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Se tá barato, eu preciso

Por que diabos tem tanto guarda chuva nesse voo? É moda apoiar-se nele com nonchalance pra ver o povo desfilar na Oscar Freire?

–       Moça, o que são esses guarda chuvas?
–       Como, você não sabe?
–       Não. Perdi alguma coisa?
–       Sim, a liquidação da Victoria Secret.

Três garotas conversam animadamente ao meu lado, como se tivessem saido de um encontro tupiniquim de Sex in the city.  Ah, estão planejando momentos idílicos em Nova York. Eis então que sacam do guia da cidade, um xerox. Deve ser alguma dica preciosa. Alongo o olhar para um mapa do Outlet de New Jersey todo marcado com as estações da procissão projetada: Mac, Prada, Gucci, Lacoste, Vicotria Secret, claro.

As pessoas não vão mais aos Estados Unidos, se é que algum dia foram. Vão ao mall mais barato e diverso do planeta para os brasileiros.

De quebra, aproveitam um museuzinho básico para o alibi cultural. Ou um restaurante hip para criticar os preços de São Paulo. Ou um musical da Broadway para poder dizer “só os americanos!”.

Mas são as malas transbordando de inúteis utilidades que vão dar a confortante sensação de que afinal de contas nós  somos eles amanhã.

Um Novo Brasil e uma Nova América

Restaurante em Nova York. Na mesa ao lado, a mesma face de moedas de latitudes opostas conversam.

O primeiro é brasileiro, novinho-rico.

Não confundir com o novo-rico, esbanjador descontrolado, nem com o novo-riquinho, filho deste. O novinho-rico acabou de ganhar algum dinheiro, ainda dá um duro danado e já projeta seu status futuro em todas as falas.

Nosso espécime vomita manchetes da revista Exame, pontua banalidades econômicos e na falta de pontos de exclamação, abusa dos gestuais para suprir seu vernáculo primitivo. Por isso sua.

Do outro lado, o sujeito é americano, benzinho-nascido.

Não confundir com o bem-nascido, discreto mas empinado, nem com o bem-nascidinho, seu neto. O benzinho-nascido tem a grana necessária para o clube de golfe e as férias no Colorado, mas não suficiente para viver de pijama.

O Yankee é treinado para ouvir sem dar atenção, aquiescer sem concordar, franzir o cenho sem enrugar. Por isso finge.

O primeiro, de moleton comprado em outlet de New Jersey, quer o status presumido do segundo.

O segundo, de gravata amarela e lenço bem dobrado no bolso, quer a grana suposta do primeiro.

Apesar de completamente diferentes são idênticos na essência: ignorantes, preconceituosos, provavelmente machistas, certamente de direita.

O primeiro é o novo Brasil, trabalhador arrivista. O segundo é a nova América do Norte, esnobe interesseira.