moda, dosá-la, com o necessário cuidado: o consumidor médio, por mais simples, pobre e desinformado que seja não é bobo. Agora, que a proporção de idiotas nos provadores das lojas de luxo é assombrosa, isso é.

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